30/11/05

AINDA DO «MENINO DA SUA MÃE»



O véu das lágrimas não cega.

Vejo, a chorar,
O que essa música me entrega —
A mãe que eu tinha, o antigo lar,
A criança que fui.
O horror do tempo, porque flui,
O horror da vida, porque é só matar!
Vejo e adormeço,
Num torpor em que me esqueço
Que existo inda neste mundo que há...
Estou vendo minha mãe tocar.
E essas mãos brancas e pequenas,
Cuja carícia nunca mais me afagará —
Tocam ao piano, cuidadosas e serenas,
(Meu Deus!)

Un soir à Lima

Ah ! Vejo tudo claro !
Estou outra vez ali.
Afasto do luar externo e raro
Os olhos com que o vi.

Mas quê? Divago e a música acabou...
Divago como sempre divaguei
Sem ter na alma certeza de quem sou,
Nem verdadeira fé ou firme lei

Divago, crio eternidades minhas
Num ópio de memória e de abandono.
Entronizo fantásticas rainhas
Sem para elas ter o trono.

Sonho porque me banho
No rio irreal da música evocada.
Minha alma é uma criança esfarrapada
Que dorme num recanto obscuro.
De meu só tenho,
Na realidade certa e acordada,
Os trapos da minha alma abandonada,
E a cabeça que sonha contra o muro.

Mas, mãe, não haverá
Um deus que me não torne tudo vão,
(ou )Um outro mundo em que isso não está?
Divago ainda: tudo é ilusão.

Un soir à Lima

Quebra-te, coração …

[Poema escrito em 17 de Set. de 1935], por

Fernando Pessoa, «o menino de sua mãe»

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PÉROLAS - 47





A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
[…]

Fernando Pessoa
(deixou de ser «visto» em 30.11.1935)

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FERNANDO PESSOA, O ÍBIS




[nos 70 anos que assinalam a sua imortalidade]

Você merece mesmo que estejamos aqui reunidos, hem, você, fernando, você, alberto, você, álvaro, você, ricardo,você bernardo,você barão de teive,você vicente guedes, você, antónio mora, você tantos outros (72 apenas? ); você que se quis ser o supra-Camões e toda uma literatura; você argonauta das sensações verdadeiras; você para quem navegar(foi preciso,viver não(foi) preciso; você que se quis poeta fingi(e)dor de dores que deveras sentiu; você, coração de ninguém; você que continua a ser indisciplinador de almas e a indisciplinar as nossas; você seguindo o fumo do seu cigarro como uma rota própria; você , recordando, comovido, as tias velhas «do tempo em que festejavam o dia de seus anos e era feliz», - e os romances de sua infância, a Nau Catrineta, a Bela Infanta, nos intervalos do vozeirão épico de J.Burns; você de alma estática, sentada, vendo os navios que partem do cais, essa «saudade de pedra»,você do Magnificat, você recordando, de coração quebrado, pouco antes do seu virar a curva da estrada, de deixar de ser visto, a doçura de sua mãe tocando Un soir à Lima, você que disse não ser nada, nunca vir a ser nada, não poder querer vir a ser nada - e contudo ter em si todos os sonhos do mundo, repartindo connosco sua condição de escravo cardíaco das estrelas, e, como o Marinheiro do seu drama, sonhando pátrias de sonho e não se reconhecendo na verdadeira; você que nos reúne, através neste espaço que é também seu e do seu mestre Pessanha, rodeando-nos e agradecendo-lhe ter existido e existir ainda!

Perdoe se escrevo esta mensagem neste dia em que se tornou parte do universo estelar e Infinito e partiu para a sua Pasárgada,onde encontrou, entre tantos bem-aventurados, o seu amigo Manuel Bandeira; quero que você a leia bem cedinho, ao acordar, com a Criança Eterna dentro de si, a tal que brincava com seus sonhos, lembra? - connosco afagando seu cabelo, dando-lhe o colo consolador que definitivamente o faça reentrar, ainda que por breves momentos de ilusão, (E eu era feliz?Não sei.Fui-o outrora agora -como escreveu) na sua infância, envolto na música embaladora e nos braços de sua mãe, de quem foi o menino, e de sua ama velha que o trouxe ao colo - também de sua Bébézinha querida, a doce Ophelinha de suas cartas de amor «ridículas» (deixe lá -o Álvaro tinha era ciúmes de Ophelia...). E deixe a Daisy lá longe, e também aquele pobre rapazito que lhe deu tantas horas tão felizes em Iorque- e certamente a estranha Cecily que acreditava que você seria grande...e não é que foi mesmo?...

Está aqui, entre seus amigos , neste barco de flores, amigos que tantas alegrias lhe devem e lhe querem muito bem -. agradecendo-lhe por ter existido e se ter outrado, múltiplo e plural como o universo! Como presente de gratidão, trazemos-lhe de volta o seu amigo Mário,o de quem disse, emocionado,ter morrido jovem, porque morrem jovens os que os deuses amam, - conversando consigo na sua mesa da Brasileira ou no café Martinho, "[ele, Mário, que o fez depositário de seus versos, e que lhe escrevia em Quase]:

«Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além,
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...»

Amélia Pais



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29/11/05

EM 29 DE NOVEMBRO DE 1935, ÚLTIMO BILHETE ESCRITO



I know not what tomorrow will bring -Não sei o que o amanhã trará…

(bihete escrito na véspera da sua morte)

Dia 30 de Novembro de 1935: Fernando Pessoa morre, aos 47 anos.Tempo suficiente para se tornar, como desejava, por si só, «toda uma literatura» e um «indisciplinador de almas» -o émulo mal disfarçado de Camões e de tantos outros em toda a parte.Vão fazer-se 70 anos sobre a sua entrada na Ilha dos Bem-amados, a da Vénus camoniana; e a sua obra, parte da qual ainda inédita, passa, finalmente, para o domínio público.
Tendo por língua materna «a última flor do Lácio», escreveu em inglês, que dominava igualmente bem, o seu último bilhete. Antes, pedira os óculos- para ver com a nitidez de Caeiro?

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PÉROLAS - 46




Ninguém pode atingir a aurora sem atravessar [o caminho d]a noite.

Khalil Gibran

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O PRAZER DE LER -32




A Verdadeira Leitura

As leituras que a gente faz em busca do saber não são, na verdade, leituras.
As boas, as fecundas, as prazenteiras, são as que a gente faz sem pensar em instruir-se.


José Azorín, in 'Reflexos de Espanha'

28/11/05

OMNIA VINCIT AMOR - 37


Diego Rivera - pormenor


Ironia


"… sei perfeitamente que a ironia brinca com o fogo e que, ao brincar com os outros, às vezes acaba por brincar consigo mesma. Os senhores sabem todos muito bem ao que me refiro. Quando se finge o amor, corre-se o risco de chegar a senti-lo, quem parodia sem as devidas precauções, acaba por ser vítima da sua própria astúcia. E mesmo que as tome, acaba por ser vítima na mesma. Já Pascal o dizia: "É quase impossível fingir que se ama sem se transformar logo em amante" …"

Enrique Vila-Matas, "Paris nunca se acaba"
(tradução de Jorge Fallorca).

In http://cadecasa.blogspot.com/

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27/11/05

POETAS AMIGOS - 23





ouço a luz



lembra-te que és meu pôr do sol
mas sou eu que me afasto
enquanto brilhas ainda
amor

o meu mergulho na terra
será com os ouvidos na luz
os olhos em ti


Carlos Peres Feio - http://podiamsermais.weblog.com.pt/

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26/11/05

PÉROLAS - 45




«Creio que a verdade é perfeita para as matemáticas, a química,
a filosofia, mas não para a vida.
Na vida, a ilusão, a imaginação, o desejo, a esperança contam mais.»


Ernesto Sábato

In http://www.arestalia.blogspot.com/

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25/11/05

CAMONIANAS - 6





Erros meus, má fortuna, amor ardente

Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mim bastava amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa [a] que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!

Luís de Camões

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24/11/05

DESASSOSSEGOS - 20




Amostra sem valor



Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem,dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.

António Gedeão

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23/11/05

PÉROLAS - 44




São maus os navegantes que pensam que não existe a terra,
quando não podem ver mais que o mar.

Francis Bacon

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22/11/05

PENSAR - 29


édipo e a esfinge

A tarefa mais gloriosa para o homem

Édipo:
- Ó Tirésias, tu que compreendes todas as coisas, as lícitas e as ilícitas, as do céu e as da terra, bem sabes, embora privado da luz dos olhos, de que mal sofre a cidade; e só a ti encontrámos para nos proteger e nos salvar. Com efeito, Febo - e já talvez estes to tivessem dito - respondeu aos nossos enviados que a única maneira de nos livrarmos da doença era matar os assassinos de Laio ou exilá-los na cidade. Não nos recuses os augúrios das aves nem as outras adivinhações; salva a cidade, salva-te a ti próprio e a mim; lava esta impureza que ficou pela morte do homem que mataram. De ti depende a nossa salvação; não há tarefa mais gloriosa para um homem, do que pôr a sua ciência e o seu poder ao serviço dos outros homens....

Sófocles, Édipo Rei

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21/11/05

DE AMICITIA - 32




Mudando de conversa

Mudando de conversa onde foi que ficou
Aquela velha amizade
Aquele papo furado todo fim de noite
Num bar do Leblon
Meu Deus do céu, que tempo bom!
Tanto chopp gelado, confissões à bessa
Meu Deus, quem diria que isso ia se acabar
E acabava em samba
Que é a melhor maneira de se conversar
Mas tudo mudou, eu sinto tanta pena de não ser a mesma
Perdi a vontade de tomar meu chopp, de escrever meu samba
Me perdi de mim, não achei mais nada
O que vou fazer?
Mas eu queria tanto, precisava mesmo de abraçar você
De dizer as coisas que se acumularam
Que estão se perdendo sem explicação
E sem mais razão e sem mais porquê
Mudando de conversa onde foi que ficou
Aquela velha amizade
Aquele papo furado todo fim de noite
Num bar do Leblon
Meu Deus do céu, que tempo bom!
Tanto chopp gelado, confissões à bessa
Meu Deus, quem diria que isso ia se acabar
E acabava em samba
Que é a melhor maneira de se conversar.

(canção de Maurício Tapajós e Hermínio Bello de Carvalho)

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LER OS CLÁSSICOS - 29




a tília

Peregrino, senta debaixo da ramagem,
Descansa; eu prometo - sequer o sol selvagem
Aqui pode avançar. Porém os raios justos
Deverão as sombras aquietar nos arbustos.
Aqui sempre sopram brisas frescas do campo,

Rouxinóis e negras aves cantam seu canto.
Abelhas obreiras recolhem mel das flores
Perfumadas para brindar as mesas nobres.
E a todos os homens meu murmúrio sereno
Cobre facilmente de adocicado sono.
Maçãs não carrego, mas sou árvore farta
Das Hespérides no jardim, meu amo exorta.



Jan Kochanovski - Polónia (1530 - 1684)

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20/11/05

PETIÇÃO PELA DIGNIDADE DO ENSINO



[...]Que resta?[...] a nós, entre outras formas constitucionais (e provisórias) de cidadania, assinar a petição, que em vez de petição deveria ter-se intitulado protesto.

PETIÇÃO PELA DIGNIDADE DO ENSINO - especialmente do ensino do Português e da literatura
http://new.petitiononline.com/mercurio/petition.html

Posted by mb - in musas esqueléticas-http://musas_esqueleticas.weblog.com.pt/

PÉROLAS - 43




Um Jardim

Há um murmúrio de águas frescas, através
dos ramos das macieiras, as rosas ensombram
todo o solo, e das folhas trémulas
escorre o sonho.

Safo

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DA EDUCAÇÃO - 7



Da Poedagogia

Volto a insistir nesta ideia: a poesia pode ter uma função pedagógica. [...] Alguns gregos antigos reconheceram essa função pedagógica da poesia. Jaeger fala-nos de Homero como o «educador do seu povo», referindo que «a não-separação entre a estética e a ética é característica do pensamento grego primitivo.» Acredito nas virtudes de uma educação que compacte a ética e a estética sobre os alicerces da poesia, não tanto pelo valor referencial ou ideal da linguagem poética, mas mais pela sua capacidade de ver para além dos castradores convencionalismos sociais; pelo seu «poder ilimitado de conversão espiritual»; em suma, pela consciencialização de uma liberdade que é inalienável de uma verdadeira compreensão dos outros e do próprio ser.[...] .
[...] Numa cidade real, os poetas desabrocham no meio da gente mais comum, são parte integrante dessa gente. Não vale a pena vê-los de outra maneira, ainda que haja quem julgue o contrário, ou seja, que os poetas são seres extraordinários. Para mim, são tão extraordinários quanto o pode ser um extraordinário calceteiro. Há poetas que escrevem a vida com matizes de corola, asas de passarinho e diáfanas águas a correr sem cessar. São gente, gente tão passível de errar, de pecar, de cometer crimes, como outra gente qualquer. Todavia, o produto do seu labor confere-lhes uma áurea especial. É nesse mesmo produto que reside a tal função pedagógica da poesia. Ou então no próprio labor poético. [....] [...] só o acto de fazer poesia, praticar a poesia, pode, sem dúvida alguma, acrescentar algo de muito valioso ao processo educativo. Porque a poesia coloca o indivíduo na presença da sua originalidade. Tenho uma enorme fé na prática da poesia enquanto treino ideal da sensibilidade, das emoções, da liberdade. A expressividade granjeia na poesia, tal como, refira-se, noutras formas de expressão artística, um espaço privilegiado para o encontro do indivíduo consigo mesmo. E eu estou em crer que a apreensão de certos valores essenciais (como a tolerância, a liberdade, o amor, o belo, etc.) será bem mais efectiva se proceder de dentro para fora e não o contrário. Isto é, acredito que a apreensão desses valores é favorecida se o indivíduo puder encontrá-los dentro da sua própria humanidade, despojando-se de preconceitos e estereótipos através da expressão. Libertando-se pela expressão. Fazendo-se reflectir naquilo que cria. Porque isso fará com que ele passe a acreditar nas suas própria potencialidades humanas. Criando, dando-se, transmutando-se pela palavra, na palavra. Não sei se estarei a ser demasiado ingénuo, mas creio que muitos dos males no mundo advêm precisamente de não ser dada às pessoas a possibilidade de sentirem o prazer da criação. Ao contrário, as pessoas são, desde muito cedo, descaradamente educadas para a destruição, para a obediência, para a reverência, para a normalização. Isso destrói, sobretudo, as próprias pessoas. Embora seja isso o que se pretende na tal cidade ideal, essa cidade que exige aos seus cidadãos a destruição da individualidade em proveito da comunidade. A poesia pode ajudar a transformar o monstro da socialização num saudável exercício de humor: amparando os indivíduos no processo da sua descoberta. Ajudando-os a entender, por si próprios, que é a relação entre as letras, as palavras, os versos, que faz o poema. O poema é o resultado desse encadeamento, dessa música, desse ritmo conjunto. E nesse ritmo conjunto nenhuma individualidade é esgotada pelo todo.

(sublinhado meu)

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19/11/05

OS MEUS POETAS - 43




La nuit n'est jamais complète
Il y a toujours puisque je le dis
Puisque je l'affirme
Au bout du chagrin une fenêtre ouverte
Une fenêtre éclairée
Il y a toujours un rêve qui veille
Désir à combler faim à satisfaire
Un coeur généreux
Une main tendue une main ouverte
Des yeux attentifs
Une vie la vie à se partager.


Paul Eluard, Derniers poèmes d'amour

A tradução caseira possível:
A noite nunca é total.
Há sempre – eu o digo,
Eu o afirmo –
No fim do sofrimento uma janela aberta
Uma janela iluminada
Há sempre um sonho que vela
Desejo a preencher fome a saciar
Um coração generoso
Uma mão estendida uma mão aberta
Olhos atentos
Uma vida a partilhar
.

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PENSAR - 28




a liberdade não pode ser uma coisa gratuita



[...] a liberdade não pode ser uma coisa gratuita, como a água de uma fonte, que não custa um centavo e não exige de ninguém qualquer esforço moral; se é assim que o homem vê as coisas, ele jamais poderá usar as vantagens oferecidas pela liberdade para mudar sua vida para melhor. A liberdade não é uma coisa que se possa incorporar de uma vez por toda à vida de um homem: deve ser constantemente conquistada através de um esforço moral. Em relação ao mundo exterior, o homem não desfruta, essencialmente, de liberdade alguma, pois não está sozinho; a liberdade interior, porém, é algo que ele já tem desde o início, desde que tenha a coragem e a determinação de usá-la, aceitando o facto de que sua experiência interior tem importância social.

Andrei Tarkovsky - Esculpir o tempo
imagem de mário pires encontrada em http://www.retorta.net/blog/

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18/11/05

PÉROLAS - 42

>


A rapariga das rosas


Tu, que trazes as rosas, é rosas o encanto que trazes.
O que é que vendes? a ti? às rosas, ou às rosas e a ti?

Dionísio, o Sofista (séc I a.C ?)


[esta pérola vai para todos e, em especial, para o Zef, que me lembrou este poema]

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DO FALAR POESIA - 38



O poeta

O poeta beija tudo, graças a Deus... E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade... E diz assim: "É preciso saber olhar..."
E pode ser, em qualquer idade, ingénuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos...
E levanta uma pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás... E perde tempo (ganha tempo...) a namorar uma ovelha... E comove-se com cousas de nada: um pássaro que canta, uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino, um bocadinho de Sol depois de um dia chuvoso...
E acha que tudo é importante... E pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim...
E reparou que os homens estavam tristes...
E escreveu uns versos que começam desta maneira: "O segredo é amar"
...
Sebastião da Gama

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17/11/05

OMNIA VINCIT AMOR - 36



lenço de namorado 3
...e de facto o coração (e a mão) do/a amante podem não saber nada de ortografia, de finanças ou mesmo nem ter biblioteca...

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LER OS CLÁSSICOS - 28



Louvores da língua portuguesa

[…]
E verdadeiramente que não tenho a nossa língua por grosseira, nem por bons os argumentos com que alguns querem provar que é essa; antes é branda para deleitar, grave para engrandecer, eficaz para mover, doce para pronunciar, breve para resolver e acomodada às matérias mais importantes da prática e da escritura. Para falar é engraçada com um todo senhoril, para cantar é suave com um certo movimento que favorece a música; para pregar é substanciosa, com uma gravidade que autoriza as razões e as sentenças; para escrever cartas nem tem infinita cópia que dane, nem brevidade estéril que a limite; para histórias nem é tão florida que se derrame, nem tão seca que busque o favor das alheias. A pronunciação não obriga a ferir o céu da boca com aspereza, nem a arrancar as palavras com veemência de gargalo. Escreve-se da maneira que se lê, e assim se fala.Tem de todas as línguas o melhor: a pronunciação da Latina, a origem da Grega, a familiaridade da Castelhana, a brandura da Francesa, a elegância da Italiana. Tem mais adágios e sentenças que todas as vulgares, em fé da sua antiguidade. E se à língua Hebreia, pela honestidade das palavras, chamaram santa, certo que não sei eu outra que tanto fuja de palavras claras em matéria descomposta quanto a nossa. E, para que diga tudo, só um mal tem: e é que, pelo pouco que lhe querem os seus naturais, a trazem mais remendada que capa de pedinte.[...]
Francisco Rodrigues Lobo (s.XVII)Corte na aldeia

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16/11/05

PÉROLAS- 41




Pelos degraus exteriores das casas
pessoas desembarcam da noite e dos seus sonhos

Lasse Soderberg

lido em http://www.theresonly1alice.blogspot.com/


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ESCREVER -23





Não escrevo para mim, mas para que os outros possam ler-me e receber algo de meu. A memória é um instrumento de trabalho, converso com as minhas recordações. Tenho o "hábito" de as transformar, de não as olhar como elas são. Esse dir-se-ia o papel do escritor, não só contar as coisas conforme existem, mas como poderiam ser. Ninguém é dono da verdade, sempre difusa.
Escrever é a minha forma de agir sobre a realidade

Tahar Ben Jelloun- em entrevista ao DN em 09.10.05

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15/11/05

OMNIA VINCIT AMOR - 35

lenço de namorado 2
...e eu diria:- que lindo vai com seu erro de ortografia! -como escreveu António Nobre na sua ladainha das naus,do poema Lusitânia no Bairro Latino: «Senhora Nagonia!/Olha acolá!/ Que linda vai com seu erro de ortografia.../ Quem me dera ir lá!»

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CAMONIANAS - 5



CANÇÃO IX


Junto de um seco, fero e estéril monte,
inútil e despido, calvo, informe,
da natureza em tudo aborrecido,
onde nem ave voa, ou fera dorme,
nem rio claro corre, ou ferve fonte,
nem verde ramo faz doce ruído;
cujo nome, do vulgo introduzido,
é felix, por antífrase infelice;
o qual a Natureza
situou junto à parte
onde um braço de mar alto reparte
Abássia da arábica aspereza,
onde fundada já foi Berenice,
ficando à parte donde
o Sol que nele ferve se lhe esconde;

nele aparece o Cabo com que a costa
africana, que vem do Austro correndo,
limite faz, Arómata chamado
(Arómata outro tempo; que, volvendo
os céus, a ruda língua mal composta
dos próprios outro nome lhe tem dado).
Aqui, no mar que quer apressurado
entrar pela garganta deste braço,
me trouxe um tempo e teve
minha fera ventura.
Aqui, nesta remota, áspera e dura
parte do mundo, quis que a vida breve
também de si deixasse um breve espaço,
por que ficasse a vida
pelo mundo em pedaços repartida.

Aqui me achei gastando uns tristes dias,
tristes, forçados, maus e solitários,
trabalhosos, de dor e de ira cheios,

não tendo tão-somente por contrários
a vida, o sal ardente e águas frias,
os ares grossos, férvidos e feios;
mas os meus pensamentos, que são meios
para enganar a própria Natureza,
também vi contra mi,
trazendo-me à memória
algüa já passada e breve glória,
que eu já no mundo vi, quando vivi,
por me dobrar dos males a aspereza,
por me mostrar que havia
no mundo muitas horas de alegria.

Aqui estive eu co estes pensamentos
gastando o tempo e a vida; os quais tão alto
me subiam nas asas que caía
- e vede se seria leve o salto! -
de sonhados e vãos contentamentos
em desesperação de ver um dia.
Aqui o imaginar se convertia
num súbito chorar e nuns suspiros,
que rompiam os ares.
Aqui, a alma cativa,
chagada toda, estava em carne viva,
de dores rodeada e de pesares,
desamparada e descoberta aos tiros
da soberba Fortuna:
soberba, inexorável e importuna.

Não tinha parte donde se deitasse,
nem esperança algüa onde a cabeça
um pouco reclinasse, por descanso.
Todo lhe é dor e causa que padeça,
mas que pereça não, por que passasse
o que quis o Destino nunca manso.
Oh! que este irado mar, gritando, amanso!
Estes ventos da voz importunados,
parece que se enfreiam!

Somente o Céu severo,
as Estrelas e o Fado sempre fero
com meu perpétuo dano se recreiam,
mostrando-se potentes e indignados
contra um corpo terreno,
bicho da terra vil e tão pequeno.

Se de tantos trabalhos só tirasse
saber inda por certo que algüa hora
lembrava a uns claros olhos que já vi;
e se esta triste voz, rompendo fora,
as orelhas angélicas tocasse
daquela em cujo riso já vivi;
a qual, tornada um pouco sobre si,
revolvendo na mente pressurosa
os tempos já passados
de meus doces errores,
de meus suaves males e furores,
por ela padecidos e buscados,
tornada - inda que tarde - piadosa,
um pouco lhe pesasse
e consigo por dura se julgasse;

isto só que soubesse, me seria
descanso para a vida que me fica;
co isto afagaria o sofrimento.
Ah! Senhora, Senhora, que tão rica
estais que, cá tão longe, de alegria
me sustentais cum doce fingimento!
Em vos afigurando o pensamento,
foge todo o trabalho e toda a pena.
Só com vossas lembranças
me acho seguro e forte
contra o rosto feroz da fera Morte,
e logo se me ajuntam esperanças
com que a fronte, tornada mais serena,
torna os tormentos graves
em saüdades brandas e suaves.

Aqui co eles fico, perguntando
aos ventos amorosos, que respiram
da parte donde estais, por vós, Senhora;
às aves que ali voam, se vos viram,
que fazíeis, que estáveis praticando,
onde, como, com quem, que dia e que hora.
Ali a vida cansada, que melhora,
toma novos espritos, com que vença
a Fortuna e Trabalho,
só por tornar a ver-vos,
só por ir a servir-vos e querer-vos.
Diz-me o Tempo que a tudo dará talho;
mas o Desejo ardente, que detença
nunca sofreu, sem tento
me abre as chagas de novo ao sofrimento.

Assi vivo; e se alguém te perguntasse,
Canção, como não mouro,
podes-lhe responder que porque mouro.


Luís de Camões, Rimas

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14/11/05

DESASSOSSEGOS - 18




A lucidez perigosa


Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa actual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que a minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.


Clarice Lispector


Encontrado in blogue http://blogcasmurro.blogspot.com/

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O PRAZER DE LER - 31


james dean também leitor...

Da Leitura

Não leiais para refutar ou contradizer, para aceitar ou aquiescer, para perorar,discursar, mas para ponderar e considerar. Certos livros devem ser provados outros engolidos; uns poucos mastigados e digeridos. Quer dizer: devemos ler certos livros apenas parceladamente; outros incuriosamente, e uns poucos da primeira à última página, com diligência e atenção. Alguns livros podem ser lidos por terceiros, que nos farão deles um apanhado, mas isso somente caso de assuntos desimportantes, e de livros medíocres, pois livros resumidos são como água destilada: insípidos.

O ler faz um homem completo, o conferir destro, o escrever exacto. Bem por isso se alguém escreve pouco, deve ter boa memória; se confere pouco, muita sagacidade; se lê pouco, muita manha para afectar saber o que não sabe.

Francis Bacon, Ensaios Civis e Morais
[encontrado in http://www.lekton.blogspot.com/ ]

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13/11/05

OMNIA VINCIT AMOR -34

lenço de namorado 1
...algo de bem nosso: os lenços amorosamente bordados pelas mãos da amada - as modernas e de sempre «cantigas de amor e de amigo» do nosso povo.

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LER OS CLÁSSICOS - 27



Ó meu amado, como é doce ir ao lago,
banhar-me à tua vista, mostrar-te a minha beleza,
quando o meu vestido do mais fino linho, de um linho digno
[ de uma rainha,
se molha para se ajustar a cada curva do meu corpo.
Eu estou na água muito antes de ti
e regresso para junto de ti com um belo peixe vermelho
escondido na minha mão.
Vem e olha-me!


Poema egípcio, provavelmente do séc. XIII a.C.

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12/11/05

PÉROLAS - 40



Segredos


"… No entanto, também há silêncios longos, de muito em muito longe, muito muito longe, durante os quais, como já não ouço nada, não digo nada. Isto é, se apurar o ouvido, ouço uns sussurros. Mas não são para mim, são só para eles, voltam a entender-se. Não ouço o que dizem, só sei que continuam ali, que ainda não acabaram comigo. Afastaram-se um pouco. São segredos …"
Samuel Beckett, O inominável
(tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo).
Encontrado no blogue http://cadecasa.blogspot.com/

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DA EDUCAÇÃO 6 (cont.)



PROFESSOR:« INDISCIPLINADOR DE ALMAS»

[…]«Talvez eles me tivessem perseguido por eu nunca me ter portado da forma como se esperava que um professor se portasse. Talvez eles tivessem vindo atrás de mim,,mesmo que o Ira não existisse. Comecei por ser um rebelde, Nathan, um incendiário. Incendiava-me a preocupação de e estabelecer a dignidade da minha profissão. Talvez isso os tivesse enfurecido mais do que outra coisa qualquer. A indignidade que tínhamos de suportar como professores na altura em que comecei a leccionar…não ias acreditar. Sermos tratados como crianças. Aquilo que os superiores diziam era lei. Inquestionável. Têm de estar aqui às tantas horas, assinar o livro de ponto a horas. Vai passar tantas horas na escola. E será requisitado para outras tarefas à tarde e à noite, embora isso não esteja mencionado no contrato. Todo o tipo de abusos e mesquinhices. Uma pessoa sentia-se humilhada.»[…]

Philip Roth, Casei com um ComunistaPubl.D.Quixote, 1999
obs.:recordo que isto se passava nos USA em meados do s.XX...-

11/11/05

PENSAR - 27




"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás de passar para atravessar o rio da vida. Ninguém, excepto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem número, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio, mas isso te custaria a tua própria pessoa: tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Aonde leva? Não perguntes, segue-o!"

Friedrich Nietzsche
(1844-1900)

In http://mnemosyne.blog-city.com/

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POETAS AMIGOS -23


imagem de philipe monteagudo

As dálias na jarra sobre a mesa
do jardim
o pão barrado de compota de amoras
acabada de fazer
o regador virado
junto do canteiro
a criança dizendo adeus ao mar

estáticos instantes de infinito.


Ericeira, 21 de Setembro de 2005
Helena Monteiro - http://linhadecabotagem.blogspot.com/

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10/11/05

DA EDUCAÇÃO - 6




PROFESSOR:«INDISCIPLINADOR DE ALMAS»?

«A par desse vigor e de uma actividade notável, Mr.Ringold trouxe consigo para a sala de aula uma carga de espontaneidade visceral que era uma revelação para aqueles miúdos dóceis e tementes que ainda não tinham percebido que acatar as regras de comportamento de um professor nada tinha a ver com desenvolvimento intelectual. Havia mais relevância do que talvez ele pudesse imaginar na sua predilecção por nos atirar com o apagador sempre que a resposta dada não acertava em cheio. E dai talvez não. Talvez Mr.Ringold soubesse muito bem que o que miúdos como eu precisavam de aprender não era apenas expressar-se com precisão e reagir às palavras com mais discernimento, mas também a saber como serem rebeldes sem serem disparatados, como não serem dissimulados ou bem-comportados de mais e como começarem a libertar as tensões masculinas face à rigidez institucional que intimidava principalmente os alunos mais inteligentes.

Sentia-se, no sentido sexual do termo, o poder de um professor como Murray Ringold – a autoridade masculina sem laivos de piedade – e sentia-se, no sentido carreirístico do termo, a vocação de um professor como Murray Ringold, que não se tinha perdido na amorfa aspiração americana de chegar ao topo, que – ao contrário das professoras – poderia ter escolhido outra coisa qualquer e, ao invés, tinha escolhido como forma de vida ser nosso. Tudo o que desejava vinte e quatro horas por dia era lidar com jovens que ele pudesse influenciar e nada lhe dava mais gozo do que observar as suas reacções. «Estou-me completamente nas tintas», ensinar-lhes que não é preciso ser-se o Al Capone para se transgredir – que basta pensar. – Na sociedade humana – dizia-nos Mr.Ringold – pensar é a maior de todas as transgressões E acrescentava, batendo com os nós dos dedos na mesa, a reforçar cada sílaba: - Pen-sa-men-to crí-ti-co, eis a máxima subversão.»


Philip Roth in Casei com um comunista-Publ.-Dom Quixote,1999.
[título do excerto e sublinhados meus]

Obs.:O livro passa-se por volta dos anos 50, aquando das perseguições do maccarthismo.

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COUVRE - FEU

Pensando no recolher obrigatório, em França



Couvre - feu

Que voulez-vous la porte était gardée
Que voulez-vous nous étions enfermés
Que voulez-vous la rue était barrée
Que voulez vous la ville était matée
Que voulez-vous elle était affamée
Que voulez-vous nous étions désarmés
Que voulez-vous la nuit était tombée
Que voulez-vous nous nous sommes aimés



Paul Eluard



Recolher obrigatório

O que é que vocês querem a porta estava guardada
O que é que vocês querem estávamos fechados
O que é que vocês querem a rua estava cortada
O que é que vocês querem a cidade estava humilhada
O que é que vocês querem ela estava esfomeada
O que é que vocês querem estávamos desarmados
O que é que vocês querem a noite tinha caído
O que é que vocês querem nós amámo-nos

trad.caseira de Amélia Pais

09/11/05

DE AMICITIA -31



"Não preciso de amigos que mudem quando eu mudo
e concordem quando eu concordo.
A minha sombra faz isso muito melhor."

Plutarco

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PÉROLAS -39



Ofereço-te quaisquer visões que os meus livros possam conter,
qualquer bravura ou humor da minha vida.
Ofereço-te esse núcleo de mim mesmo que guardei fosse como fosse

- o coração central que não lida com palavras


Jorge Luis Borges

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OS MEUS POETAS - 42





O Sol da Tarde

Este quarto, como o conheço bem.
Agora alugam-se quer este quer o do lado
para escritórios comerciais. A casa toda tornou-se
escritórios de intermediários, e de comerciantes, e Sociedades.

Ah este quarto, não é nada estranho.

Perto da porta por aqui estava o sofá,
e diante dele um tapete turco;
ao pé a prateleira com duas jarras amarelas.
À direita; não, em frente, um armário com espelho.
Ao meio a sua mesa de escrever;
e três grandes cadeiras de vime.
Ao lado da janela estava a cama
onde nos amámos tantas vezes.

Estarão ainda os coitados nalgum lugar.

Ao lado da janela estava a cama;
o sol da tarde chegava-lhe até metade.

...De tarde quatro horas, tínhamo-nos separado
por uma semana só . . . Ai de mim,
aquela semana tornou-se para sempre.



Konstandinos Kavafis - Poemas e Prosas
Tradução de Joaquim Manuel Magalhães

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08/11/05

PÉROLAS -38





A uma mulher acautelada em fechar a porta
mas diziam que andava com o cura

Que importa ao crédito vosso
fechardes, todos os dias,
a porta às Ave-Marias
se a abris ao Padre-nosso?

D.Tomás de Noronha, s.XVII

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LER OS CLÁSSICOS - 26

Thomas Paine, s.XVIII (1737 -1809)
Para saber mais sobre o poeta ver, por ex. em http://odur.let.rug.nl/~usa/B/tpaine/paine.htm

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07/11/05

PÉROLAS - 37



Quando no outono
as árvores estavam nuas,
uma tarde a nuvem de pássaros
exaustos
poisou sobre os ramos.
Pareciam ter regressado as folhas
baloiçando ao vento.


Tonino Guerra
-lembrado pela lebre do arrozal -http://www.theresonly1alice.blogspot.com/

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CAMONIANAS - 4



Esparsa ao Desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que, só para mim
Anda o mundo concertado.

Luís de Camões - Rimas

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06/11/05

DESASSOSSEGOS - 17




Começamos a morrer quando deixamos para trás a infância, isto é, quando perdemos a ingenuidade, o optimismo e a capacidade de rir com as manhãs soalheiras do universo.
Começamos a morrer quando a sombra alastra em nós de tal modo que nenhum calor já é capaz de nos reconfortar.
Começamos a morrer quando se acumulam excessivamente na nossa alma as células gastas das ilusões perdidas.

[…]
F.Pessoa começou a morrer muito cedo.

António Quadros - F.Pessoa-vida, personalidade e génio

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05/11/05

ESCREVER - 22



escrita...


Há quem escreva com o coração, há quem escreva com a dor, com a desilusão, há ainda quem escreva com os livros que lê, eu simplesmente acho que escrevo com os olhos, aqueles que observam tudo o que me rodeia...

[encontrado no blogue http://pequenos_nadas.blogspot.com/]

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DA EDUCAÇÃO - 5




Another brick in the wall

We don’t need no education.
We don’t need no thought control.
No dark sarcasm in the classroom.
Teacher, leave those kids alone.
Hey, teacher, leave those kids alone!
All in all it’s just another brick in the wall.
All in all you’re just another brick in the wall.
We don’t need no education.
We don’t need no thought control.
No dark sarcasm in the classroom.
Teachers, leave those kids alone.
Hey, teacher, leave those kids alone!
All in all you’re just another brick in the wall.
All in all you’re just another brick in the wall.


Pink Floyd, -The Wall


Obs: oh, the good old days!... ainda se lembram?-também não sei se seriam assim tão «gold»...

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04/11/05

OMNIA VINCIT AMOR - 33/4


Quatro Sonetos



IV

Ama-me por amor do amor somente
Não digas: Amo-a pelo seu olhar,
O seu sorriso, o modo de falar
Honesto e brando. Amo-a porque se sente

Minh'alma em comunhão constantemente
Com a sua. Por que pode mudar
Isso tudo, em si mesmo, ao perpassar
Do tempo, ou para ti unicamente.

Nem me ames pelo pranto que a bondade
De tuas mãos enxuga, pois se em mim
Secar, por teu conforto, esta vontade

De chorar, teu amor pode ter fim!
Ama-me por amor do amor, e assim
Me hás de querer por toda a eternidade.

Elizabeth Barrett Browning
Tradução de Manuel Bandeira

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