01/02/08

LEITURAS - 65



[...]

Você está a sentir-se mal? - perguntou-lhe.Remedios, a bela, que segurava o lençol pelo outro extremo, teve um sorriso de piedade.- Pelo contrário - disse, - nunca me senti tão bem. Acabava de dizer isto quando Fernanda sentiu que um delicado vento de luz lhe arrancava os lençóis das mãos e os estendia em todaa sua amplitude. Amaranta sentiu um tremor misterioso nas rendas das suas anáguas e tratou de se agarrar ao lençol para não cair, no momento em que Remedios, a bela, começava a ascender. Úrsula, já quase cega, foi a única que teve serenidade para identificar a natureza daquele vento irremediável e deixou os lençóis à mercê da luz, olhando para Remedios, a bela, que lhe dizia adeus com a mão, entre o deslumbrante bater de asas dos lençóis que subiam com ela, que abandonavam com ela o ar dos escaravelhos e das dálias e passavam com ela através do ar onde as quatro da tarde terminavam, e com ela se perderam para sempre nos altos ares onde nem os mais altos pássaros da memória a podiam alcançar.[...]
Gabriel García Márquez - excerto de Cem anos de solidão (Pub. EA , 1971)

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