30/11/07

A MORTE É A CURVA DA ESTRADA


grafitto - foto de ana assunção

Porque há exactamente 72 anos ele deixou de ser visto...

A morte é a curva da estrada

A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
[...]

Iniciação

Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
........................................
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro
tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.

Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nú.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
(...)
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não 'stás morto, entre ciprestes.

.............................................
Neófito, não há morte.

Fernando Pessoa

Etiquetas: ,

29/11/07

NOCTURNOS - 42



Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo, triste e lento
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração, que tumultua,
Tu vertes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!

Antero de Quental - Sonetos

Etiquetas:

28/11/07

DA EDUCAÇÃO - 31

foto:robert doisneau

"É óbvio que o sistema escolar, em geral, e o educador em particular não têm o poder e a influência para estabelecer uma sociedade moral; pensar assim seria uma ingenuidade. Mas também é certo que educar é uma responsabilidade pública e fazê-la de uma maneira ou de outra tem suas consequências. Ao Estado e aos governos corresponde as iniciativas, os apoios, as políticas redistributivas, mas a Escola e o professor são responsáveis na construção de uma sociedade mais humana, mais justa e nisso têm de se comprometer ainda que os resultados sejam escassos ou nulos. Que o resultado não depende totalmente de nós é algo que Kant viu com toda a lucidez. Que posso esperar se faço o que devo?, perguntou-se como anotação final do seu sistema ético, e a resposta foi mais ou menos esta: nada mais que a satisfação de haver actuado como devia."


Juan Escámez (1996)- "Una propuesta de educación en Valores en el nivel de secundaria" Revista Interuniversitaria de Formación del Profesorado. N.º 25, pp. 21-35.
Trad. de Henrique Santos in http://edutica.blogspot.com/

Etiquetas:

27/11/07

LANÇAMENTO



Paulo Tavares é um poeta meu amigo
(ver secção Poetas meus amigos - 26)
e
apresenta o seu 1º livro de poesia - Pêndulo - no dia 6 de Dezembro, pelas 19 horas, na Casa Fernando Pessoa - em Lisboa. (edições Quasi , 2007).
O Paulo é igualmente autor do blogue:

Etiquetas:

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 45



Vinham rosas na bruma florescida
rodear no teu nome a sua ausência.
E a si se coroavam, e tingiam
a apenas sombra de sua transparência.

Coroavam-se a si. Ou no teu nome
a mágoa que vestiam madrugava
até que a bruma dissipasse o bosque
e ambos surgissem só lugar de mágoa.

Mágoa não de antes ou de depois. Presente
sempre actual de cada bruma ou rosa,
relativos ou não no espelho ausente.

E ausente só porque, se não repousa,
é nome rodopio que, na mente,
embruma a brisa em que se aviva a rosa.


Fernando Echevarría

Etiquetas:

26/11/07

A Livraria Arquivo tem o prazer de o/a convidar para a sessão

À conversa com...
Amélia Pinto Pais
A propósito do seu livro
Fernando Pessoa, o menino da sua mãe
Apresentação de Soledade Santos.
Leituras de Mercília Francisco
sábado 1 de Dezembro 17:30 horas

Etiquetas:

POETAS MEUS AMIGOS - 65

foto de willem wernsen
ao V.P.em memória
repara nesses traços,
a giz, no chão
e como cada traço é
um dia, um gesto,
o que perdura de um sorriso

repara como depois a água
devolve brilho polido
à rugosa superfície das coisas

repara, por fim, como pareces
ficar parado, suspenso, no
precipício de um cruzamento
ou como, por erro de paralaxe,
sou eu que fico eternamente preso
à esquina, enquanto tu, leve como
um sorriso, a barba em novelo,
te afastas rua fora, ao
encontro do teu destino

Miguel b.(innersmile)

Etiquetas:

25/11/07

Para ver melhor: fazer zoom sobre a imagem.

Etiquetas:

O QUE É UM CLÁSSICO?

O que é um «clássico»?





Qual a força motriz da sua persistência ao longo dos tempos, através das línguas e das sociedades em constante transformação? O que é que autoriza as batidas da bengala branca do cego Homero na Dublin de Joyce? Eu defino um «clássico», seja na literatura, na música, nas artes ou na filosofia, como uma forma significante que nos «lê». Lê-nos mais do que nós o lemos (ouvimos, percepcionamos). Não há nada de paradoxal, muito menos de místico, nesta definição. De cada vez que entramos nele, o clássico questiona-nos. Desafia os recursos da nossa consciência e do nosso intelecto, da mente e do corpo (grande parte da resposta estética primária, e até intelectual, é física). O clássico perguntar-nos-á: «compreendeste?» «re-imaginaste com responsividade?»; «estás preparado para agir sobre as transformações, sobre as possibilidades de uma outra existência, mais enriquecida, que eu formulei?»

George Steiner, in Errata: Revisões de uma vida
ed. Relógio D'Água

Etiquetas:

24/11/07

OMNIA VINCIT AMOR - 91


Como te amo

Como te amo? Deixa-me contar os modos.
Amo-te ao mais fundo, amplo e alto
Minh'alma pode alcançar, além dos limites visíveis
E fins do Ser e da Graça ideal.

Amo-te até ao nível das mais diárias
E ínfimas necessidades, à luz do sol e das velas.
Amo-te com liberdade, como os homens buscam por Justiça;
Amo-te com pureza, como voltam das Preces.

Amo-te com a paixão posta em uso
Nas minhas velhas mágoas e com a fé da minha infância.
Amo-te com um amor que me parecia perdido

Com meus Santos perdidos - amo-te com o fôlego,
Sorrisos, lágrimas, de toda a minha vida! - e, se Deus quiser,
Amar-te-ei melhor depois da morte.


Elizabeth Barrett Browning (1806 - 1861)

Etiquetas:

23/11/07

...DE UM PAÍS QUE QUASE JÁ NÃO HÁ -24

PÉROLAS -120



só o verde fala neste tempo de silêncio

somos gastos pelos ruídos do lado de fora das árvores
espera, pensei em folhas e a primavera explodiu-me na boca

Maria Sousa

in http://www.theresonly1alice.blogspot.com/

Etiquetas:

22/11/07

LEITURAS - 57


" Dei-lhe a minha música e a minha respiração, os meus pensamentos e o bater do meu coração, tal como um caminhante pela manhã se entrega ao leve azul e ao claro brilho do prado, sem perguntas e sem se perder a si próprio. Ao mesmo tempo, o bem-estar e a crescente torrente de sons enchiam-me de uma felicidade espantosa, e subitamente soube o que era o amor."





Herman Hesse-Gertrud

Etiquetas: ,

21/11/07

ESCREVER - 59



"Um livro tem que ser um machado para o mar congelado dentro de nós.
A literatura só é digna desse nome quando descongela o sangue de quem lê."
Franz Kafka

Etiquetas: ,

20/11/07

«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE» - 18



Queda
(A João P. Vasco)

O meu coração desce,
Um balão apagado.

Melhor fora que ardesse
Nas trevas incendiado.

Na bruma fastidienta...
Como à cova um caixão.

Porque ante não rebenta
Rubro, numa explosão?

Que apego inda o sustem?
Átono, miserando.

Que o esmagasse o trem
De um comboio arquejando.

O inane, vil despojo.
Da alma egoísta e fraca...

Trouxesse-o o mar de rojo
Levasse-o na ressaca.

Camilo Pessanha,Clepsydra

Etiquetas: ,

19/11/07

NOCTURNOS - 41


foto de eli

deve existir uma outra
noite
onde caibamos todos

inocentemente felizes
a comer laranjas
e a discutir problemas de aromas
de flores



Francisco Duarte Mangas- Pequeno Livro da terra

Etiquetas:

18/11/07

POETAS MEUS AMIGOS - 64


«Maternidade»-Almada Negreiros

as mãos


olhou o pão na mesa e deixou cair
as mãos como sementes
para que tudo crescesse a partir
do chão

/olhou o mar/ e viu as lágrimas
das trevas
iluminadas pelo céu

depois sentiu que se fechasse os olhos
por um pequeno instante /
tudo voltaria ao caos


as mães têm as mãos grandes

Maria Azenha

Etiquetas:

17/11/07

REVIVALISMOS - 14

e continua?

Etiquetas:

DESASSOSSEGOS - 64



não te escrevas
entre os mundos,

ergue-te contra
a variedade dos sentidos,

confia no rasto das lágrimas
e aprende a viver.

Paul Celan –A Morte é uma flor

Etiquetas:

16/11/07

LEITURAS - 56

(...) O homem que assim se aproxima, vago entre as cordas de chuva, é o meu avô. Vem cansado, o velho .Arrasta consigo setenta anos de vida difícil, de privações, de ignorância. E no entanto é um homem sábio, calado, que só abre a boca para dizer o indispensável. Fala tão pouco que todos nos calamos para o ouvir quando no rosto se lhe acende algo como uma luz de aviso. Tem uma maneira estranha de olhar para longe, mesmo que esse longe seja apenas a parede que tem na frente. A sua cara parece ter sido talhada a enxó, fixa mas expressiva, e os olhos, pequenos e agudos, brilham de vez em quando como se alguma coisa em que estivesse a pensar tivesse sido definitivamente compreendida. É um homem como tantos outros nesta terra, neste mundo, talvez um Einstein esmagado sob uma montanha de impossíveis, um filósofo, um grande escritor analfabeto. Alguma coisa seria que não pôde ser nunca. Recordo aquelas noites mornas de Verão, quando dormíamos debaixo da figueira grande, ouço-o falar da vida que teve, da Estrada de Santiago que sobre as nossas cabeças resplandecia, do gado que criava, das histórias e lendas da sua infância distante. Adormecíamos tarde, bem enrolados nas mantas por causa do frio da madrugada. Mas a imagem que não me larga nesta hora de melancolia é a do velho que avança sob a chuva, obstinado, silencioso, como quem cumpre um destino que nada poderá modificar. A não ser a morte. Este velho, que quase toco com a mão, não sabe como irá morrer. Ainda não sabe que poucos dias antes do seu último dia terá o pressentimento que o fim chegou, e irá de árvore em árvore do seu quintal, abraçar os troncos, despedir-se deles, das sombras amigas, dos frutos que não voltará a comer. Porque terá chegado a grande sombra, enquanto a memória não o ressuscitar no caminho alagado ou sob o côncavo do céu e a eterna interrogação dos astros. (...)
José Saramago - As Pequenas Memórias

Etiquetas:

15/11/07

PÉROLAS - 119





Contemplo ainda a poeira do mundo exterior:

Na esfera do sonho que faria eu de novo?




Han-Shan, O vagabundo do Dharma

Etiquetas:

14/11/07

LER OS CLÁSSICOS -75



Contra as fadigas do desejo

E quem me compusera do desejo,
Que grande bem, que grande paz me dera!
Ou, por força, com ele hoje fizera,
Que me não vira, em quanto assi me vejo!

O que eu reprovo; elege; e o que eu elejo,
Ele o reprova, como se tivera
Sortes a seu mandar, em que escolhera,
Contra as quais só por ele em vão pelejo.

Anda a voar do árduo ao impossível,
E para me perder de muitos modos,
Finge que a honra é certa no perigo.

Pois se nunca pretende o que é possível,
Como posso esperar ter paz com todos,
Quando não posso nem ter paz comigo?

D.Francisco Manuel de Melo - s.XVII

Etiquetas:

13/11/07

DO FALAR POESIA - 73



“Mas o que vou dizer da Poesia? O que vou dizer destas nuvens, deste céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo, e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada da poesia. Isso fica para os críticos e professores. Mas nem tu, nem eu, nem poeta algum sabemos o que é a poesia."


Federico Garcia Lorca

Etiquetas:

12/11/07

INESIANAS - 17

«Sou o rei... o rei do maior reino... do reino que me deste, minha Inês... Duas vezes Rainha!... Santa! Santa!... Se estou aqui ao pé de ti – tudo foi bom!... A minha dor, Inês, beijo-a nos olhos!... beijo-a como beijei a tua boca... como – cerrando os olhos na saudade – beijei, beijei, beijei a tua alma... Tudo, tudo foi bom. Tudo eu bendigo. Oiço bater o coração do meu destino. Agora sei, Inês... agora entendo. Morreste moça – para viveres na eternidade sempre moça. Bendito seja sempre o teu martírio! Bendito o lobo em mim... bendita a hiena...»

António Patrício in Pedro o Cru

Etiquetas: ,

11/11/07

POETAS MEUS AMIGOS - 63



postal ilustrado

nuvens pequenas no céu alto e familiar
faixas cinza no tejo manso e um cheiro
a castanhas assadas – lisboa
percorrida como não tendo outro
destino que desaguar na tarde

pastorear as crianças no parque
ouvir os desvarios agudos voltar a ser assim mas
onde os céus fossem estranhos e eu não
soubesse a que cheira o entardecer
a que sabe uma castanha adoçada de saliva

lisboa à noite é uma praça de província
a voz insegura um homem no palco chora
a miragem do amor e do império a minha
história margarita nos lábios
sais ribeirinhos de impulso vão

Soledade Santos
http://nocturnocomgatos.weblog.com.pt/

Etiquetas:

10/11/07

REVIVALISMOS -13



Belezas de época - banhistas (1919)

Etiquetas:

DE AMICITIA - 65




Um Amigo

Há uma casa no olharde um amigo.
Nela entramos sacudindo a chuva.
Deixamos no cabide o casaco
fumegando ainda dos incêndios do dia.
Nas fontes e nos jardins


das palavras que trazemos
o amigo ergue o cálice
e o verão
das sementes.
Então abre as janelas das mãos para que cantem
a claridade, a água
e as pontes da sua voz
onde dançam os mais árduos esplendores.

Um amigo somos nós, atravessando o olhar
e os véus de linho sobre o rosto da vida
nas tardes de relâmpagos e nos exílios,

onde a ira nómada da cidade arde
como um cego em busca de luz.

Eduardo Bettencourt Pinto
Encontrado em modus vivendi - http://amata.anaroque.com/

Etiquetas:

09/11/07

ESCREVER - 58

arpad szenes - sophia

O artista não é, e nunca foi, um homem isolado que vive no alto duma torre de marfim. O artista, mesmo aquele que mais se coloca à margem da convivência, influenciará necessariamente, através da sua obra, a vida e o destino dos outros. Mesmo que o artista escolha o isolamento como melhor condição de trabalho e criação, pelo simples facto de fazer uma obra de rigor, de verdade e de consciência ele irá contribuir para a formação duma consciência comum. Mesmo que ele fale somente de pedras ou de brisas a obra do artista vem sempre dizer-nos isto: que não somos apenas animais acossados na luta pela sobrevivência mas que somos, por direito natural, herdeiros da liberdade e da dignidade do ser.
Sophia Andresen
( palavras ditas em 11 de Julho de 1964 no almoço promovido pela Sociedade Portuguesa de Escritores por ocasião da entrega do Grande Prémio de Poesia atribuído a Livro Sexto. )

Etiquetas:

08/11/07

OMNIA VINCIT AMOR - 90



Mieux vaut mourir d'amour que d'aimer sans regrets
Mais vale morrer de amor do que amar sem mágoas

Paul Eluard

Etiquetas:

07/11/07

LEITURAS- 55

"Por isso, meu caro amigo e companheiro, se me considerais algo avaro de narrativa no começo,- sede indulgente, - e deixai-me prosseguir, contando a minha história à minha maneira: -ou, se acaso aqui e ali eu me puser com brincadeiras ao longo do caminho, -ou se por vezes, por um instante ou dois, enfiar o barrete de bobo com guizos nesta nossa caminhada, - não fujais, - mas antes, com cortesia, dai-me crédito por um pouco mais de siso do que aquele que por fora eu aparento; - e assim, enquanto vamos andando, ride-vos comigo, ou ride-vos de mim, ou fazei em suma qualquer coisa, - mas conservai a calma."


Lawrence Sterne"A Vida e Opiniões de Tristram Shandy".
Parte Primeira, volume I,cap.VI -trad. de Manuel Portela

Etiquetas:

06/11/07

LER OS CLÁSSICOS - 74



Encarecimento dos rigores de Anarda

Se meu peito padece,

O rochedo mais duro se enternece;
Se afino o sentimento,
O tronco se lastima do tormento;
Se acaso choro e canto,
A fera se entristece do meu pranto;

Porém nunca essas dores
Abrandam, doce Anarda, teus rigores.
Oh condição de um peito!
Oh desigual efeito!
Que não possa abrandar tua alma austera
O que abranda ao rochedo, ao tronco, à fera.

Manoel Botelho de Oliveira - ( Salvador-1636, Salvador-1711 ) - o 1ºpoeta, nascido no Brasil, a ter um livro publicado - ( 1705 - Música do Parnaso )

Etiquetas:

05/11/07

O PRAZER DE LER - 72




Estante


Às vezes fecho o livro que estou lendo
para expurgar fantasmas
que como deuses me invadem.

Os livros têm licença de mentir
ou sufocar de verdades quem se arrisca.
Explicam nossas culpas
ou tocam sem cortesia na alma de quem lê
e atingem irreverentes os sentidos.

Às vezes me percebo nas palavras
outras, sofro
quando sem compaixão nem saída
a vida escrita esmaga um personagem.

Palavras que se atraem mutuamente,
escritos e leitores dão-se as mãos
a evocar instâncias
e bifurcar-se num jardim de Borges
multiplicados enfim,
outras histórias,
sobre segredos, memórias, sons e sonhos.

Perseverantes e inertes nas estantes
estão vivos:
habitam-nos razões inesperadas
canais de lágrimas e motes para o riso.

Em sua secreta música encapada
uns são baladas
outros sinfonias
outros ainda notas dissonantes
mutantes harmonias em palavras.

Adelaide Amorim
http://inscries.blogspot.com/


Etiquetas:

04/11/07

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 44



Le sais-tu, oui!
Pour moi voici des ans, voici
Toujours que ton sourire éblouissant prolonge
La même rose avec son bel été qui plonge
Dans autrefois et puis dans le futur aussi.


Stéphane Mallarmé

Etiquetas:

03/11/07

POETAS MEUS AMIGOS - 62


foto:Marcos Pedrosa

Saem ao sol e à noite. Choram, riem, velam, desvendam. Até nos silêncios.
Mostram-nos e
nem sempre é o desejado.

Sabem que são amor e desamor, luz, gelo, veneno. Não são atentas.
Não nos mostram e
não é o esperado.


As palavras não são afáveis.

Zeferino Silva (Zef)
http://www.vozromazeira.blogspot.com/

Etiquetas:

02/11/07

OMNIA VINCIT AMOR -89


azulejo da fábrica da Viúva Lamego

Etiquetas:

UMA ATITUDE SE IMPÕE:AFRONTAMENTO - 6



O Vosso tanque General, é um carro forte
Derruba uma floresta esmaga cem
Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista.

O vosso bombardeiro, General,
É poderoso:
Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
- Precisa de um piloto.

O homem, meu General, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito - Sabe pensar.

Bertold Brecht

Etiquetas:

01/11/07

OS MEUS POETAS- 79



Desdita


Um dia compreendeu como seus braços eram
Somente feitos de nuvens;
Impossível com nuvens abraçar até ao fundo
Um corpo, uma sorte.
A sorte é redonda e conta lentamente
As estrelas do estio.
Fazem falta uns braços seguros como o vento,
E como o mar um beijo.
Mas ele como seus lábios,
Como seus lábios não sabe senão dizer palavras;
Palavras até ao tecto,
Palavras até ao solo,
E seus braços são nuvens que transformam a vida
Em ar navegável.



Luis Cernuda , um Rio, um Amor - Os Prazeres Proibidos
Tradução de João Emanuel Diogo- ariadne editora 2003

Etiquetas:

Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com Licença Creative Commons