18/06/07

LEITURAS - 44


[...]
Que palavras aquelas! Talvez tu não saibas, Léah, o mérito, a graça, o poder da candura. Nesse instante foste o assombro vivo, inocentemente expresso. (Era eu que tinha a alma cheia de venenos) E como se não fosse aquilo a primeira vez que nos falávamos (na verdade era a primeira vez que nos víamos); como se entre nós existisse uma velha amizade com musgo nas paredes, um amor já fossilizado em hábito, uma intimidade inconsciente, que um facto inesperado, um traço de carácter até então oculto viesse surpreender, tu exclamaste com mágoa e assombro, penalizada por me ter feito mal sem o saber: Então o senhor tinha ciúmes? E eu que não sabia! Meu Deus, se eu tivesse sabido... Desculpe! Toda tu te abriste e rescendeste como uma flor, e quase ias caindo para trás, ou assim me pareceu, pretexto meu talvez para te agarrar pela cintura. Léah, foi a partir desse instante, juro, que eu te amei. [...]

José Rodrigues Miguéis, Léah e outros contos

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