30/09/07

LEITURAS - 50





ALGUM TEMPO hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia - peneirava uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferi. à beira de minha cova: "Vós, que o conhecestes, meus senhores vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado."


Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas (1888)

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29/09/07

«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE» - 16




Canção da partida


Ao meu coração um peso de ferro
Eu hei-de prender na volta do mar.
Ao meu coração um peso de ferro...
Lançá-lo ao mar.

Quem vai embarcar, que vai degredado,
As penas do amor não queira levar...
Marujos, erguei o cofre pesado,
Lançai-a ao mar.

E hei-de mercar um fecho de prata.
O meu coração é um cofre selado.
A sete chaves: tem dentro uma carta...
– A última, de antes do teu noivado.

A sete chaves, – a carta encantada!
E um lenço bordado... Esse hei-de-o levar.
Que é para o molhar na água salgada
No dia em que enfim deixar de chorar.

Camilo Pessanha

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28/09/07

OMNIA VINCIT AMOR - 85



«Desejava duas coisas, a primeira era a possessão absoluta. A segunda era a lembrança absoluta que ele lhe queria deixar. Os homens sabem tão bem que o amor está votado à morte que trabalham pela memória desse amor durante todo o tempo que vivem. Ele queria deixar-lhe uma grande ideia de si mesmo a fim de que o seu amor fosse grande, definitivamente. Sabia, porém, agora, que ele próprio não era grande, que ela, mais cedo ou mais tarde, o viria a saber um dia, e que, cm vez da recordação absoluta, seria para ele pelo menos a morte absoluta. A vitória, a única vitória seria reconhecer que o amor pode ser grande mesmo quando o amante o não é. Mas ele ainda não estava preparado para essa terrível modéstia.»

«Há uma honra no amor. Perdida ela, o amor nada é.»

Albert Camus, Cadernos-III (excertos)

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27/09/07

REVIVALISMOS - 9


politicamente incorrecto, eu sei...
(mas não pensava nisso Fernando Pessoa:«sigo o fumo do meu cigarro como uma rota própria» num dos mais belos poemas do mundo)

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26/09/07

PÉROLAS - 118






Gosto de ti como se gosta do sol,e era bom
ficar ao sol todo o dia...


António Franco Alexandre

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25/09/07

DE AMICITIA - 61


...e que linda vai com seu erro de ortografia, não é, Ana?
Já assim o dizia o António Nobre...

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24/09/07

«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE» - 15


Água Morrente


Il pleure dans mon coeur
Comme il pleut sur la vile.


Verlaine

Meus olhos apagados,
Vede a água cair.
Das beiras dos telhados,
Cair, sempre cair.

Das beiras dos telhados,
Cair, quase morrer...
Meus olhos apagados,
E cansados de ver.

Meus olhos, afogai-vos
Na vã tristeza ambiente.
Caí e derramai-vos
Como a água morrente.

Camilo Pessanha, Clepsydra

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23/09/07

DA EDUCAÇÃO - 30





A substância da mudança

"As pessoas estão sempre a querer que os professores mudem. Raramente isto foi tão verdadeiro como o tem sido nos últimos tempos. Como todos os momentos de crise económica, os tempos actuais de competitividade global estão a originar um imenso pânico moral sobre a maneira como estamos a preparar as gerações do futuro nos nossos países. Em momentos como este, a educação em geral e as escolas em particular tornam-se naquilo a que A. H. Halsey chamou o "cesto de papéis da sociedade": receptáculos de políticas nos quais são depositados, sem cerimónia, os problemas não resolvidos e insolúveis da sociedade. Pouca gente quer fazer algo relativamente à economia, mas todos - os políticos, os meios de comunicação de massas e o público em geral - querem fazer algo na educação."

Andy Hargreaves, in Os professores em tempos de Mudança.
McGraw Hill, 1994

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22/09/07

RETRATOS DE UM PAÍS QUE QUASE JÁ NÃO HÁ -22



saloios de Lisboa

-agora serão outros os saloios -

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POETAS MEUS AMIGOS - 58


img.egon schiele


manhã em dois andamentos


1
Os pinheiros, manhã purificada
de vento e luz e o hálito da terra,
e a lembrança daquilo que não somos
nem fomos nunca, deuses como Pan
que queríamos ser por entre as árvores
ou mesmo um eflúvio como a brisa.

2

A raposa que vi aquela noite
agora busca cheiros nas giestas,
e, pela estrada, os carros vão passando
a serra muito antiga e sobrevivem,
sobrevivemos todos, nós e os bichos,
sem mais nenhum destino que viver.

Nuno Dempster

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21/09/07

PODEMOS CANTAR TAMBÉM?


foto de ana assunção

Lisboa adormeceu, já se acenderam
Mil velas nos altares das colinas
Guitarras pouco a pouco emudeceram
Cerraram-se as janelas pequeninas
Lisboa dorme um sono repousado
Nos braços voluptuosos do seu Tejo
Cobriu-a a colcha azul do céu estrelado
E a brisa veio, a medo, dar-lhe um beijo

Lisboa
Andou de lado em lado
Foi ver uma toirada
Depois bailou... bebeu...
Lisboa
Ouviu cantar o fado
Rompia a madrugada
Quando ela adormeceu

Lisboa não parou a noite inteira
Boémia, estouvanada, mas bairrista
Foi à sardinha assada lá na Feira
E à segunda sessão duma revista
Dali pró Bairro Alto então galgou
No céu a lua cheia refulgia
Ouviu cantar a Amália e então sonhou
Que era a saudade aquela voz que ouvia

Lisboa
Andou de lado em lado
Foi ver uma toirada
Depois bailou... bebeu...
Lisboa

Ouviu cantar o fado
Rompia a madrugada
Quando ela adormeceu



....

letra e música de Fernando Santos e Carlos Dias

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20/09/07

UMA ATITUDE SE IMPÕE - AFRONTAMENTO - 4



Plateia


Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.

Miguel Torga (nascido há 100 anos)
in De Palavra em Punho. Antologia Poética da Resistência. De Fernando Pessoa ao 25 de Abril. Organização e apresentação de José Fanha.

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19/09/07

OMNIA VINCIT AMOR - 84


img.de Dagmar-Zupan

"Era evidentemente mentira tudo aquilo que eu contara na minha carta de amor, ou melhor: era tão verdade que ainda não tinha acontecido."

António Pedro
encontrado em http://www.theresonly1alice.blogspot.com/

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18/09/07

O PRAZER DE LER - 70


a nova biblioteca de alexandria

Um dia veio uma peste e acabou com
toda vida na face da Terra:
em compensação ficaram as Bibliotecas...
E nelas estava meticulosamente escrito
o nome de todas as coisas!

Mário Quintana

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17/09/07

DESASSOSSEGOS - 59



A água quente lembra-me todas as manhãs
que não tenho mais nada vivo ao pé de mim.

yorgos seferis -poemas escolhidos
trad. de joaquim manuel magalhães e nikos pratisinis-ed.relógio d´água,1993

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16/09/07

PÉROLAS - 117




Primavera


Enquanto envelheço
vou dançando em volta
de uma camélia.




Takajo Mitsuhashi


(poema que me foi enviado pela Lu Colossi)

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15/09/07

NOCTURNOS - 37



À Lua

Lembro-me, ó graciosa lua,
Que há um ano, sobre esta colina,
Cheio de angústia, eu vinha contemplar-te:
E tu pendias então sobre a floresta
Como fazes agora, iluminando-a por completo.
Mas velado e trémulo do pranto
Que me assomava aos olhos o teu rosto
Me parecia, que laboriosa
Era a minha vida: e ainda o é, nem muda de feição,
Ó minha amada lua. E todavia faz-me bem
Esta lembrança e o contar a idade
Da minha dor. Oh!, como é doce,
No tempo da juventude, quando ainda longo
É o curso da esperança, breve o da memória,
A lembrança das passadas coisas,
Embora triste e embora as fadigas durem!

Giacomo Leopardi,Cantos
tradução de Albano Martins

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14/09/07

LEITURAS - 49



O vento, que é um pincha-no-crivo devasso e curioso, penetrou na camarata, bufou, deu um abanão. O estarim parecia deserto. Não senhor, alguém dormia meio encurvado, cabeça para fora no seu decúbito, que se agitou molemente. Vol­veu a soprar. Buliu-lhe a veste, deu mesmo um esta­lido em sua tela semi-rígida e imobilizou-se. Outro sopro. Desta vez o pinhão, como um pretinho da Guiné de tanga a esvoaçar, liberou-se da cela e pulou no espaço. Que pára-quedista!Precipitado tão de alto do pinheiro solitário, balouçou-se um instante e ensaiou um voo oblíquo. A meio caminho volteou, ,rodopiou, viu as nuvens ao largo, a terra em baixo e, saracoteando a fralda, desceu em espiral. Poisou em cima duma fraga, ligeiro como um tira-olhos. Mas novo pé-de-vento atirou com ele para a banda, quase de escantilhão, e a aleta, tomando-se de imprevisto fôlego, arreba­tou-o para mais longe. Foi cair numa mancheia de terra, removida de fresco pelos roçadores do mato, e ali permaneceu à espera que pancada de água ou calcanhar de homem o mergulhasse no solo, dado que um pombo bravo o não avistasse e engolisse.

Aquilino Ribeiro -A Casa Grande de Romarigães, 1963

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13/09/07

O PRAZER DE LER - 69


foto de Francisco Costa Afonso

O problema dos livros



"Então, voltavam um dia da granja na charrete e, como sempre, depressa. Escarranchavam-se no madeiro do carro, o regedor à frente, porque governava o cavalo, e Mítia atrás, agarrando-se com firmeza à trave e olhando ora a nuca vermelha do regedor, ora para os campos que lhe saltavam diante dos olhos. Já perto de casa, o regedor baixou as rédeas, deixou andar a passo, começou a enrolar uma mortalha e, esboçando um sorriso por cima da bolsa do tabaco, disse:
- O meu amo daquela vez ofendeu-se comigo, mas não valia a pena. Os livros não têm nada de mal, porque é que não há-de ler quando descansa, mas não lhe fogem, tem de haver um tempo para tudo.
Mítia corou e, inesperadamente para si mesmo, respondeu com uma fingida simplicidade e um sorriso desajeitado:
- Pois, mas não estou a ver ninguém...
- Como assim? - disse o regedor.
- Há por aí tantas mulheres e raparigas."

Ivan Búnin,O amor de Mítia
Tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra.
In http://last-tapes.blogspot.com/

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12/09/07

CAMONIANAS - 35


img.josé guimarães

A paixão segundo Camões


Transforma-se o amador em coisa alguma,
sem dolo, sem virtude, sem razão.
Por muito amar, dispersa o coração
e rói daquilo que é a alma nenhuma.

As esperanças perde, uma a uma,
de decifrar o rosto da paixão.
Sem rumo, ilhado entre o sim e o não,
perde-se no amor de um mar sem espuma.

Transforma-se o amador em coisa errante,
atira ao vento um grito enrouquecido,
buscando encontrar-se na coisa amada.

A pele rota, o gesto vacilante,
transforma-se, de amar como um perdido,
em sombra de si mesmo, ausência, nada.



Carlos Felipe Moisés

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11/09/07

RECOMENDO VIVAMENTE


Um excelente pequeno livro contra o fanatismo - escrito pelo grande escritor judeu israelita Amos Oz - editado por Asa editores com a participação do jornal Público.
A receita deste livro (2,50€) reverte inteiramente a favor da Amnistia Internacional.
Isto no dia em que se cumprem 6 anos sobre o ataque terrorista às Torres Gémeas e 28 sobre o golpe de estado no Chile(de que já quase desapareceu a memória).

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OMNIA VINCIT AMOR - 83



Fiquei com ela a sós, só com ela e o vinho,
e das trevas a asa ia-se então abrindo…
Somente através dela eu a vida sentia.

Que pecado haverá neste anelo de vida?
Eu, ela, o vinho branco, a noite sem limites:
éramos terra. E chuva, e ouro. E azeviche.

Ibn Hazim (994-1064) -O colar da pomba
Trad.de David Mourão-Ferreira

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10/09/07

DO FALAR POESIA - 71




A poesia



(Em Itália)

Desde os alvores do século se discute
se a poesia existe dentro ou fora

Primeiro venceu o dentro, depois contra-atacou
duramente o fora
e desde há anos se assiste a um empate
que não poderá durar visto que o fora
está armado até aos dentes.

Eugénio Montale



Trad. de David M-Ferreira

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09/09/07

DE UM PAÍS QUE QUASE JÁ NÃO HÁ - 21



Valeu a faina...

foto de artur pastor

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08/09/07

LER OS CLÁSSICOS - 73



happy the man


Happy the man, and happy he alone,
He who can call today his own:
He who, secure within, can say,
Tomorrow do thy worst, for I have lived today.
Be fair or foul or rain or shine
The joys I have possessed, in spite of fate, are mine.
Not Heaven itself upon the past has power,
But what has been, has been, and I have had my hour.


John Dryden (1630-1700)



Feliz aquele e só ele feliz,
Que pode chamar seu ao dia de hoje
ele que, bem seguro, pode dizer
amanhã venha o pior, que já vivi hoje.
Seja belo ou feio, faça chuva ou sol
As alegrias que tive, pese ao destino, são minhas
Nem mesmo o Céu tem poder sobre o passado
O que passou passou, e eu tive o meu momento
.


Trad.Amélia Pais

c/ajuda da Júlia G.Ribeiro



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07/09/07

PÉROLAS - 116



Aquele peso em mim - meu coração.

Fernando Pessoa
imagem:o íbis que Pessoa escolheu como sua ave e símbolo

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06/09/07

DESASSOSSEGOS - 58




não te escrevas
entre os mundos,

ergue-te contra
a variedade dos sentidos,

confia no rasto das lágrimas
e aprende a viver.

Paul Celan –A Morte é uma flor

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05/09/07

«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE» - 14


foto: ana assunção

Se andava no jardim,
Que cheiro de jasmim!
Tão branca do luar!

......................................
......................................
......................................

Eis tenho-a junto a mim.
Vencida, é minha, enfim,
Após tanto a sonhar...

Porque entristeço assim?
Não era ela, mas sim
(O que eu quis abraçar)

A hora do jardim
O aroma de jasmim...
A onda do luar...

Camilo Pessanha - Clepsydra


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04/09/07

UMA ATITUDE SE IMPÕE - AFRONTAMENTO - 3





Mais forte

O homem sempre é mais forte
se a outro homem se aliar;
o arado faz caminho
no seu tempo de cavar.

No mesmo mar que nos leva,
o vento nos quer buscar;
o que é da terra é do homem,
onde o arado vai brotar.

Por mais que a morte desfaça,
há um homem sempre a lutar;
o vento faz seu caminho
por dentro, no seu pomar.



Carlos Nejar

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03/09/07

O PRAZER DE LER - 68




O Nosso Livro

Deixa-me dizer-te, meu caro, pode bem acontecer que vás através da vida sem saber que debaixo do teu nariz existe um livro no qual a tua vida é descrita em todo o detalhe. Aquilo do qual nunca te deste conta antes, vais relembrando aos poucos, assim que comeces a ler esse livro, e encontras e descobres... alguns livros tu lês e lês e não lhe consegues encontrar qualquer sentido ou lógica, por mais que tentes. São tão "espertos" que não consegues perceber uma palavra daquilo que dizem... Mas esse livro que talvez esteja logo debaixo do teu nariz, tu lês e sentes-te como se tivesses sido tu próprio a escrevê-lo, tal como - como é que hei-de dizer ? - tal como tivesses tomado posse do teu próprio coração - qualquer que este possa ser - e o tivesse virado do avesso de forma que as pessoas o consigam ver, e descrito com todos os detalhes - tal e qual como ele é! E como isto é simples, meu Deus! Porquê, eu próprio poderia ter escrito este livro! Porquê, de facto, porquê é que eu próprio não escrevi este livro!

Fiodor Dostoievski, in "Pobre Gente"

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UMA ATITUDE SE IMPÕE - AFRONTAMENTO - 5



chagall


Porque



Porque os outros se mascaram e tu não

Porque os outros usam a virtude

Para comprar o que não tem perdão

Porque os outros têm medo mas tu não


Porque os outros são os túmulos calados

Onde germina calada podridão

Porque os outros se calam mas tu não


Porque os outros se compram e se vendem

E os seus gestos dão sempre dividendo

Porque os outros são hábeis mas tu não


Porque os outros vão à sombra dos abrigos


E tu vais de mãos dadas com os perigos


Porque os outros calculam mas tu não.



Sophia de Mello Breyner Andresen

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02/09/07

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 42




Foi para ti que criei as rosas
Foi para ti que lhes dei perfume
Para ti rasguei ribeiros
E dei às romãs a cor do lume
.


Engénio de Andrade

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01/09/07

PÉROLAS - 115



Cada minuto é apenas um momento musical, sem memória.. E a saudade não vem de longe, é como uma cor outonal na paisagem e muda como um poente...Não há futuro. Tudo é paisagem para os nossos olhos calmos e líricos . Sentimos a intimidade das coisas impossíveis.

Cristovam Pavia
encontrado em http://www.theresonly1alice.blogspot.com/

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