31/10/07

DE AMICITIA - 64






Só para mim


Queria ter o sol só para mim, tê-lo de forma a dele poder de vez em quando ceder parte apenas a um dos meus mais íntimos amigos .

luis miguel nava

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30/10/07

LEITURAS - 54



Se estão mesmo interessados nisto, então a primeira coisa que devem querer saber é onde é que nasci, e como foi a porcaria da minha infância, o que faziam os meus pais e tudo antes de eu ter nascido, e toda essa treta estilo David Copperfield, mas não estou nada para aí virado, para dizer a verdade. Primeiro, porque é o tipo de coisa que me chateia, e segundo porque os meus pais eram capazes de ter dois ataques cada um se eu me pusesse a contar alguma coisa de mais pessoal acerca deles. São bastantes susceptíveis com coisas do género, especialmente o meu pai. São simpáticos e tudo... não é isso.. mas também são susceptíveis como o raio. E depois não lhes vou contar a merda da minha autobiografia toda nem nada que se pareça. Vou-lhes contar só aquela história de loucos que me aconteceu o ano passado por volta do Natal antes de me ter ido completamente abaixo e de ter vindo parar aqui para me pôr em forma. Aliás, também foi só o que contei ao D. B. e ele é meu irmão e tudo. Ele está em Hollywood. Não fica muito longe deste sítio merdoso e vem cá visitar-me praticamente todos os fins-de-semana. É ele que me vai levar de volta para casa quando sair daqui, talvez para o mês que vem. Comprou agora um Jaguar. Um daqueles brinquedinhos ingleses capazes de dar trezentos à hora. E que não lhe custou muito menos do que quatro mil brasas. Tem massa que se farta, agora. Dantes não. Era um escritor a sério, quando estava em casa. escreveu aquele livro de contos incrível, O Peixinho Vermelho Secreto, para o caso de nunca terem ouvido falar. O melhor conto era «O Peixinho Vermelho Secreto». Era sobre um miudito que não deixava ninguém ver o peixinho vermelho dele porque o tinha comprado com o seu próprio dinheiro. Deixou-me sem fala. Agora está em Hollywood, o D. B., a prostituir-se. Se há uma coisa que odeio, é o cinema. Nem quero que me falem nisso.

P.D.Salinger- The Catcher in the rye
Uma agulha no palheiro/O apanhador no campo de centeio

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29/10/07

NOCTURNOS - 40



noite desce...


Como pálpebras roxas que tombassem
Sobre uns olhos cansados, carinhosas,
A noite desce... Ah! doces mãos piedosas
Que os meus olhos tristíssimos fechassem!

Assim mãos de bondade me embalassem!
Assim me adormecessem, caridosas,
E em braçadas de lírios e mimosas,
No crepúsculo que desce me enterrassem!

A noite em sombra e fumo se desfaz...
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe-me embriagada, louca!

E a noite vai descendo, muda e calma...

Meu doce Amor, tu beijas a minh’alma
Beijando nesta hora a minha boca!

Florbela Espanca

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28/10/07

CAMONIANAS - 38



146
……….

Por isso vós, ó Rei, que por divino
Conselho estais no régio sólio posto,
Olhai que sois (e vede as outras gentes)
Senhor só de vassalos excelentes.

Lus.X,146

152


Fazei, Senhor, que nunca os admirados
Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses,
Possam dizer que são pera mandados,
Mais que pera mandar, os Portugueses.
Tomai conselho só de exprimentados,
Que viram largos anos, largos meses,
Que, posto que em cientes muito cabe,
Mais em particular o experto sabe.


Lus.X,152


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27/10/07

RETRATOS DE UM PAÍS QUE JÁ NÃO HÁ - 23

OMNIA VINCIT AMOR - 88



O guincho do ganso selvagem
Incapaz de resistir
À tentação do meu isco.
Enquanto eu, na confusão do amor,
Incapaz de o apanhar,
fico a ver a ave levar as redes com ela.

E quando a minha mãe voltar, carregada de aves,
E me vir de mãos vazias,
Que lhe vou dizer?

Que não apanhei ave alguma?

Que fui eu a ficar apanhada nas tuas redes?

in Poemas de Amor do Antigo Egipto
Trad. de Hélder Moura Pereira;Assírio & Alvim.

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26/10/07

LEITURAS - 53



Lembro perfeitamente a tarde quieta em que parei à porta da pensão, para tomar um quarto sem refei­ções: Chambre à louer. Puxei a argola de latão da cam­painha e esperei alguns instantes. A porta abriu-se e vi aparecer uma mulher forte, rosada, loira e mal pen­teada, com um avental de riscado azul, por sinal um pouco enxovalhado. Sorriu e acolheu-me cordialmente. Era a patroa - Annette-Marie, Madame Lambertin «para o servir». Levou-me então ao quarto e (supunha eu) último andar, sacudindo chaves e falando sempre numa voz ligeiramente rouca, entrecortada, que a as­censão tornou ofegante. Chegou lá cima quase áfona. Pensei no alcoolismo, em complicações cardíacas. De caminho fiquei sabendo a história de quase todos os hóspedes, gente sossegada, nenhum barulho. Um cão preto, pequeno, sem rabo nem raça, subia jovialmente adiante de nós: era o Bouboule, «um amor». Nos pata­mares pulava-me entre as pernas, a lamber-me os de­dos, como se fôssemos velhos conhecidos.O quarto tinha duas grandes janelas para o céu leitoso, os telhados velhos e as chaminés apinhadas. Papel desbotado nas paredes, o oleado gasto, com al­guns remendos, a cama larga e fofa, e um fogão de ferro de modelo antigo. Era modesto e a renda em conta. Decidi ficar.

José Rodrigues Miguéis - Léah e outros contos -abertura

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25/10/07

POETAS MEUS AMIGOS - 61



Pacto


falemos sobre as pequenas coisas que nos cercam
falemos vagarosamente para que durem
um mínimo instante além do tempo que as fitamos

para as grandes coisas
já dedicamos toda a nossa pressa
e ela não foi capaz de nos dar conforto
nem de solucionar os graves problemas humanos

dediquemos às pequenas coisas um olhar preguiçoso

melhor ainda
façamos um pacto de silêncio enquanto caminhamos
de mãos dadas como Ricardo e Lídia à beira do riacho
onde eu nunca me havia dado conta
dos pés de avenca na sombra amarela do Ipê

façamos um pacto de silêncio para ouvir os pássaros
façamos um pacto de silêncio para ouvir as águas
e os seixos que rolam no seu leito

façamos silêncio para ouvir o vento
façamos silêncio porque as palavras estão gastas
como os seixos que rolam ao sabor das circunstâncias.

Fred Matos - in http://fredmatos.multiply.com/

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24/10/07

DESASSOSSEGOS - 63


foto de eli

abismos


Entre estes meus amigos através
de cujos corações arde o horizonte e a ponte
da qual o seu sorriso era um dos arcos
abriram-se os abismos.

luis miguel nava - poesia completa-1979-1994
publicações dom quixote - 2002

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23/10/07


Eu estive lá...apareci ...e foi um prazer...

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PÉROLAS - 119


foto SimonTyszko


Explicação da noite

Sobre a água estarei solto de caminhos
Dos que vierem nenhum barco é para ti

Não deixes a candeia acesa
Dorme: basta-me essa luz.

Daniel Faria - In Explicação das aves e de outros animais

22/10/07

DO FALAR POESIA -72

Poética

Escribo por juego y de veras, para mezclar mentira y placer, confesión e hipótesis, confusión ante todo; porque es refugio contra la tormenta, como cantaba Dylan, o una habitación que se le añade a la casa de la vida, que decía Bioy; porque las palabras de los otros me ordenan el mundo y me lo desordenan, quiero saber qué pasa si yo lo intento.

José Oscar Lopez

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20/10/07

REVIVALISMOS - 12


ce qu'ils sont mignons...

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PENSAR - 69





[Estou só]


Estou só - estás só. Não penses. Não fales. És em ti apenas o máximo de ti. Qualquer coisa mais alta do que tu te assumiu e rejeitou como a árvore que se poda para crescer. Que te dá pensares-te o ramo que se suprimiu? A árvore existe e continua para fora da tua acidentalidade suprimida. O que te distingue e oprime é o pensamento que a pedra não tem para se executar como pedra. E as estrelas, e os animais. Funda aí a tua grandeza se quiseres, mas que reconheças e aceites a grandeza que te excede.


Vergílio Ferreira , in Para Sempre

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19/10/07

DE AMICITIA - 63



"Ser amigo já inclui todo e qualquer ser / estar agradecido".

José Perdigão di Cavalcanti

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18/10/07

LEITURAS - 52



[De A Obra ao Negro]

Henrique Maximiliano Ligre prosseguia, em pequenas etapas, o seu caminho em direcção a Paris.Tudo ignorava sobre as querelas que opunham o rei ao imperador. Sabia apenas que a paz reinante havia alguns meses se ia esfiapando como uma veste já muito usada. Não era segredo para ninguém que Francisco de Valois continuava à espreita do Milanês como um amante infortunado espia a sua bela; sabia-se, de fonte segura, que se ocupava, à socapa, em equipar e concentrar junto às fronteiras do duque de Sabóia um exército totalmente novo, encarregado de ir buscar a Pavia as suas perdidas esporas. Misturando com frases soltas de Virgílio as secas narrativas de viagem do banqueiro seu pai, Henrique Maximiliano imaginava, para lá das montanhas couraçadas de neve, filas e filas de cavaleiros a descerem para os grandes plainos férteis e belos como um sonho: planícies ruivas, nascentes borbotejantes onde brancos rebanhos vêm beber, cidades cinzeladas como cofres regurgitantes de oiro, especiarias e coiro trabalhado, ricas como feitorias, solenes como igrejas; jardins cheios de estátuas, salas cheias de manuscritos raros; mulheres vestidas de seda afáveis para o grande capitão; toda a espécie de requintes de mesa e de deboche e, sobre as mesas de prata maciça, em ânforas de vidro de Veneza, o brilho macio do malvasia. Deixara sem pesar, alguns dias antes, a sua casa natal de Bruges e o seu futuro como filho de comerciante.

Marguerite Yourcenar, in A Obra Ao Negro - abertura

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17/10/07

«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE» - 17



caminho


II

Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quê, nem eu o sei.
– Bom dia, companheiro, te saudei,
Que a jornada é maior indo sozinho.

É longe, é muito longe, há muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei...
Na venda em que poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.

É no monte escabroso, solitário,
Corta os pés como a rocha dum calvário,
E queima como a areia!... Foi no entanto

Que chorámos a dor de cada um...
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos que beber do mesmo pranto.


Camilo Pessanha, Clepsydra

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16/10/07

OMNIA VINCIT AMOR - 86


img.:diogo rivera

- É isto. Ouve com atenção. Meditei sobre o amor, e esclareci tudo. Vi claramente o que está errado. Os homens apaixonam-se pela primeira vez. E por quem se apaixonam eles?

A boca macia do garoto estava entreaberta; e o rapaz não respondeu.

- Por uma mulher -- disse o velho. Sem ciência, sem nada que os sustente, entregam-se à experiência mais perigosa e sagrada desta terra de Deus. Apaixonam-se por uma mulher. Não é isto verdade, meu filho?
-É... respondeu murmuradamente o rapaz.

- Começam pelo lado errado do amor. Começam pelo mais alto. É para admirar a tão grande miséria resultante? Sabes como os homens deveriam amar? O velho estendeu a mão e agarrou o rapaz pela gola da blusa de couro. Sacudiu-o suavemente, e os olhos verdes olhavam sem pestanejar, graves.

- Meu filho, sabes como o amor devia começar?

O rapaz sentia-se pequeno no banco, todo ouvidos, imóvel.

E, devagar, abanou a cabeça. O velho chegou-se mais e segredou:

- Uma árvore. Um rochedo. Uma nuvem.

Carson McCullers
Encontrado em http://www.theresonly1alice.blogspot.com/

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15/10/07

DESASSOSSEGOS - 62


foto:maria gomes

Fragilidade

A sorte da pedra
é tornar-se areia.

Mas quem não soluça
pensando em teu rosto

reduzido a poeira...

Cecília Meireles

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14/10/07

NOCTURNOS - 39



Entre a sombra e a noite há um submisso instante
de preparação.
Aberto espaço onde aves não cantam,
imaculado, instantâneo refúgio.
Entre a sombra e a noite, único passo!

— E é serena e frágil a presença
dos nossos vultos passageiros
isolados na própria condição.

Onde nada se move, uma estrela suspensa.

E tão inutilmente despedaço o encanto,
e tão súbita me vem uma tristeza antiga,
que entre a sombra e a noite encontro o meu refúgio
— o intocável, único espaço.

Maria Alberta Meneres
«achado» em http://um-buraco-na-sombra.netsigma.pt/

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13/10/07

CONVITE

A Âmbar - Ideias no papel, a Casa Fernando Pessoa - e eu própria - temos o prazer de vos convidar a assistir à sessão de lançamento do livro Fernando Pessoa - O menino da sua mãe - que será apresentado pelo Prof.Dr.José Augusto Cardoso Bernardes no próximo dia 17 de outubro, pelas 18:30, na Casa Fernando Pessoa - na Rua Coelho da Rocha,16 - Campo de Ourique - em Lisboa (às Amoreiras)

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ESCREVER - 57



A Casa do Escritor

O escritor organiza-se no seu texto como em sua casa. Comporta-se nos seus pensamentos como faz com os seus papéis, livros, lápis, tapetes, que leva de um quarto para o outro, produzindo uma certa desrodem. Para ele, tornam-se peças de mobiliário em que se acomoda, com gosto ou desprazer. Acaricia-os com delicadeza, serve-se deles, revira-os, muda-os de sítio, desfá-los. Quem já não tem nenhuma pátria, encontra no escrever a sua habitação. E aí produz, como outrora a família, desperdícios e lixo.
Mas já não dispõe de desvão e é-lhe muitíssimo difícil livrar-se da escória. Por isso, ao tirá-la da sua frente, corre o risco de acabar por encher com ela as suas páginas. A exigência de resistir à auto-compaixão inclui a exigência técnica de defrontar com extrema atenção o relaxamento da tensão intelectual e de eliminar tudo quanto tenda a fixar-se como uma crosta no trabalho, tudo o que decorre no vazio, o que talvez suscitasse, num estádio anterior, como palavriado, a calorosa atmosfera em que emerge, mas agora permanece bafiento e insípido. Por fim, já nem sequer é permitido ao escritor habitar nos seus escritos.

Theodore Adorno, in "Minima Moralia"

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12/10/07

POETAS MEUS AMIGOS - 60


henri matisse

Matinal

no café da manhã
o sol corta em diagonais
a realidade
– caleidoscópio nos muros
gotas de luz na jarra da laranja
e da janela azul
uma inaudível canção
a avassalar inquietante
o coração do dia

Adelaide Amorim
in http://www.meublog.net/adelaideamorim/

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11/10/07

ESCREVER - 56



Escrevo

Escrevo já com a noite
em casa. Escrevo
sobre a manhã em que escutava
o rumor da cal e do lume,
e eras tu somente
a dizer o meu nome.
Escrevo para levar à boca
o sabor da primeira
boca que beijei a tremer.
Escrevo para subir
às fontes.
E voltar a nascer.

Eugénio de Andrade, Os Sulcos da Sede.

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10/10/07

DESASSOSSEGOS - 61



Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra disse:
Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Carlos Drummond de Andrade

De Alguma poesia (1930)

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09/10/07

REVIVALISMOS -10


...era para dar «inteligência»... e que tomávamos sobretudo em alturas de exames...

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08/10/07

LEITURAS- 51

... Provavelmente, são as recordações enterradas que conferem esse singular hiperrealismo ao que vemos em sonhos. Mas talvez seja outra coisa, algo de nebuloso, de velado que faz com que, paradoxalmente, tudo nos apareça mais nítido em sonhos. Um pequeno charco de água torna-se um lago, uma brisa, uma ventania, uma mancheia de pó, um deserto, um grão de enxofre no sangue, um fogo vulcânico. Que teatro é esse em que somos ao mesmo tempo dramaturgo, actor, maquinista, cenógrafo e público? Será preciso, para atravessar o espaço do sono, mais ou menos entendimento do que o que levámos para a cama?

W.G. Sebald, "Os Anéis de Saturno"
Ed.Teorema

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06/10/07

NOCTURNOS - 38


foto de ana assunção

Vê, no espanto da lua,
quanta gente
caminha, quanta gente
vem subindo ao luar
desde o fundo dos anos:
às vezes o verão, de noite, traz
um cortejo assim, seres já sem nome,
e se o vires, descobres
que longos são os trilhos
e até onde, sentada, te levaram
à espera que o calor
da terra passe
e o coaxar das rãs suba às estrelas
distantes e vazias,e, com isso, a gente ida
que no poema vejo suceder-se
em frente dos teus olhos,
e tu talvez sentindo o fim de Julho
e a paisagem da noite,
eternidade surda de pedras e carvalhos ao luar.

nuno dempster
publ.em http://musasesqueleticas.blogspot.com/

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05/10/07

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 43


As rosas de Saadi


Queria de manhã trazer-te algumas rosas;
Mas na cintura as recolhi tão numerosas
Que o laço que amarrei não as pôde encerrar.

O laço se desfez. Levadas pelo vento,
As rosas para o mar se foram num momento;
E nas águas se vão pra nunca mais voltar;

O mar me pareceu rubro, como incendido.
É noite e perfumado ainda está meu vestido...
O cheiro da lembrança em mim hás-de encontrar.

Marceline Desbordes-Valmore (1786-1859)

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04/10/07

CONVITE


O convite pode ser também visualizado em
http://www.mundopessoa.blogspot.com/

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DE AMICITIA - 62




Os amigos

Voltar ali onde
A verde rebentação da vaga
A espuma o nevoeiro o horizonte a praia
Guardam intacta e impetuosa
Juventude antiga -
Mas como sem os amigos
Sem a partilha o abraço a comunhão
Respirar o cheiro a alga da maresia
E colher a estrela do mar em minha mão

Sophia Andresen - in Musa -1994

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03/10/07

O PRAZER DE LER - 71


na foto:paul newman - lendo

Da Leitura

O ler faz um homem completo, o conferir destro, o escrever exacto. Bem por isso, se alguém escreve pouco, deve ter boa memória; se confere pouco, muita sagacidade; se lê pouco, muita manha para afectar saber o que não sabe.

Francis Bacon, in "Ensaios Civis e Morais"

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02/10/07

POETAS MEUS AMIGOS - 59


foto de maria gomes

Assemia

prefiro as
canções da
pedra

rocha adentro
cinzelar
o poema


extrair a
parti(dura)
do seu silêncio

abismal

Sandra Baldessin

sandraregina.multiply.com

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01/10/07

DESASSOSSEGOS - 60




A pedir lume

Também eu andei assim
a pedir lume
como se o não tivesse. Como se os cigarros
não fossem mais que um pretexto
para esconder da dissolução
o medo. Também eu andei assim
na rua
procurando um rosto que me desabrigasse
e erguesse ao lodo sublime

da água. Procura-me tu agora
nos bolsos
oh tão vagarosa estrangeira
mais que as chaves de casa.



José Carlos Barros - in - http://casa-de-cacela.blogspot.com/

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