14/10/06

POETAS AMIGOS - 40



a quieta água

cada rosa traz em si todas as rosas, sendo, porém, única
como um cristal que no ventre da terra aguarda a prometida luz.
no peito de cada um há uma fonte cuja água aflui a um mesmo mar,
e cada fonte difere por uma coisa que no cristal é uma luz guardada,
na nuvem uma forma, no animal um anseio, na flor um cativo movimento
e, em ti, talvez o olhar reflectido no tanque de pedra da tua água interior.
só pela poesia distingo o rosto de cada coisa, o seu secreto coração
pudicamente guardado no fundo da cisterna, onde o vento não inquiete
o gesto cristalizado na memória, a idealização do nome, tão além
da simplicidade das quietas maçãs ou da erva do caminho, entre pedras.
em cada tanque interior a água reflecte o mesmo céu, a mesma lua
se dá toda a cada olhar. o céu põe o seu diadema de estrelas e eu sigo
levando na mão uma rosa que traz em si o eco de todas as cisternas.

gonçalo bruno de sousa

Etiquetas:

Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com Licença Creative Commons