31/01/10

O 31 DE JANEIRO DE 1891




Gravura ilustrando o 31 de janeiro - 1ªtentativa, na mui nobre, leal e invicta cidade do Porto - prontamente reprimida, como se pode ver na gravura, de implantação da república em Portugal, - que hoje e este ano se comemora.

in http://www.centenariodarepublica.org/centenario/

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O PRAZER DE LER - 106



Da literatura

"Há uma literatura para quando se está aborrecido. Abunda. Há uma literatura para quando se está calmo. Esta é a melhor literatura, acho eu. Também há uma literatura para quando se está triste. E há uma literatura para quando se está alegre. Há uma literatura para quando se está ávido de conhecimento. E há uma literatura para quando se está desesperado."

Roberto Bolaño, in Os Detectives Selvagens
trad. Miranda das Neves
«achado em http://amata.anaroque.com/

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30/01/10

LI E GOSTEI



Os aeroportos são rampas donde partem
grandes naves em busca da humanidade,
rumo ao calor de estar vivo.

naus celestes que demandam o amor ao mundo
e a variada gente, e a cor das cidades,
e possuir o tempo no tempo que pulsa da vida.

Nos olhos vai a claridade dos poemas,

a essência do absoluto impossível,

não uma palavra,
mas todas as que haveriam de existir
para que todas as dissesse
e a unidade delas se tornasse em beleza,
essa ideia que se afasta
e volta sempre como agora.

«Apertem os cintos por favor. Não é permitido
o uso de aparelhos electrónicos durante o voo.
Mantenham os telemóveis desligados.

Sorrio.
Não me agarrarão mais do lado de lá do dia-a-dia,
não lhes é comum ouvir

«Senhores passageiros voamos a onze mil metros de

[altitude»,

nem é possível perseguirem-me nas auto-estradas do
[ espaço.

[...]


-versos iniciais do novo livro de
Nuno Dempster, Londres
ed &etc., Lisboa, Jan.2010

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29/01/10

A MORTE É A CURVA DA ESTRADA...



J.D. Salinger - apenas «deixou de ser visto»

Conheci - o em livro de bolso, e em francês, quando li The catcher on the rye (título francês "L'attrape coeurs".) O amigo que mo ofereceu, creio que em 1968, deu-me oito dias para considerar que era o livro mais bonito que tinha lido...Era-o na altura, achei, e continua a ser um dos mais bonitos, ainda. - um dos grandes romances de adolescência. Em português tinha, na altura, o título Uma Agulha em Palheiro e era traduzido por Jorge de Sena ( edição de Livros do Brasil). Feita nova tradução por José Lima com o título "À espera no Centeio" (Difel 2005) Em tempos chegou a integrar programas de inglês do ensino Secundário. Foi o seu principal livro (de resto escreveu poucos).
Ofereci-o a muitos jovens, ao longo da vida.

Notícia :

O escritor norte-americano J.D. Salinger, autor do clássico "À Espera no Centeio" ("Catcher in the Rye" no título original), morreu hoje, no estado do New Hampshire, aos 91 anos.
in Público.pt - notícia relativa a 5ªfeira, 28.


Em 2007, o escritor francês Frédéric Beigbeder tentou encontrar Salinger, numa jornada que ficou registada no documentário «Catching Salanger». Pode ser visto em
http://www.youtube.com/watch?v=K8tycVEG7fs

Para saber mais: http://www.tvi24.iol.pt/internacional/salinger-escritor-americano-tvi24/1135113-4073.html:

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LEITURAS -131


foto de Henri Cartier - Bresson
a verdade

Eu tinha chegado tarde à escola. O mestre quis, por força, saber porquê. E eu tive que dizer: Mestre! quando saí de casa tomei um carro para vir mais depressa, mas, por infelicidade, diante do carro caiu um cavalo com um ataque que durou muito tempo. O mestre zangou-se comigo: Não minta! diga a verdade! E eu tive de dizer: Mestre! quando saí de casa... minha mãe tinha um irmão no estrangeiro e, por infelicidade, morreu ontem de repente e nós ficámos de luto carregado. O mestre ainda se zangou mais comigo: Não minta! diga a ver­dade!!

E eu tive de dizer: Mestre! quando saí de casa... estava a pensar no irmão de minha mãe que está no estrangeiro há tantos anos, sem escrever. Ora isto ainda é pior do que se ele tivesse morrido de repente porque nós não sabemos se estamos de luto carregado ou não.Então o mestre perdeu a cabeça comigo: Não minta, ouviu? diga a verdade, já lho disse!

Fiquei muito tempo calado. De repente, não sei o que me pas­sou pela cabeça que acreditei que o mestre queria efectivamente que lhe dissesse a verdade. E, criança como eu era, pus todo o peso do corpo em cima das pontas dos pés, e com o coração à solta con­fessei a verdade:

Mestre! antes de chegar à Escola há uma casa que vende bonecas. Na montra estava uma boneca vestida de cor-de­-rosa! Mestre! a boneca estava vestida de cor-de-rosa! A boneca tinha a pele de cera. Como as meninas! A boneca tinha tranças caídas. Como as meninas! A boneca tinha os dedos finos. Como as meninas!Mestre! A boneca tinha os dedos finos...

Escrito em 1921 por
José de Almada Negreiros - Obra Poética

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28/01/10

OS MEUS POETAS -133



Apontamento de uma tarde

Que outros cantem as armas e os heróis,
os abismos do ser
ou a complexidade do universo.

Deixai que eu diga a graça irrepetível
desta tarde de abril, a efémera beleza
da luz, que é minha amiga e tranquilamente
acaricia o papel onde escrevo.

Eloy Sánchez Rosillo
lido em http://omelhoramigo.blogspot.com/

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27/01/10

LI E RECOMENDO

«Vezes sem conta perguntávamos: por que estávamos ali, longe de tudo e de todos? Meu pai respondia:
— O mundo acabou, meus filhos. Apenas resta Jesusalém.
Eu era crente das palavras paternas. Ntunzi, porém, considerava tudo aquilo um delírio. Inconformado, voltava a indagar:
— E não há mais ninguém no mundo?
Silvestre Vitalício inspirava como se a resposta pedisse muito peito e, fazendo soltar um demorado suspiro, murmurava:
— Somos os últimos.
[...]
— Mas pai, conte-nos como faleceu o mundo?
— Na verdade já não me lembro.
— Mas o Tio Aproximado…
— O Tio conta muita história…
— Então, pai, nos conte o senhor.
— O caso foi o seguinte: o mundo acabou mesmo antes do fim do mundo… Sobreviveu apenas este lugar.
»
[...]

Mia Couto,Jesusalém (2009)

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26/01/10

CAMONIANAS - 60



Correm turvas as águas deste rio,
Que as do céu e as do monte as enturbaram;
Os campos florescidos se secaram,
Intratável se fez o vale, e frio.

Passou o Verão, passou o ardente Estio,
Úas cousas por outras se trocaram;
Os fementidos Fados já deixaram
Do mundo o regimento, ou desvario.

Tem o tempo sua ordem já sabida;
O mundo, não; mas anda tão confuso,
Que parece que dele Deus se esquece.

Casos, opiniões, natura e uso
Fazem que nos pareça desta vida
Que não há nela mais que o que parece
.


Luís de Camões, Rimas

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25/01/10

«ENSINOU A OBSERVAR EM VERSO» - 22




Ironias do desgosto


"Onde é que te nasceu" - dizia-me ela às vezes -
O horror calado e triste às coisas sepulcrais?
"Porque é que não possuis a verve dos Franceses
"E aspiras em silêncio os frascos dos meus sais?

"Porque é que tens no olhar, moroso e persistente,
"As sombras dum jazigo e as fundas abstracções,
"E abrigas tanto fel no peito, que não sente
"O abalo feminil das minhas expansões?

"Há quem te julgue um velho. O teu sorriso é falso;
"Mas quando tentas rir parece então, meu bem,
"Que estão edificando um negro cadafalso "
E ou vai alguém morrer ou vão matar alguém!

"Eu vim- não sabes tu? - para gozar em Maio,
"No campo, a quietação banhada de prazer!
"Não vês, ó descarado, as vestes com que saio,
"E os júbilos que Abril acaba de trazer?

"Não vês, como a campina é toda abalsamada
"E como nos alegra em cada nova flor?
"Então porque é que tens na fronte consternada
"Um não-sei-quê tocante e de enternecedor?

E eu só lhe respondia: - "Escuta-me. Conforme
"Tu vibras os cristais da boca musical,
"Vai-nos minando o tempo, o tempo - o cancro enorme
"Que te há-de corromper o corpo de vestal.

"E eu calmamente sei, na dor que me amortalha,
"Que a tua cabecinha ornada à Rabagas,
"A pouco e pouco há-de ir tornando-se grisalha
"E em breve ao quente sol e ao gás alvejará!

"E eu que daria um rei por cada teu suspiro,
"Eu que amo a mocidade e as modas fúteis vãs,
"Eu morro de pesar, talvez. porque prefiro
"O teu cabelo escuro às veneráveis cãs!"

Cesário Verde -
Lisboa, 1874. Publicado na Tribuna, 1875.

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24/01/10

O PRAZER DE LER - 105




"Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos."

Nelson Rodrigues
Citado em http://www.releituras.com/releituras.asp

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23/01/10

OS MEUS POETAS - 132




Os corvos crocitam na noite
Nuvens de poeira amarela sobre os muros da cidade.
Os corvos voltam aos seus ninhos e crocitam nos ramos.
Por detrás da cortina azulada da sua janela,
uma jovem tece um brocado em seu tear.
De repente, pára com a lançadeira: pensa tristemente
no marido que está longe.
E, sozinha, no quarto vazio, deixa cair uma chuva de lágri
mas.


Li Po

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22/01/10

APONTAMENTOS


Faça zoom sobre a imagem,retirada de um marcador de livros

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21/01/10

LEITURAS- 130



Tu estavas, avó, sentada na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabias e por onde nunca viajarias, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e disseste, com a serenidade dos teus noventa anos e o fogo de uma adolescência nunca perdida: «O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer.» Assim mesmo. Eu estava lá.
[...]

Entre os bacorinhos acabados de nascer aparecia de vez em quando um ou outro mais débil que inevitavelmente sofreria com o frio da noite, sobretudo se era Inverno, que poderia ser-lhe fatal. No entanto, que eu saiba, nenhum desses animais morreu. Todas as noites, meu avô e minha avó iam buscar às pocilgas os três ou quatro bácoros mais fracos, limpavam-lhes as patas e deitavam- nos na sua própria cama. Aí dormiriam juntos, as mesmas mantas e os mesmos lençóis que cobririam os humanos cobririam também os animais, minha avó de um lado da cama, meu avô no outro, e, entre eles, três ou quatro bacorinhos que certamente julgariam estar no reino dos céus.

[...]

José Saramago em As pequenas Memórias

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20/01/10

POETAS MEUS AMIGOS - 122




Casa


Procuro minha casa
morando em todas as casas do mundo.
Intimamente habito todas elas
contemplo o mar de todas as janelas
em busca de recantos que revelem
segredos escondidos nos armários.

Procuro além dos arcos da varanda
e das paredes e portais antigos
além de móveis, louças
mais que heranças.

Existe em cada casa um ser incerto
que já se foi e ficou
rondando as sombras
durando paralelo
como um perfume passado
como um vôo
fotografado e preso na gaveta.

E numa tarde
à luz de uma vidraça contra o vento
se alguém disser ? lembra dele?
o ausente convocado será
por um momento
pleno como um coração que bate forte.

Adelaide Amorim
http://inscries.blogspot.com

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19/01/10

CARPE DIEM



[das preferências]

"O espírito é variável como o vento
Mais coerente é o corpo, e mais discreto.
Mudaste muita vez de pensamento,
Mas nunca de teu vinho predileto..."

Manuel Antônio Álvares de Azevedo
in Macário

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18/01/10

OMNIA VINCIT AMOR - 139


Dizer-te, meu amigo,
que, à uma da manhã
e desta noite,
está lindo o nevoeiro

que um manto de sossego
assim inteiro
eu desejava dar-te
- e ter comigo.

Enviava-te um frasco,
se pudesse,
fechado em carta azul,

ou por fax de sol
(não fora o medo que o sol
o desfizesse)

Assim, mando daqui
esta espessura
de cheiro muito branco
e muito belo:

um manto de ternura
dobado num novelo,
que chegue
até aí.

Ana Luísa Amaral

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17/01/10

DESASSOSSEGOS -102




« Un lieu, je veux un lieu ! Je veux un lieu à la place du lieu pour revenir à moi-même, pour poser mon papier sur un bois plus dur, pour écrire une plus longue lettre, pour accrocher au mur un tableau, pour ranger mes vêtements, pour te donner mon adresse, pour faire pousser de la menthe, pour attendre la pluie. Celui qui n’a pas de lieu n’a pas non plus de saisons. Pourras-tu me transmettre l’odeur de notre automne dans tes lettres ? Emmène-moi là-bas, s’il reste encore une place pour moi dans le mirage figé. Emmène moi vers les effluves de senteurs que je respire sur les écrans, sur le papier, au téléphone... »

Mahmoud Darwich -Trecho de "Les deux moitiés de l’orange", carta escrita durante o exílio em Paris a Samih al-Kassem, seu amigo residindo na Palestina.

«Um lugar, quero um lugar! Quero um lugar para voltar a mim mesmo, para colocar o meu papel sobre uma madeira mais dura, para escrever uma carta maior, para pregar na parede um quadro, para arrumar os meus fatos. Para te dar o meu endereço, para fazer crescer a menta, para esperar a chuva. Quem não tem um lugar também não tem estações. Poderás tu transmitir-me o cheiro do nosso Outono nas tuas cartas? Leva-me para aí, se é que ainda há um lugar para mim na miragem estagnada. Leva-me para o eflúvios de cheiros que respiro nos écrans, no papel, ao telefone... »

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16/01/10

LER OS CLÁSSICOS -120



Fala de Don Álvaro de Luna ao ver-se justiçado

Vi tesouros ajuntados
por grão dano de seu dono:
assim como sombra e sono
são nossos dias contados.
E, se forem prolongados
só com lágrimas, então
nem veremos o que são,
por nossos negros pecados.

Abri, abri vossos olhos;
gentios, olhai pra mim:
quanto vistes, quanto vi,
fantasmas foram aos molhos.
Com trabalhos duvidosos
é que usurpei senhoria:
pois se o foi não era minha,
mas indevidos despojos.

Casa a casa (ai de mim!)
e campo a campo aumentei:
coisa alheia não deixei;
e quis tudo quanto vi:
agora pois vede aqui
quanto valem as riquezas,
terras, vilas, fortalezas,
com que meu tempo perdi.

Ó fome de oiro raivosa!
quais serão os corações
humanos,que tu perdoes,
nesta existência enganosa?
Farta e sempre desejosa
és em todos os estados:
e não menos aos passados
que aos presentes és danosa.

Que foi feito da moeda
que guardei, para meus danos,
tanto tempo, tantos anos,
prata, jóias, oiro e seda?
Pois de tudo não me resta
senão este cadafalso...
Mundo ingrato, mundo falso,
que festa vem a ser esta?

Dos favores cortesãos
o que não soube hoje sei:
não pensava nem pensei
quanto no fundo são vãos.
E de leilão em leilão,
sem nenhum temor nem medo,
quando me deram o dedo,
logo abarquei toda a mão.

Eu fugi da caridade,
caridade me fugiu.
E quem foi que me seguiu
em tamanha necedade?
Se buscais amor, amai.
Se boas obras, fazei
que elas sejam vossa lei,
antes que o mundo vos traia.

Eu, se o alheio tomei,
o que é meu me tomarão;
que elas sejam vossa lei,
se matei, não tardarão
em matar-me, bem o sei.
Se prendi, por tal passei;
por quem traí sou traído.
Andei buscando ruído:
basta assaz o que falei.

Marquês de Santillana, Don Iñigo Lopez de Mendonza, 1398-1458

15/01/10

«ENSINOU A PENSAR EM RITMO» - 1



Acordando

Em sonho, às vezes, se o sonhar quebranta
Este meu vão sofrer, esta agonia,
Como sobe cantando a cotovia,
Para o Céu a minha'alma sobe e canta.

Canta a luz, a alvorada, a estrela santa,
Que ao Mundo traz piedosa mais um dia...
Canta o enlevo das coisas, a alegria
Que as penetra de amor e as alevanta...

Mas, de repente, um vento húmido e frio
Sopra sobre o meu sonho: um calafrio
Me acorda. A noite é negra e muda: a dor

Cá vela, como d'antes, ao meu lado...
Os meus cantos de luz, anjo adorado,
São sonho só, e sonho o meu amor!


Antero de Quental, Sonetos

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14/01/10



É hoje o 5ºaniversário do nosso barco.Por enquanto, e graças aos navegadores que tem vindo a recolher, continua a navegar, perfumando os mares...Obrigada a todos.No momento em que escrevo foram já 207842 os amigos que nos visitaram.

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POETAS MEUS AMIGOS - 121




15.

os pássaros adormecem na finisterra
dos dedos como se, por milagre, o mar
acabasse e o corpo de pele fosse o
único templo vivo.

a arte do oleiro na velha guarda
dos sentidos.

Jorge Vicente, em Hierofania dos Dedos
ed.Temas Originais,Lda,2009

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13/01/10

DESASSOSSEGOS - 101



Na dor eu passo a vau -
Charcos inteiros -
Questão de hábito.
Mas um leve esbarro de alegria
Me embaralha os pés,
Perco o equilíbrio – ébria.
Que nenhum seixo se ria -
bebida inédita -
É só isto!

A força não é mais que dor
No encalhe da disciplina
Até suportar mais fardos.
Dêem bálsamos a gigantes
E – como homens -
Fracos, vergam.
Dêem-lhes o Himalaia -
Eles O carregam.


Emily Dickinson

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12/01/10

CAMONIANAS - 59



Pastora da Serra

MOTE

Pastora da serra
da serra da Estrela,
perco-me por ela.

VOLTAS

Nos seus olhos belos
tanto Amor se atreve,
que abrasa entre a neve
quantos ousam vê-los.
Não solta os cabelos
Aurora mais bela:
perco-me por ela.

Não teve esta serra
no meio da altura
mais que a fermosura
que nela se encerra.
Bem céu fica a terra
que tem tal estrela:
perco-me por ela.

Sendo entre pastores
causa de mil males,
não se ouvem nos vales
senão seus louvores.
Eu só por amores
não sei falar dela:
sei morrer por ela.

De alguns que, sentindo,
seu mal vão mostrando,
se rim*, não cuidando
que inda paga, rindo.
Eu, triste, encobrindo
só meus males dela,
perco-me por ela.

Se flores deseja
por ventura, belas,
das que colhe, delas,
mil morrem de enveja.
Não há quem não veja
todo o milhor nela:
perco-me por ela.

Se na água corrente
seus olhos inclina,
faz luz cristalina
para a corrente.
Tal se vê, que sente,
por ver-se, água nela:
perco-me por ela.

Luís de Camões,Rimas
* se rim :se ri

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11/01/10

DE AMICITIA - 93


O meu amigo é aquele que me aceita como sou.
H.David Thoreau

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10/01/10

PÉROLAS -185



Tão belas são as coisas do mundo,
em sinais e números,
em formas e matizes,
que penso podermos ser reis
coroados,
sábios,
felizes!

Robert Louis Stevenson

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09/01/10

UM PEDIDO



O novo sistema de comentários, facilitador para quem os coloca,visto só pedir o nome , não permite saber o vosso e-mail (para eventual resposta ou contacto privado) nem o URL do vosso ou vossos blogues, caso tenham um ou mais. Assim peço que, quando comentarem, indiquem com clareza o vosso nome, sobretudo se se se tratar de novo visitante, visto outros serem já conhecidos e habituais, e esses elementos, a título voluntário, claro. Eles estão a tentar resolver esta questão, mas, por enquanto, ainda o não fizeram...Caso prefiram não colocar o vosso e-mail, podem sempre fazê - lo em privado para o meu endereço, que consta do blogue.Obrigada.

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ESCREVER - 77



"Para o artista todas as suas obras são passado, e para ele possuem apenas o valor de experiências que lhes são caras: o simples valor de uma recordação. Por este motivo é igualmente possível que o criador odeie em sua obra algo que já superou. Não obstante, pode esta ter sido uma obra sincera, ditada pelo coração - sim, é até mesmo possível que ela perdure como a sua criação mais sincera. Não é isto que reside a importância do que o artista realiza. O ganho está apenas na crescente clarificação de sua vida, que posso definir tão somente através destas palavras: o caminho em direcção a si mesmo.”

Rainer Maria Rilke, O diário de Florença

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08/01/10

OMNIA VINCIT AMOR - 138



Ausente, a tua figura aumenta a ponto de encher o universo. Passas ao estado fluído que é o dos fantasmas. Presente, ela condensa-se; atinges as concentrações dos metais mais pesados, do irídio, do mercúrio. Morro com esse peso quando ele me cai sobre o coração.

Marguerite Yourcenar, in Fogos

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07/01/10

POETAS MEUS AMIGOS -120



Debandada


nada do meu amor restou
nem as águas do mar morto
nem o vinho em qualquer
porto

nada do meu amor restou
só este riso que não tenho
este sopro

nada do meu amor restou
além dos cacos do espelho
e um eu que é outro


Lau Siqueira
in Texto Sentido, 2007

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06/01/10

DIA DE REIS NA POESIA E TRADIÇÃO POPULARES



Quando eu era pequena era outro dia de festa - para além das janeiras, cantavam-se os reis, e as crianças andavam de casa em casa, cantando e pedindo «os reis». Aqui vai uma breve evocação na poesia popular.

Já chegaram a Belém,
Visitar Deus Menino,
Que Nossa Senhora tem.

Os três reis do Oriente,
Tiveram um sonho profundo,
Que nasceu o Deus Menino,
Qu'e o Salvador do Mundo.

Os três reis do Oriente,
Seguiram o seu destino,
Guiados por uma estrela,
Adorar o Deus Menino.

A cabana era pequena,
Não cabiam todos três,
Adoraram o Deus Menino,
Cada um de sua vez.

Nasceu alegria,
Não pode haver mais,
Já nasceu Jesus,
Bendito sejais, bendito sejais.

Ó da casa, nobre gente,
Senhores desta morada,
Escutai e ouvireis,
Esta nobre embaixada.

Quem diremos nós que viva,
Por cima da salsa crua,
Viva lá o menino,
Que é o mais lindo da rua.

recuperado de http://www.coolkids.guarda.pt/

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O PRAZER DE LER - 104



“É difícil arrumar os dias”

A frase, dita por um amigo, há alguns dias, vinha a propósito do quotidiano a que a alma humana se prende. Quem somos, para onde vamos, porque existimos afinal?
...
É muito difícil arrumar os dias, atender a família, as contas, a roupa dos miúdos, a cozinha, o trabalho, os sentimentos bons e a raiva por todas injustiças em que tropeçamos quando mergulhamos no drama do princípio do fim da vida.

No meio disto tudo para serve afinal a literatura? A que servirá uma pequena e humilde crónica? A literatura mantém-nos à tona da água. As palavras são uma luz no horizonte. No dia em que deixarmos de ouvir o ronronar dos gatos, de ter alguém que perto ou longe nos sussurre algo ou não soubermos encontrar um pouco de consolo nas páginas de um livro estaremos definitivamente mortos.


Sílvia Alves
de uma crónica no Região de Leiria

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05/01/10

«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE» -39



Rosas de inverno

Corolas, que floristes
Ao sol do inverno, avaro,
Tão glácido e tão claro
Por estas manhãs tristes.

Gloriosa floração,
Surdida, por engano,
No agonizar do ano,
Tão fora da estação!

Sorrindo‑vos amigas,
Nos ásperos caminhos,
Aos olhos dos velhinhos,
Às almas das mendigas!

Desse Natal de inválidos
Transmito‑vos a bênção,
Com que vos recompensam
Os seus sorrisos pálidos.


Camilo Pessanha, Clepsydra

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04/01/10

ALBERT CAMUS - Estrangeiro, Sísifo, Homem Revoltado




No 50ºaniversário da morte daquele que, para tantos de nós, foi claridade

A característica do homem absurdo é não acreditar no sentido profundo das coisas. Ele percorre, armazena e queima os rostos calorosos ou maravilhados. O tempo caminha com ele. O homem absurdo é aquele que não se separa do tempo.

...

Mas só há um mundo. A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Acontece também que o sentimento do absurdo nasça da felicidade. “Acho que tudo está bem”, diz Édipo e essa frase é sagrada. Ressoa no universo altivo e limitado do homem. Ensina que nem tudo está perdido, que nem tudo foi esgotado. Expulsa deste mundo um deus que nele entrara com a insatisfação e o gosto das dores Inúteis. Faz do destino uma questão do homem, que deve ser tratado entre homens. Toda a alegria silenciosa de Sísifo aqui reside. O seu destino pertence-lhe.

Albert Camus
Para saber mais, consulte, entre outras possíveis, a página
http://filosofocamus.sites.uol.com.br/

ou o

dossiê especial do Nouvel Observateur de hoje: http://tempsreel.nouvelobs.com/speciales/albert_camus/

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NOCTURNOS - 79



A lua ignora que é tranquila e clara
E não pode sequer saber que é lua;
A areia, que é a areia. Não há uma
Coisa que saiba que sua forma é rara.
As peças de marfim são tão alheias
Ao abstracto xadrez como essa mão
Que as rege. Talvez o destino humano,
Breve alegria e longas odisseias,
Seja instrumento de Outro. Ignoramos;
Dar-lhe o nome de Deus não nos conforta.
Em vão também o medo, a angústia, a absorta
E truncada oração que iniciamos.
Que arco terá então lançado a seta
Que eu sou? Que cume pode ser a meta?

Jorge Luis Borges

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03/01/10

OS MEUS POETAS - 131



A ruiva rosa sonora...

Com sua agulha sonora
borda o pássaro o cipreste:
rosa ruiva da aurora,
folha celeste.

E com tesoura sonora
termina o bordado aéreo.
Silêncio. E agora
parte para o mistério.

A ruiva rosa sonora
com sua folha celeste
imperecível mora
no cipreste.

Cecília Meireles

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02/01/10

LER OS CLÁSSICOS - 119



Muchacho de ojos azules
Es un joven esbelto, sobre cuya túnica
veo alzarse una luna
brillando en un cielo de perfecciones.
Ha sentenciado a nuestros corazones
la recta lanza de su cuerpo
donde reluce el hierro de sus ojos azules.







Rapaz de olhos azuis
É um jovem esbelto, sobre cuja túnica
vejo alçar-se uma lua
brilhando num céu de perfeições.
Sentenciou a nossos corações
a recta lança de seu corpo
onde reluz o ferro de seus olhos azuis.

IBN SARA as-SANTARINI, Abu Muhammad.
Poemas del fuego y otras casidas.
traducción de Teresa Garulo.

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01/01/10

FELIZ 2010

a todos os nossos navegantes e àqueles que eles amam e por quem são amados


À VOSSA!
Tchim, tchim!

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