02/03/10

OS MEUS POETAS - 136



Casa da Misericórdia

O pai fuzilado.

Ou, como diz o juiz, executado.
A mãe, a miséria e a fome,
a instância que alguém lhe escreve à máquina:
Saludo al vencedor, Segundo Año Triunfal,
Solicito a Vuecencia deixar os filhos
nesta Casa da Misericórdia.
O frio do seu amanhã está numa instância.

Os orfanatos e hospícios eram duros,
mas ainda mais dura era a intempérie.
A verdadeira caridade dá medo.
É como a poesia: um bom poema,
por mais belo que seja, tem de ser cruel.
Não há mais nada.
A poesia é agora
a última casa da misericórdia.


Joan Margarit - Casa da Misericórdiaed.(bilingue:catalão-português) -trad. de Rita Custódio e Àlex Tarradellas, Ovni, 2009]

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