28/02/10

OMNIA VINCIT AMOR - 142

*

Brigth star

Bright star, would I were stedfast as thou art -
Not in lone splendour hung aloft the night
And watching, with eternal lids apart,
Like nature's patient, sleepless Eremite,
The moving waters at their priestlike task
Of pure ablution round earth's human shores,
Or gazing on the new soft-fallen mask
Of snow upon the mountains and the moors -
No - yet still stedfast, still unchangeable,
Pillow'd upon my fair love's ripening breast,
To feel for ever in a sweet unrest,
Still, still to hear her tender-taken breath,
And so live ever - or else swoon to death.

John Keats
Estrela cintilante

Ó estrela cintilante! Quisera ser tão inabalável como tu -
Não no esplendor solitário, pairando sobre a noite,
Observando, de pálpebras eternamenteabertas,

como um Eremita
da Natureza, paciente, vigilante,
As marés na sua tarefa sacerdotal
De purificar todas as humanas praias da terra.
Ou fitando o manto macio da neve
Que caiu sobre as montanhas e os pântanos -
Não - todavia inabalável, todavia imutável,
Quisera pousar a cabeça sobre o jovem seio da minha
amada,
Sentir para sempre a sua curva suave,
Acordar sempre em doce agitação,
Escutar, escutar o seu terno respirar,
E assim viver para sempre - ou então morrer
.
trad. de Júlia Guarda Ribeiro

*img: fotograma do filme Bright Star

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27/02/10

POETAS MEUS AMIGOS - 124



espanta a resistência daquela árvore
a sua cor fiel
a penumbra e o tom
estes instantes breves

amplas colinas de silêncio


Maria Costa
http://nenhumdiasemlinha.blogspot.com/

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26/02/10

DO FALAR POESIA - 109




A imaginação não é a capacidade de inventar imagens, mas a de harmonizá-las com o nada inicial do poema.
Todo o discurso sem zonas de escuridão é convencional e precisa de inspiração. Mas escuridão, neste caso, não quer dizer falta de lucidez.
A poesia está feita do que se diz, mas também do que se cala. Por isso, quem diz tudo não é poeta. Quem tudo cala, também não, mas acaba por ser menos maçador.
A última gota, a que a esponja não expulsa quando a esprememos, é a poesia. Mas essa mesma gota não é nada sem a pressão da mão.

Angel Crespo - A Realidade Interna - Poemas escolhidos (1949-1990). Selecção e Tradução de José Bento

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25/02/10

LEITURAS - 133




"Morris não era pessoa que precisasse de ser instada, e a superior qualidade do clarete constituiu para ele encorajamento bastante. O vinho do doutor era admirável, e pode comunicar-se ao leitor que, enquanto o saboreava, Morris cogitava que uma adega com bons vinhos - era evidente que havia uma adega - constituía num sogro uma idiossincrasia muitíssimo atraente. O doutor ficou impressionado com o seu hóspede apreciador; viu logo que ele não era um jovem vulgar. "Tem capacidade", disse o pai de Catherine, "uma nítida capacidade; tem boa cabeça, se quiser usá-la. E é invulgarmente bem parecido; o género de figura que agrada às senhoras; mas acho que não gosto dele."

Henry James - A Herdeira
encontrado em http://contosexemplares.blogspot.com/

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24/02/10

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 78



Melodia

Este é o orvalho dos teus olhos.
Esta é a rosa dos teus vales.
O silêncio dos olhos está no silêncio das rosas.
Tu estás no meio,entre a dor e o espanto da treva.
Arrancas-te ao mundo e és a perfumada
distância do mundo.
Chego sem saber, à beira dos séculos.
Despenho-me nos teus lagos quando para ti
canta o cisne mais triste.
O pólen esvoaça no meu peito, junto às tuas
nuvens.
Esta é a canção do teu amor.
Esta é a voz onde vive a tua canção.
As tuas lágrimas passam pela minha terra
a caminho do mar.

José Agostinho Baptista

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23/02/10

PENSAR - 109



A Imoralidade da Moral

A discórdia é sermos obrigados a estar em harmonia com os outros. A nossa própria vida é o que há de mais importante. Agora, se quisermos ser pedantes ou puritanos, podemos tecer as nossas considerações morais sobre a vida dos outros, mas estas não nos dizem respeito. Para além disso, o individualismo é realmente o mais elevado dos ideais. A moralidade moderna consiste na aceitação dos modelos da nossa época. Julgo que aceitar o modelo da nossa época será, para qualquer homem culto, a maior de todas as imorallidades.

Oscar Wilde - O Retrato de Dorian Gray

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22/02/10

PÉROLAS - 188



Às vezes tenho medo de esquecer tudo:
a casa onde nasci, o recreio
da escola, essas vozes
que lembram um copo de água
no verão.

Jorge Gomes Miranda - O que nos protege

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21/02/10

LI E RECOMENDO



LIRA

LIRA,escolhido como título. explica o Autor, Manuel Silva Terra, poeta amigo de que já coloquei anteriormente no blogue alguns poemas , é, aqui, «parte fixa de uma prensa manual, assim chamada por apresentar a forma de uma lira»
Trata-se de um livro em prosa, recém - editado por editora Licorne – editoralicorne,blogspot.com - um livro de amor aos livros. Segundo texto da badana
«LIRA é um livro - não livro, ele é a causa e a consequência do leitor, e isso é tudo. LIRA é a espuma da respiração boca-aboca. Assim, o autor e quem lê salvam-se um ao outro

Estou a acabar de o ler. E encantada com a leitura. Dele transcrevo, porque me é mais fácil, um dos capítulos mais curtos /nenhum deles ultrapassa 2 páginas):

«O livro - cobra vai largando a pele pelos lugares e mãos de passagem, enrosca-se nos braços do leitor que o lê por comunicação táctil. O livro - cobra muda de pele e o leitor é renovado. Pele contra pela. Por osmose um mesmo tecido nasce da morte do anterior. Mas o livro - cobra hiberna e, enquanto hiberna enrosca-se nos buracos da memória, nos interstícios da matéria negra, até novo solstício – só então renasce.. O leitor eterno vive no plano infinito que este livro desenrola. Ou o livro nos infinitos planos da temporalidade do leitor?»

os outros capítulos:


O livro - casa; o livro - errante;o livro – de - ervas; o livro – água; o livro de areia; o livro - do - vento; o livro transparente; o livro - -osso; o livro -peregrino; o livro – do - ser; o livro - animal; o livro -linguagem: o livro – jardim – de - jericó; o livro – das -profundidades; o livro - em -branco; o livro - ave; o livro - fiama; o livro -ninfa; o livro - eugénio; o livro - espectro; o livro - fêmea; o livro – da - sabedoria; livro - aranha; o palimpsesto; livro - abrigo; o livro - cão; o livro - meteoro; livro - comunidade; o livro – cabana – dos - pastores; um livro gato - gata.

MANUEL SILVA TERRA, LIRA-ed.Licorne,2009/2010

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LER OS CLÁSSICOS - 121



Esperança minha, is-vos:
nam sei se vos verei mais,
pois tam triste me leixais.

Noutro tempo ua partida,
qu'eu nam quisera fazer,
me magoou minha vida
quanto eu nela viver.
Desta já quê posso crer:
que, pois qu'assi me leixais,
é pera nam tornar mais.

Após tamanha mudança
ou desaventura minha,
onde vos m'is, esperança,
vá-se todo o mais qu'eu tinha.
Perca-s'assi tam-nasinha
tudo, pois que nam olhais
quam tarde e mal me leixais.


Bernardim Ribeiro
In "Cancioneiro de Garcia de Resende"
____________________
Notas - magoou - o termo está aqui próximo do seu sentido originário- MACULARE -, imprimir nódoa, deixar um sinal; já quê - alguma coisa, isto; tam-nasinha - tão depressa. O n resultaria de um desdobramento da nasal ou de uma assimilação: tan d'asinha, a melhor forma seria talvez tãnasinha).-
(Notas de Vítor Oliveira Mateus in http://adispersapalavra.blogspot.com/)

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20/02/10

DA EDUCAÇÃO - 54


"Para podermos ter cuidado pelos outros, temos de estar atentos às necessidades que eles sentem e exprimem: é nesse sentido que há uma educação para a atenção ao outro. É uma educação que vai contra a mentalidade dominante, altamente competitiva, tendo o sucesso como horizonte, em que o outro existe para ser esmagado, e não para ser descoberto, admirado e ajudado."

Maria de Lurdes Pintassilgo
encontrado em http://edutica.blogspot.com/

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19/02/10

OMNIA VINCIT AMOR - 141



Todas as noites me despeço de ti
como se existisses nos meus gestos.
Construíste, pedra a pedra.
o circuito fechado de um pretexto ausente.
Agora, já não és senão o falso alarme do meu corpo.
Ocorrem-me, até, palavras de um sossego
de pétalas e penso no amor
como se de uma fraude se tratasse.
Sou o pão e o vinho de um festim de contradições.
Tenho, no sangue, um ciúme liquefeito
que transtorna os caminhos de exígua claridade
onde as palavras perdem o sentido.


Graça Pires, Labirintos

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18/02/10

NOCTURNOS - 80



Passa a lua devagar
por sobre as águas do lago,
ao verde canavial
junta rosas luar mago.

Erguem ao céu grandes olhos
os veados na colina,
às vezes um bater de asas
às ternas canas inclina.
Meus olhos ficam chorando
e bem dentro da minha alma
ter saudades de ti
é prece na noite calma.


Nicolas Lenau

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17/02/10

«ENSINOU A PENSAR EM RITMO» - 3



Despondency

Deixá-la ir, a ave, a quem roubaram
Ninho e filhos e tudo, sem piedade. . .
Que a leve o ar sem fim da soledade
Onde as asas partidas a levaram. . .

Deixá-la ir a vela, que arrojaram
Os tufões pelo mar, na escuridade,
Quando a noite surgiu da imensidade,
Quando os ventos do Sul se levantaram. . .

Deixá-la ir, a alma lastimosa,
Que perdeu fé e paz e confiança,
À morte queda, à morte silenciosa. . .

Deixá-la ir, a nota desprendida
Dum canto extremo. . . e a última esperança. . .
E a vida. . . e o amor. . . deixá-la ir, a vida!


Antero de Quental - Sonetos

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16/02/10

PÉROLAS - 187



Ama como a estrada começa.
Mário Cesariny

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13/02/10

LER OS CLÁSSICOS -120



Noite, é a ti que o meu canto celebra

Mãe dos deuses e dos homens.
A noite é a origem de todos os seres...

Orfeu

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12/02/10

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Obrigada, companheiros de navegação

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OS MEUS POETAS -135



Dispersão

Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto
E hoje, quando me sinto.
É com saudades de mim.

Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar,
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.

(O Domingo de Paris
Lembra-me o desaparecido
Que sentia comovido
Os Domingos de Paris:

Porque um domingo é família,
É bem-estar, é singeleza,
E os que olham a beleza
Não têm bem-estar nem família).

Pobre moço das ânsias...
Tu, sim, tu eras alguém!
E foi por isso também
Que me abismastes nas ânsias.

A grande ave doirada
Bateu asas para os céus
Mas fechou-se saciada
Ao ver que ganhava os céus.

Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.

Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que protejo:
Se me olho a um espelho, erro
Não me acho no que projeto.

Regresso dentro de mim
Mas nada me fala, nada!
Tenho a alma amortalhada,
Sequinha dentro de mim.

Não perdi a minha alma,
Fiquei com ela, perdida.
Assim eu choro, da vida,
A morte da minha alma

Saudosamente recordo
Uma gentil companheira
Que na minha vida inteira
Eu nunca vi... mas recordo

A sua boca doirada
E o seu corpo esmaecido,
Em um hálito perdido
Que vem na tarde doirada.

(As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que não sonhei!... )

E sinto que a minha morte —
Minha dispersão total —
Existe lá longe, ao norte,
Numa grande capital.

Vejo o meu último dia
Pintado em rolos de fumo,
E todo azul-de-agonia
Em sombra e além me sumo.

Ternura feita saudade,
Eu beijo as minhas mãos brancas...
Sou amor e piedade
Em face dessas mãos brancas. . .

Tristes mãos longas e lindas
Que eram feitas pr'a se dar
Ninguém mas quis apertar
Tristes mãos longas e lindas

Eu tenho pena de mim,
Pobre menino ideal...
Que me faltou afinal?
Um elo? Um rastro?... Ai de mim!

Desceu-me n'alma o crepúsculo;
Eu fui alguém que passou.
Serei, mas já não me sou;
Não vivo, durmo o crepúsculo.

Álcool dum sono outonal
Me penetrou vagamente
A difundir-me dormente
Em, uma bruma outonal.

Perdi a morte e a vida,
E, louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida
Eu sigo-a, mas permaneço
..................................................
Castelos desmantelados,
Leões alados sem juba...


Mário de Sá Carneiro

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11/02/10

PENSAR - 108


Tudo é Fugaz

Considera com frequência a rapidez com que se passam e desaparecem os seres e os acontecimentos. A substância, como um rio, está em perpétuo fluir, as forças em perpétuas mudanças, as causas a modificarem-se de mil maneiras; apenas há aí uma coisa estável; e abre-se-nos aos pés o abismo infinito do passado e do futuro onde tudo se some. Como não há-de ser louco o homem que, neste meio, se incha ou se encrespa ou se lamenta, como se qualquer coisa o tivesse perturbado durante um tempo que se visse, um tempo considerável?

Marco Aurélio (Imperador Romano)

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10/02/10

DESASSOSSEGOS -103



"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior."

Bernardo Soares.Fernando Pessoa, L.D.

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09/02/10

DO FALAR POESIA -108



No livro do imaginário, a lua é verde de morrer, as cadeiras brancas,
e a terra amarela começa a dormir — gosto dos poetas obscuros.
Não há poetas obscuros.
Se alguém diz — esta atenção não é minha — não é um poeta obscuro?,
e se diz — esta não é a minha atenção — não é um poeta claro?
Não.
É difícil encontrar chaves — às vezes é fácil, às vezes difícil.
Não.
Cada imagem é a chave de outra imagem — e elas abrem-se umas
às outras, as imagens.
Não.
Tudo são chaves para abrir tudo.
Não.
A chave entra na fechadura, a porta abre-se sobre uma nova porta.
Não.
Portas sobre portas, até que a porta final abre sobre a luz que
atravessa o espaço aberto de todas as portas.
Não.Os poetas são metafísicos.
Não.
A metafísica é uma distância de onde os poetas vêem, em perspectiva,a realidade.
Não.
Não há realidade?
Não, não há realidade — todos os poetas são claros a esse respeito.
Se eles dizem — atenção — cria-se a realidade da atenção.
Se eles dizem — atenção — anulam a atenção, criam um espaço vazio.
A imagem não é uma realidade?
O que os poetas provam é que é preciso uma imagem para revelar
que a realidade não existe.
No livro do imaginário, a lua é verde de morrer, as cadeiras brancas,
e a terra amarela começa a dormir — gosto dos poetas claros.
Não, ainda não.


Herberto Helder, Photomaton & Vox

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08/02/10

LEITURAS- 132



"Morte em Veneza"

Se os reis também morrem, e pouco importa onde morrem,
por que havia um conde de ir a Veneza? Morrer por morrer,
por que não em Ravena? No entanto, se os reis também
morrem de amor, se apenas em Veneza um conde soube
o que era amar (ele que em Tadziu viu a beleza e viu
a morte), por que não em Veneza, já que, morte por morte,
antes morrer de amor?

Arménio Vieira in O Poema, a Viagem, o Sonho
Editorial Caminho,Lisboa, 2009
Encontrado em http://adispersapalavra.blogspot.com
/.

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07/02/10

OMNIA VINCIT AMOR - 140


foto de Claudio Fagundes
http://claudioalex.multiply.com

[Abril, o nosso mês]


Abril o nosso mês, Rainer, o mês anterior àquele que nos uniu. Quantas vezes Abril me faz, e não certamente por acaso, pensar em ti. Porque em Abril se encontram contidas as quatro estações, com as suas horas de uma atmosfera de neve e quase de Inverno, ao lado de outras horas de um esplendor escaldante, e de outras ainda de tempestades quase de Outono, semeando o chão húmido não de folhas desmaiadas, mas de invólucros de flores em botão - e não é verdade que nesse chão habita, a qualquer hora, a Primavera, que reconhecemos antes ainda de qualquer primeiro olhar? Daí o silêncio e a naturalidade que nos uniram, como algo que tivesse existido sempre.Se durante anos fui tua mulher, foi porque tu foste para mim o pela primeira vez real, corpo e ser humano indiferenciávelmente unos, facto indubitável da própria vida. Palavra por palavra, teria podido confessar-te o que, como confissão de amor, foste tu a dizer-me:"Só tu és real." Assim nos tornamos esposos antes de termos sido amigos e a nossa amizade também mal a escolhemos, originária de núpcias igualmente subterrâneas. Em nós não eram duas metades que se buscavam; era a totalidade surpreendida a reconhecer-se, como um calafrio, numa incrível unidade. E deste modo fomos irmãos, mas como irmãos de um tempo remoto, anterior àquele em que o incesto se tornaria sacrilégio. A nossa solidariedade, pronta e disponível - para usar a tua expressão - para a luz e para o escuro de todas as estações teve que sofrer a prova das circunstâncias inamovíveis e imperiosas da vida, as circunstâncias que quase chegam a suprimir a própria expressão poética do que vive. Mas teríamos o direito de destroçar, como fizemos, o que então conquistou forma poética? ....

Lou Andreas-Salomé
Escrito em Abril de1934, oito anos depois da morte de Rilke, num apêndice à sua autobiografia - (excerto transcrito de aguarelas de turner- http://aguarelast.blogspot.com)

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06/02/10

OS MEUS POETAS - 134

Quadrado

Deixai-me com a sombra

Pensada na parede

Deixai-me com a luz

Medida no meu ombro

Em frente do quadrado

Nocturno da janela

Sophia de Mello Breyner Andresen

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05/02/10

LI E RECOMENDO




VIII

Escreve:

No alto da manhã
prepara-se o sol
para uma chávena de chá quente.

caderno e lÍrios surgem mais tarde
entra,
fecha a porta.

agora precisamos de paz


Maria Azenha, de amor ardem os bosques,2010
- das clareiras dos bosques, 4ªFolha

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POETAS MEUS AMIGOS - 123



HANSEN

Somos necessários, nós, os sujos
de ontem, hoje e sempre, os marcados,
os perdidos, os desviados do rebanho dos bons;
os desgarrados, as ovelhas negras,
sempre somos e seremos necessários
para que a grei dos felizes
e limpos e saudáveis possa prosseguir
em seu caminho em direção ao sol.

Não usamos mais os sinos no pescoço;
não exibimos mais as marcas na pele como antes.
Existem agora os leprosos do comportamento,
os contaminados e potencialmente contaminadores
de jovens saudáveis, dos trabalhadores honestos:
foi necessário que fôssemos marcados pela lei.

A chaga aberta é inamovível porque abstrata.

Somos necessários para que eles existam,
todos esses homens sérios que nos olham
de cima para baixo
com seus olhares de costas prateadas.

Só por isso não lhes pedimos desculpas
por existirmos: somos necessários
para que eles sejam saudáveis e puros e bons,
mesmo que mintam e roubem e matem,
porque têm a alma virgem das substâncias do Mal.


Antônio Adriano de Medeiros
em Doidos de Mim

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04/02/10

O DOM DA REVELAÇÃO



[CRISTINA]


E então, eu vi, eu vi abrir-se à nossa frente o dom da revelação. Que eram, pois, todas as nossas con­versas, a nossa alegria de taças e cigarros, diante daquela evidência? Tudo o que era verdadeiro e inextinguível, tudo quanto se realizava em grandeza e plenitude, tudo quanto era pureza e interrogação, perfeito e sem excesso, começava e acabava ali, entre as mãos indefesas de uma criança. Mas tão forte era o peso disso tudo, tão necessário que nada disso se perdesse, que as mãos de Cristina se estorciam na distância das teclas, as pernas na distância dos pedais e toda a sua face gentil, até agora impessoal e só de infância, se gravava de arrepio à passagem do mis­tério. Toca, Cristina. Eu ouço. Bach, Beethoven, Mozart, Chopin. Estou de lado, ao pé de ti, sigo-te no rosto a minha própria emoção. Apertas ligeira­mente a boca, pões uma rugazinha na testa, estreme­ces brevemente a cabeleira loura com o teu laço vermelho. E de ver assim presente a uma inocência o mundo do prodígio e da grandeza, de ver que uma criança era bastante para erguer o mundo nas mãos e que alguma coisa, no entanto, a transcendia, abusava dela como de uma vítima, angustiava-me quase até às lágrimas. Toca uma vez ainda, Cristina. Agora,só para mim. Eu te escuto, aqui, entre os brados deste vento de Inverno. Chopin, Nocturno nº20. Ouço, ouço. As palmeiras balançam no teu jardim, a noite veste-se de estrelas, adormece na planície. Donde este lamento, esta súplica? Amargura de sempre, Cris­tina, tu sabe - la. Biliões e biliões de homens pelo espaço dos milénios e tu só, presente, a memória disso tudo e a dizê-la...

Vergílio Ferreira, Aparição

Ouvir este nocturno nº20 em
http://www.youtube.com/watch?v=ke5gsIR1UPQ
por uma menina - Aimi Kobayashi, - que está também na imagem, – aqui da idade aproximada de Cristina –

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03/02/10

«ENSINOU A PENSAR EM RITMO» - 2



Idílio:

Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos de um fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;


Ou vendo o mar, das ermas cumeadas,
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longe, no horizonte, amontoadas;

Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão, e empalideces...

O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações
.

antero de quental

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02/02/10

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 77



Natureza morta

E se eu te oferecesse uma rosa vermelha,
da cor do sangue, para que o dia se alegrasse?
Há dias assim, penso nas rosas vermelhas
como se elas tivessem a magia
de tudo transformar.
Talvez me olhasses de outro modo
talvez me oferecesses
plantas do teu jardim
e os frutos maduros do teu pomar.
Talvez o chilrear dos pássaros
nos seduzisse
e eu deixasse de ser uma natureza morta!...


Alexandre de Castro

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01/02/10

ESCREVER -78


GOOD WORKING IS HARD WORK...

Trabalhar bem é duro...diz ele depois de tanto tentar

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