31/01/05

COISAS MINHAS - 4

VERÃO

para a Soledade
O que há de novo na tarde
Verdadeiramente tarde
Verdadeiramente terna
É este gosto novo de cantar
É esta fome absurda de verão
(Amélia Pais)

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30/01/05

DO FALAR POESIA - 7



A poesia numa obra é o que faz aparecer o invisí­vel.

(nathalie sarraute)


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29/01/05

INESIANAS - 5


Margem da Alegria
(excerto)


Que tudo o mais se esqueça na presença do mosteiro de santa maria de alcobaça]

(...)

É a maior igreja portuguesa e alicerça essa grandeza
nas três naves que no silncio talha com a precisão de uma navalha
e na grande desproporção o entre a pouca largura e a altura

(...)

No túmulo deitada inês parece a própria placidez
ela que em vida ouvindo alguém chamar
julgava respirar esse cheiro envolvente português
dos laranjais e jamais o da nave donde nunca mais
havia de sair não já para criança inaugurar
o dia a dia o vasto espaço onde cada folha
dos plátanos a até canas e oliveiras
valem humidamente mais do que a melhor palavra minha
mas sim ver só o sol inevitável renascer
da morte e vir tal como ela de castela com o vento

(...)

Que sei pergunta ela para sempre imóvel
no túmulo de pedra inamovível que sei eu desse homem tão instável
mais triste e mais sozinho quanto mais alegre e rodeado
que ao dar-me um outro nome como que me deu um novo ser
e a quem toda me dei como se dá em parte na arte alguém mais que no amor

(...)

Eu canto os amores e a morte a apoteose e a sorte
dessa que tão horizontal em pedra jaz e esse pedro neto desse trovador de quem se diz
que sempre dom dinis fez o que quis

(...)
Na igreja abacial de santa maria de alcobaça
os que em vida se amaram para sempre se juntaram
No cruzeiro de pedra poisam hoje os dois moimentos
dois poemas em pedra onde em quarenta e seis edículas se narra
a história desse amor às vezes alegria quase sempre dor
amor ptreo de pedro que prepara para inês esse alvo leito em pedra
pois morta a sua amada mais n´~ao pede já por ela
e assim o seu moimento fez poer acerca do seu dela
em tudo semelhável para dela sempre se membrar
quando se aqueecesse de morrer
E na dureza desses dois sarcófagos escreveu o escopro
o que somente a agulha pode pôr no bastidor
ou um buril pode imprimir no ouro
para que na memória dos mortais reinasse
aquela que do ânimo de pedro fora
dominadora dama absoluta senhora

Ruy Belo, A Margem da Alegria, Editorial Presença, Lisboa, 4? ed, 1998




Obs.: A Margem da Alegria é um longo poema que constitui por si só um livro. Desse livro seleccionarei mais alguns excertos, lembrando que recentemente foi editado o livro/poema, incluindo a declamaaçãoo do mesmo por actores da Cornucópia em 2 CDs. Edição Assí­rio e Alvim,Lisboa, 2004





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O PRAZER DE LER - 4



Os livros


Dos séculos me chegam estas vozes
e de tantos países!
Quando cantam,
uns falam dos mistérios da natura;
outros me acordam para a vida e a morte;
ou cantam de altos feitos, recordando
as eras já passadas; outros brincam,
esqueço a tristeza, fazem-me sorrir.
Alguns há que me ensinam a sofrer,
a não sentir saudade, a conhecer-me.
Mestres me são de guerra e paz, do esforço
posto em criar, e de arte no dizer,
e de viagens sobre o mar profundo.

Petrarca, Epístola latina a iacomo Colonna
(trad.de Jorge de Sena)

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DO FALAR POESIA - 6


Sê paciente; espera


Sê paciente;

espera que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça

(Eugénio de Andrade)

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28/01/05

COISAS MINHAS - 3



Vi
No fundo do mar
Algas salgadas
Grandes e tristes

Dói
Saber
Que há algas
Grandes e tristes
Dentro do mar


(Amélia Pais)

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OS MEUS POETAS - 6



QUANDO HÁ LUA

Quando há lua e as mulheres passeiam de vestidos floridos,
Espantam-me os seus olhos, as suas pestanas e toda a ordem do mundo.
Parece-me que de tão grande e mútua atracção
Podia, enfim, resultar a verdade definitiva.


(Czeslaw Milosz em Alguns Gostam de Poesia)

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27/01/05

O PRAZER DE LER - 3


Descobri que a leitura é uma forma servil de sonhar.
Se tenho de sonhar, porque não sonhar os meus próprios sonhos?


(Fernando Pessoa)





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26/01/05

DO FALAR POESIA - 5



O mais perfeito dos sons humanos é a palavra.
A poesia é a forma mais perfeita da palavra.


Han Yu (768-824)

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INESIANAS - 4



Linda Inês, Inês de Manto

Teceram-lhe a manto
para ser de morta
assim como o pranto
se tece na roca

Assim como o trono
e como o espaldar
foi igual o modo
de a chorar

Só a morte trouxe
todo o veludo
no corte da roupa
no cinto justo

Também como o choro
lhe deram um estrado
um firmal de ouro
um corpo exumado

O vestido dado
como a choravam
era de brocado
não era escarlata

Também de pranto

a vestiram toda
era como um manto
mais fino que roupa.

(Fiama Hasse Pais Brandão)

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25/01/05

COISAS MINHAS - 2


assim...como uma espécie de conto

«Verde que te quiero verde»
(federico garcia lorca)

Era uma vez uma menina que vivia num castelo perto do mar.
Ela vivia só e passava os dias olhando para o mar.
Um dia, de tanto olhar o mar, começou a ficar verde verde, até que se confundiu com uma alga.

Passou um pescador e,julgando que era uma alga , apanhou-
a.

Ao ver que não era bem uma alga e que chorava, levou-a para a sua cabana.
Aos poucos a alga foi-se tornando castanha e mais tarde retomou a sua cor natural.

O pescador começou então a ficar muito triste porque a sua alga parecia sempre inquieta,desassossegada,- ela desejava o Longe, e ele sofria de não poder mais tê-la com ele, mesmo quando lhe dava o seu melhor peixe para ambos cearem.

Um dia perguntou-lhe: - porque pensas sempre no que não está contigo e mora no longe e na distância?

A alga, já menina, pediu-lhe para a levar de regresso ao seu castelo e à sua solidão.
Ela gostava do pescador, que era bom para ela, mas faltava-
lhe poder estar sozinha junto do mar.
Tinha saudades.

O pescador, então, embora lhe custasse muito, decidiu levá-la de regresso.
Chorou ao dizer-lhe adeus e sentiu-se mais só do que antes.

A menina ficou de novo no seu castelo à beira-mar.
De tanto olhar o mar tornou-se verde verde.

Um dia passou um pescador ...
(Amélia Pais)


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DO FALAR POESIA - 4



Sobre o Poema


Um poema cresce inseguramente

na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo.
Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
— a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

— Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.

— E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

(Herberto Hélder)

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24/01/05

OS MEUS POETAS - 5



"Uma infância nova, uma ama velha outra vez, e um leito pequeno onde acabe por dormir, entre contos que embalam, mal ouvidos, com uma atenção que se torna morna, de perigos que penetram em jovens cabelos louros como o trigo...(.....) Um colo ou um braço quente em torno do meu pescoço...Uma voz que canta baixo e parece querer fazer-me chorar...O ruido do lume da lareira...Um calor no inverno...Um extravio morno da minha consciência...E depois sem som, um sonho calmo num espaço enorme, como a lua rodando entre as estrelas...(....) Tenho frio demais.Estou tão cansado no meu abandono. Vai buscar, ó Vento, a minha Mãe.Leva-me na Noite para a casa que não conheci...Torna a dar-me, ó Silêncio(...) a minha ama e o meu berço e a minha canção com que eu dormia. "

Fernando Pessoa/Bernardo Soares , Livro do Desassossego

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O PRAZER DE LER - 2



A Biblioteca


Chegada a noite, volto a casa e entro no meu escritório; e, na porta, dispo a roupa quotidiana, cheia de lama e de lodo, e visto trajes reais e solenes; e, vestido assim decentemente, entro nas antigas cortes dos homens antigos, onde, recebido amavelmente por eles, me alimento da comida que é só minha, e para a qual nasci; onde eu não me envergonho de falar com eles e de perguntar-lhes as razões das suas acções. E eles com a sua bondade respondem-me; e, durante quatro horas, não sinto tédio nenhum, esqueço-me de toda a ansiedade, não temo a pobreza, nem a morte me assusta: transfiro para eles todo o meu ser.

(Nicolo Maquiavel, in "Carta a Francesco Vettori")
Encontrado in http://citador.weblog.com.pt/

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23/01/05

OS MEUS POETAS - 4


Todo o amor é fantasia
Ele inventa o ano, o dia,
A hora e a melodia;
Inventa o amante e,mais,
a amada. Não prova nada,
contra o amor, que a amada
não tenha existido jamais.

Antonio Machado (Espanha,1875-1939)

(trad.de Eugénio de Andrade , in Trocar de Rosa)

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22/01/05

INESIANAS - 3



Um mar rodeia o mundo de quem está só


Um mar rodeia o mundo de quem está só. É
o mar sem ondas do fim do mundo. A sua água
é negra; o seu horizonte não existe. Desenho
os contornos desse mar com um lápis de
névoa. Apago, sobre a sua superfície, todos
os pássaros. Vejo-os abrigarem-se da borrasca
nas grutas do litoral: as aves assustadas da
solidão. «É um mundo impenetrável», diz
quem está só. Senta-se na margem, olhando
o seu caso. Nada mais triste para além dele, até
esse branco amanhecer que o obriga a lembrar-se
que está vivo. Então, espera que a maré suba,
nesse mar sem marés, para tomar uma decisão.

(Nuno Júdice, Pedro, lembrando Inês)


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DO FALAR POESIA - 3



O POEMA



Tudo está no som.
Uma toada.
Raramente uma canção. Devia


ser uma canção - feita de
minúcias, vespas,
uma genciana
- algo imediato, tesoura


aberta, olhos
de uma dama - despertando
centrífuga, centrípeta.

(william carlos williams)
(tradução: José Lino Grünewald)

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21/01/05

COISAS MINHAS - 1


Só no sonho os meus dias se consentem
A um nome se reduz
esta ânsia de ser
presença viva do meu gesto outrora

Eu não sei de outro nome para a ternura.

(Amélia Pais)



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20/01/05

O PRAZER DE LER - 1


(porque ler não mata - nem prejudica gravemente a saúde...)

«Sonho por vezes que, quando o dia do juízo chegar e os grandes conquistadores, advogados e estadistas vierem receber as suas recompensas – coroas, louros, nomes gravados indelevelmente em mármore imperecível -, o Todo-Poderoso se voltará para S. Pedro e dirá, não sem uma certa inveja, quando nos vir chegar com os nossos livros debaixo dos braços:
— Olhai, estes não precisam de recompensa. Nada temos para lhes dar. Eles amaram a leitura .
(Virginia Woolf)

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DO FALAR POESIA - 2



Passa o dia contigo
Não deixes que te desviem
Um poema emerge tão jovem tão antigo
Que nem sabes desde quando em ti vivia

(Sophia de M. B. Andresen-Ilhas)

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19/01/05

INESIANAS - 2





COMO EL-REI DOM PEDRO DE PORTUGAL DISSE POR DONA ENES QUE FORA SUA MOLHER RECEBIDA, E DA MANEIRA QUE ELLO TEVE


Como te anunciei a noite. Quantas vezes.
Quantas vezes repousei sob a funda obscuridade
do teu sono apenas percebendo um ou outro pequeno ruído.
Pela noite procuro o teu terreno hoje
esse mínimo espaço deus como estas naves estão desertas
como tudo é estranho para o que vive. Sob a noite aqui
encerro o segredo destes ritos
desfazendo este meu corpo paisagem
alimentando um brilho antigo
cabelo que conheci. Digo nada há que valha esta hora
pouco a pouco renuncio ao sol
em favor da água dos teus olhos.

É preciso esperar tanto. Esta morte faz-se lenta
mente não tenho fome nem sede nem desejo
apenas por outro caminho regresso.
São nossas estas naves
o pequeno galgo que repousa
foi o que nasceu do frio que aprendemos.

Esta noite perdi-me nos teus dedos
repeti os teus passos caminhando não
tão depressa quanto queria
que antes o sol dizíamo-lo.

Vê como a paisagem muda. Não descubro sequer
o desespero
e quantas vezes digo não tenho aqui ninguém
apenas esta nave sem dúvida a mais bela
para te mostrar.
Aparentemente nada mudou mas na verdade tudo mudou.
Um vento passa sobre mim como o risco
das aves sobre o mar
estas pedras colocadas estes arcos cobertos pelos limos
a tua ausência de pedra desenhada
caminhando para mim.

Não me recordo mais
varreu-se-me a memória do teu rosto sob a pressa da
e no entanto quantas vezes digo
tu não suportas alteração.
É tarde. A lua vai morrer. Deixo-me dormir.

(João Miguel Fernandes Jorge, Crónica)

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OS MEUS POETAS - 3



Porque hoje, 19 de janeiro, faz 82 anos, uma breve homenagem a um dos meus poetas de vida (parafraseando João Bénard da Costa, que escrevia sobre os seus filmes de vida) :


EROS

Nunca o verão se demorara
assim nos lábios
e na água
— como podíamos morrer,
tão próximos
e nus e inocentes?


2.


Barcos ou não
ardem na tarde

No ardor de verão
todo o rumor é ave

Voa coração
Ou então arde


(Eugénio de Andrade)







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18/01/05

DO FALAR POESIA -1



Tenho vindo a recolher textos, sobretudo escritos por poetas, consagrados ou ainda não , sobre a poesia e o fazer poético.


Começo por uma pequena introdução :


(....) É esta a dura tarefa do poeta e do fazer poético: - Lutar insistentemente com a palavra indescoberta, incriada, porque de seu labor árduo recolhe novos sentidos e os transfigura pela palavra, «fingindo», tantas vezes, como diz Fernando Pessoa, «a dor que deveras sente».-É também esta a luta de Orpheu (por isso, a poesia é eminentemente órphica)- encontrar a palavra primordial e única que lhe faça reencontrar Eurídice e trazê-la de volta, depois da sua longa e árdua caminhada iniciática.


Começa então o trabalho do leitor. Ele completa o poema, captando-lhe o sentido, recuperando com o poeta um saber das origens, simultaneamente longínquo e reencontrado.

Ler um poema será então este reencontro com a palavra do poeta, - que vai do coração para a cabeça, como dizia Almada Negreiros num texto muito bonito, intitulado «A flor», - o contacto com modos de dizer,produzindo sentidos ‘outros’, (estamos no domínio da ‘transcendência’, dado que na base da criação poética está a metáfora, criadora de realidades ‘outras’; - sendo assim o texto uma ficção, um fingimento - em que nos reconhecemos - ou não...).

Ora, sabemos, o acesso ao transcendente faz-se pela via da iniciação e por degraus - iniciando-se, no caso vertente, pela emoção ( o coração que, como no poema de Pessoa, é um combóio de corda que «gira a entreter a razão»). Mistério órfico por excelência, é essa a via iniciática a que nos convidam os poetas, os fazedores de sentidos.

E por isso eu posso dizer também isto - que a muitos poderá parecer ousado demais: - viver, ler e sentir a poesia é também: - sentir, tocar com a nossa alma e coração o coração e a alma que habitam o poema - ou que o poema sugere.

Vem-me daí essa sensação de uma certa espécie de «plágio» que sinto em relação a tantos poemas e poetas - - os que dizem o indizível que só a palavra transfigurada permite. Como se eu fosse, também, uma espécie de co-autora...

«Sentir, sinta quem lê» - é certo. Mas só sentimos com os poemas que estavam em botão dentro de nós e «partilhamos» com o poeta que os «fingiu» nessa luta incessante pela palavra justa. (....)

(Amélia Pais)

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17/01/05

INESIANAS - 1





Este ano é ano de comemorações inesianas,celebrando a passagem do 650ºaniversário, sobre o assassínio, em 7 de janeiro de 1355, em Coimbra, da «linda Inês,»a mísera e mesquinha / que despois de ser morta foi rainha»
Desde então Pedro e Inês ficaram sendo um dos grandes mitos de amor na Europa.

Por isso, vou colocar aqui, de vez em quando, textos genericamente designados de INESIANAS.

Aqui vai o primeiro:


ROMANCE DE D. PEDRO E D. INÊS


Era seu colo de neve
tocado daquela graça
do contorno mais breve
onde o conflito se enlaça.

Morta, em sua fronte uma constelação
era presságio de ritual macabro
duma coroação.

O que bebera em sua carne a claridade
que dos deuses escorre para a mais pura taça

partiu com mãos de tempestade
apressando com ira
e com desgraça
a fatalidade que os ungira.

E só parou quando mudo no espanto
onde o enlevo da morte se adivinha
O fim do mundo ficou esperando
aos pés da mais fantástica rainha.


(Natália Correia, 1971)


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16/01/05

De Menina e Moça ou Livro das Saudades


(.......)

Isto me pôs em dúvida de começar a escrever as cousas que vi e ouvi.
Mas depois, cuidando comigo, disse eu que arrecear de não acabar de escrever o que vi, não era causa para o deixar de fazer, pois não havia de escrever pera ninguém senão pera mim só, ante quem cousas não acabadas não havia de ser novo. Que quando vi eu prazer acabado ou mal que tivesse fim?»

(........)
....que o livro há-de ser do que vai escrito nele. (.......)

Bernardim Ribeiro - s.XVI -excertos do 1ºcapítulo


Podia também ter servido de epígrafe para este meu blogue.
É que, como o livro de Bernardim, ele

...há-de ser do que vai escrito nele ...


(Amélia Pais)



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Os meus melhores de 2004



Não vejo muito cinema,- e não falo do que não vi ainda - mas, de entre os melhores filmes que vi em 2004, constam:

Mystic River
The Big Fish
Dogville

O que mais frustrou as minhas expectativas: 21 gramas



No que respeita a livros, os melhores que li em 2004:


Odysseus Elytis, Louvada seja! –trad. de Manuel Resende
Eugenio Montale , Poesia -trad. de José Manuel de Vasconcelos
Rabindranath Tagore, Poesia –trad. de José Agostinho Baptista



Revistas



várias - mas saliento uma de poesia que é pouco «badalada» e de que saíram já 8 números,contendo poetas traduzidos e poetas portugueses,muitos deles nela revelados: DI VERSOS


Em livros/discos de poesia

Ruy Belo, Poemas - ditos por Luís Miguel Cintra
Ruy Belo, A Margem da Alegria -ditos pelos actores da Cornucópia(reposição, em disco. de espectáculo de há uns anos)
Ao longe os barcos de flores - poetas portugueses do s.XX - ditos por vários da Cornucópia; selecção de poemas a cargo de Gastão Cruz


Discos-CDs

- Tenho dificuldade em escolher...cito apenas alguns ouvidos com prazer em 2004:

Leonard Cohen -Dear Heather

L'Arpeggiata -La Tarantella
Jacques Brel -Infiniment (CD duplo)
Lhasa-La llorona
Maria Bethânia - Cânticos-Preces-Súplicas à Senhora dos Jardins do Céu e Brasileirinho

Mas haveria certamente, muitos mais - nomeadamente entre música clássica e jazz...




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OS MEUS POETAS - 2



conheço o sal



Conheço o sal da tua pele seca
Depois que o estio se volveu inverno
De carne repousada em suor nocturno.

Conheço o sal do leite que bebemos
Quando das bocas se estreitavam lábios
E o coração no sexo palpitava.

Conheço o sal dos teus cabelos negros
Os louros ou cinzentos que se enrolam
Neste dormir de brilhos azulados.

Conheço o sal que resta em minhas mãos
Como nas praias o perfume fica
Quando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o sal
Da tua língua, o sal de teus mamilos,
E o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu,
Ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
Um cristalino pó de amantes enlaçados.

(Jorge de Sena)

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15/01/05

«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE»- 1



Ao longe os barcos de flores


Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,
– Perdida voz que de entre as mais se exila,
– Festões de som dissimulando a hora.

Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.

E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há-de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?

Só, incessante, um som de flauta chora...

(Camilo Pessanha)

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PROIBIDA A ENTRADA


É proibida a entrada a quem não estiver espantado de existir.


(José Gomes Ferreira )



14/01/05

SEMEADORA DE POEMAS



Um dia chamaram-me assim: e eu gostei.
Claro que gostaria mais de ser «indisciplinadora de almas», como Pessoa...ou como qualquer professor deveria ser...

Inicio esta aventura da criação de um blogue, depois de resistir muito à ideia - mas acabei por concordar com amigos vários e aqui estou.

Coloquei-o sob o signo de um dos mestres - aquele de que Pessoa disse ser mestre porque «ensinou a sentir veladamente»- Camilo Pessanha - a quem «roubei» um verso para nome deste blogue.

E também sob a protecção de Mestre Caeiro, o que recebia a visita de um Menino Jesus fugido do céu e tornado companhia de um poeta de visão nítida e coração limpo...

Sou novata, pois, no espaço da blogolândia - e há muitas coisas que ainda não sei fazer...mas espero aprender e vir a tornar uma visita a este blogue um momento agradável...

O que ele vai ser, o tempo o dirá...

(Amélia Pais)




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