31/07/10

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 85



Eu vi uma rosa

Eu vi uma rosa
- Uma rosa branca -
Sozinha no galho.
No galho? Sozinha
No jardim, na rua.

Sozinha no mundo.

Em torno, no entanto,
Ao sol de meio-dia,
Toda a natureza
Em formas e cores
E sons esplendia.

Tudo isso era excesso.

A graça essencial,
Mistério inefável
- Sobrenatural -
Da vida e do mundo,
Estava ali na rosa
Sozinha no galho.
Sozinha no tempo.

Tão pura e modesta,
Tão perto do chão,
Tão longe na glória,
Da mística altura,
Dir-se-ia que ouvisse
Do arcanjo invisível
As palavras santas
De outra Anunciação.

Manuel Bandeira in Lira dos cinquent`anos
Análise deste poema em http://www.webartigos.com/articles/3989/1/Rosa-Poesis/pagina1.html

Etiquetas:

30/07/10

A MENINA DO MAR E OUTROS CONTOS


Trata-se de um pequeno livro que reune contos de Jules Supervielle,poeta e prosador francês, nascido no Uruguay, mas nunca deixando de andar lá e cá, entre o país em que nasceu e aquele das suas raízes familiares,a França. Gostei muito de ler estas 'estórias'.

Da orelha do livro:
«O mar tão presente em vários dos contos incluídos neste livro, é para ele (autor) talvez o único lugar em que se sente em casa. De facto, o seu verdadeiro lugar parece estar a meio caminho entre a América e a Europa, entre a vida e a morte, como a «aldeia sobre as vagas» que A Menina do Alto Mar, o seu conto mais célebre, situa no coração do oceano.»

edições sempre em pé - Porto - http://www.sempreempe.pt/

Etiquetas:

DA EDUCAÇÃO - 60



Lá como cá...

«depois de ter começado a interessar-me seriamente pelo estado da educação no nosso país (…) , cheguei à conclusão de que o nosso sistema de ensino público está em vias de destruição total. Esta destruição é o resultado de todas as reformas conduzidas por todos os governos a partir dos anos 60. Essas políticas foram desejadas, aprovadas, conduzidas e impostas por todas as instâncias dirigentes da Educação Nacional, particularmente pelos famosos especialistas da Educação Nacional, os corpos de inspectores (recrutados entre os docentes mais dóceis e submissos aos dogmas oficiais), as direcções das administrações centrais, as direcções e corpos de formadores das IUFM dominados pelos famosos didactas e outros especialistas das ditas «ciências da educação», pela maioria dos especialistas das comissões de programas,em suma, pelo conjunto da nomenclatura da Educação Nacional. Essas políticas foram inspiradas por uma ideologia que consiste em não conferir valor ao saber e que quer fazer prioritariamente desempenhar a escola, não a instrução e a transmissão do conhecimento, mas outros papéis na crença imposta em teorias pedagógicas delirantes, no desprezo pelas aprendizagens fundamentais, na rejeição do ensino organizado, explícito e progressivo, no desprezo pelos conhecimentos de base ligados à imposta aprendizagem de conteúdos nebulosos e desproporcionados, na doutrina do aluno ‘no centro do sistema’ e que deve ‘construir ele próprio os seus saberes’. Esta ideologia dominou igualmente as instâncias dirigentes dos sindicatos maioritários (…).Toda esta gente não tem hoje outro objectivo que não seja o de alijar a sua responsabilidade e mascarar por todos os meios a realidade do desastre. Confesso não saber se têm agido de boa - fé, ou se, pelo contrário, não terão organizado deliberadamente a destruição da escola. Também não sei quais dentre eles – uma minoria certamente – não participaram nesta loucura colectiva, nem quais, tendo participado, têm hoje consciência das consequências dramáticas dos erros acumulados desde há dezenas de anos e estarão hoje dispostos a partir numa outra direcção. ’A priori’ tenho a mais extrema desconfiança relativamente a todos os membros da nomenclatura da Educação Nacional».

Laurent Lafforgue
- cit por Guilherme Valente em O«eduquês» nunca existiu – in Expresso de 1.04.06

.........

Veja e reflicta sobre o vídeo http://www.youtube.com/watch?v=r7dL-lGCVEg

Etiquetas:

29/07/10

DESASSOSSEGOS - 106


esperando godot

Carta aos mortos

Amigos, nada mudou
em essência.

Os salários mal dão para os gastos,
as guerras não terminaram
e há vírus novos e terríveis,
embora o avanço da medicina.
Volta e meia um vizinho tomba morto
por questão de amor.
Há filmes interessantes, é verdade,
e como sempre, mulheres portentosas
nos seduzem com suas bocas e pernas,
mas em matéria de amor
não inventamos nenhuma posição nova.
Alguns cosmonautas ficam no espaço
seis meses ou mais, testando a engrenagem
e a solidão.
Em cada olimpíada há recordes previstos
e nos países, avanços e recuos sociais.
Mas nenhum pássaro mudou seu canto
com a modernidade.

Reencenamos as mesmas tragédias gregas,
relemos o Quixote, e a primavera
chega pontualmente cada ano.

Alguns hábitos, rios e florestas
se perderam.
Ninguém mais coloca cadeiras na calçada
ou toma a fresca da tarde,
mas temos máquinas velocíssimas
que nos dispensam de pensar.

Sobre o desaparecimento dos dinossauros
e a formação das galáxias
não avançamos nada.
Roupas vão e voltam com as modas.
Governos fortes caem, outros se levantam,
países se dividem e as formigas e abelhas continuam
fiéis ao seu trabalho.

Nada mudou em essência.

Cantamos parabéns nas festas,
discutimos futebol na esquina
morremos em estúpidos desastres
e volta e meia
um de nós olha o céu quando estrelado
com o mesmo pasmo das cavernas.
E cada geração , insolente,
continua a achar
que vive no ápice da história.

Affonso Romano de Sant’Ana

Etiquetas: ,

28/07/10

MEMÓRIAS DO ANTIGAMENTE



Saído recentemente, reune a memória da, extinta depois pela PIDE, cooperativa CONFRONTO - a equivalente, no Porto, da PRAGMA, em Lisboa.
Vale a pena lembrar esse outro modo, fora dos partidos na clandestinidade, de fazer oposição a Salazar e Caetano.
O livro foi organizado com a ajuda de alguns dos fundadores sob a responsabilidade de Mário
Brochado Coelho, seu autor.


- edições Afrontamento, Porto, julho de 2010

Etiquetas:

ESCREVER - 84



Em todas as épocas, existem duas literaturas que caminham lado a lado e com muitas diferenças entre si: uma real e outra apenas aparente. A primeira cresce até se tornar uma leitura permanente. Exercida por pessoas que vivem para a ciência ou para a poesia, ela segue o seu caminho com seriedade e tranquilidade, produzindo na Europa pouco menos de uma dúzia de obras por século, que, no entanto, permanecem. A outra, exercida por pessoas que vivem da ciência ou da poesia, anda a galope, com rumor e alarido por parte dos interessados, trazendo anualmente milhares de obras ao mercado. Após poucos anos, porém, as pessoas perguntam: Onde estão essas obras? Onde está a sua glória tão prematura e ruidosa? Por isso, pode-se também chamar esta última de literatura que passa, e aquela, de literatura que fica.

Arthur Schopenhauer

Etiquetas:

27/07/10

«ENSINOU A OBSERVAR EM VERSO» - 24



Noitada

Lembras-te tu do sábado passado,
Do passeio que demos, devagar,
Entre um saudoso gás amarelado
E as carícias leitosas do luar?

Bem me lembro das altas ruazinhas,
Que ambos nós percorremos de mãos dadas;
Às janelas palravam as vizinhas;
Tinham lívidas luzes as fachadas.

Não me esqueço das cousas que disseste,
Ante um pesado templo com recortes,
E os cemitérios ricos, e o cipreste
Que vive de gorduras e de mortes!

Nós saíramos próximo ao sol-posto,
Mas seguíamos cheios de demoras;
Não me esqueço ainda o meu desgosto
Nem o sino rachado que deu horas.

Tenho ainda gravado no sentido,

Porque tu caminhavas com prazer,
Cara rapada, gordo e presumido,
O padre que parou para te ver.


Como uma mitra a cúpula da igreja

Cobria parte do ventoso largo;
E essa boca viçosa de cereja
Torcia risos com sabor amargo.

A Lua dava trémulas brancuras,
Eu ia cada vez mais magoado;
Vi um jardim com árvores escuras,
Como uma jaula todo gradeado!

E para te seguir entrei contigo
Num pátio velho que era dum canteiro,
E onde, talvez, se faça inda o jazigo
Em que eu irei apodrecer primeiro!

Eu sinto ainda a flor da tua pele,
Tua luva, teu véu, o que tu és!
Não sei que tentação é que te impele
Os pequeninos e cansados pés.

Sei que em tudo atentavas, tudo vias!
Eu por mim tinha pena dos marçanos,
Como ratos, nas gordas mercearias,
Encafurnados por imensos anos!

Tu sorrias de tudo: os carvoeiros,

Que aparecem ao fundo dumas minas,
E à crua luz os pálidos barbeiros
Com óleos e maneiras femininas!

Fins de semana! Que miséria em bando!
O povo folga, estúpido e grisalho!
E os artistas de ofício iam passando,
Com as férias, ralados de trabalho.

O quadro interior, dum que à candeia,

Ensina a filha a ler, meteu-me dó!
Gosto mais do plebeu que cambaleia,
Do bêbado feliz que fala só!

De súbito, na volta de uma esquina,
Sob um bico de gás que abria em leque,
Vimos um militar, de barretina
E galões marciais de pechisbeque.

E enquanto ele falava ao seu namoro,

Que morava num prédio de azulejo,
Nos nossos lábios retiniu sonoro
Um vigoroso e formidável beijo!


E assim ao meu capricho abandonada,

Errámos por travessias, por vielas,
E passámos por pé duma tapada
E um palácio real com sentinelas.

E eu que busco a moderna e fina arte,
Sobre a umbrosa calçada sepulcral,
Tive a rude intenção de violentar-te
Imbecilmente, como um animal!

Mas ao rumor dos ramos e da aragem,

Como longínquos bosques muito ermos,
Tu querias no meio da folhagem
Um ninho enorme para nós vivermos.

E ao passo que eu te ouvia abstractamente,
Ó grande pomba tépida que arrulha,
Vinham batendo o macadame fremente,
As patadas sonoras da patrulha.

E através a imortal cidadezinha,
Nós fomos ter às portas, às barreiras,
Em que uma negra multidão se apinha
De tecelões, de fumos, de caldeiras.

Mas a noite dormente e esbranquiçada
Era uma esteira lúcida de amor;
Ó jovial senhora perfumada,
Ó terrível criança! Que esplendor!

E ali começaria o meu desterro!

Lodoso o rio, e glacial, corria;
Sentámo-nos, os dois, num novo aterro
Na muralha dos cais de cantaria.

Nunca mais amarei, já que não amas,
E é preciso, decerto, que me deixes!
Toda a maré luzida como escamas,
Como alguidar de prateados peixes.

E como é necessário que eu me afoite

A perder-me de ti por quem existo,
Eu fui passar ao campo aquela noite
E andei léguas a pé, pensando nisto.

E tu que não serás somente minha,
Às carícias leitosas do luar,
Recolheste-te pálida e sozinha,
À gaiola do teu terceiro andar!

Cesário Verde

Etiquetas:

26/07/10

PENSAR - 115





A mais vil de todas as necessidades - a da confidência, a da confissão. É a necessidade da alma de ser exterior. Confessa, sim; mas confessa o que não sentes. Livra a tua alma, sim, do peso dos teus segredos, dizendo-os; mas ainda bem que os segredos que digas, nunca os tenhas tido. Mente a ti próprio antes de dizeres essa verdade. Exprimir é sempre errar. Sê consciente: exprimir seja, para ti, mentir.

Fernando Pessoa.Bernardo Soares

Etiquetas:

25/07/10

PÉROLAS - 201

flores
jardim Liang-img.do google

Lembranças

Aquela noite, nevava no jardim Liang.
Eu sentia frio e tu não percebias.

Esta noite, contemplei as árvores de jade
sob as quais, outrora, costumava esperar por ti.


Li Po

Etiquetas:

24/07/10

OS MEUS POETAS - 185


chagall-pássaro

Para fazer o retrato de um pássaro

Pinta primeiro uma gaiola
com a porta aberta
pinta a seguir
qualquer coisa bonita
qualquer coisa simples
qualquer coisa bela
qualquer coisa útil
para o pássaro.
agora encosta a tela a uma árvore
num jardim
num bosque
ou até numa floresta
esconde-te atrás da árvore
sem dizeres nada
sem te mexeres…
às vezes o pássaro não demora
mas pode também levar anos
antes que se decida.
Não deves desanimar
espera
espera anos se for preciso
a rapidez ou a lentidão da chegada
do pássaro não tem qualquer relação
com o acabamento do quadro.
Quando o pássaro chegar
se chegar
mergulha no mais fundo silêncio
espera que o pássaro entre na gaiola
e quando tiver entrado
fecha a porta devagarinho
com o pincel
depois
apaga uma a uma todas as grades
com cuidado não vás tocar nalguma das penas
Faz a seguir o retrato da árvore
escolhendo o mais belo dos ramos
para o pássaro
pinta também o verde da folhagem a frescura do vento
e agora espera que o pássaro se decida a cantar
se o pássaro não cantar
é mau sinal
é sinal que o quadro não presta
mas se cantar é bom sinal
sinal de que podes assinar
então arranca com muito cuidado
uma das penas do pássaro
e escreve o teu nome num canto do quadro


Jacques Prévert
Tradução de Eugénio de Andrade

Etiquetas:

23/07/10

LEITURAS -145



Livros

O pombo Benjamim enfiou a cabeça dentro de uma poça de água. Quando a levantou, e depois de se abanar energicamente, estava defronte a uma montra com livros. É preciso ter uma grande lata para escrever um livro, pensou. Escrever pressupõe o desejo de ser lido. Só a cegueira da vaidade permite julgar digno de leitura aquilo que se escreve. O mundo está repleto de gente que escreve. Toneladas de letras mancham toneladas de folhas que implicam o abatimento de toneladas de árvores. Apenas uma razão muito forte poderia justificar um crime destes. Poderia, houvesse essa razão. Olha-se para o papel publicado e ficamos sem dúvidas: vaidade, desmedida vaidade, criminosa vaidade, insuportável vaidade. Houve um tempo em que as pessoas faziam de tudo para conquistarem um coração. Hoje fazem de tudo para publicarem um livro. E de tudo fazem para o verem escrito, sem qualquer motivação que não seja a vaidade de um nome estampado numa capa, na lombada, nas badanas, no cólofon de um livro. Já tudo foi escrito. Que veleidade poderá ainda convencer alguém de que tem algo a dizer, de que tem algo tão importante a dizer que não possa ser dito de outra forma senão escrevendo um livro, publicando um livro, cometendo mais um irremediável crime ecológico? É tudo, pura e simplesmente, uma questão de vaidade. Já ninguém pode acreditar que os livros salvam o mundo. Talvez pretendam salvar os homens do mundo, ao mesmo tempo que competem para a destruição desse mesmo mundo. E eu tenho visto o mundo, continuou Benjamim de si para si. Os livros são apenas mais uma cápsula da morte dos homens, a ilusão de quem os lê, um crime ecológico. São a receita que os homens prescreveram a si próprios para poderem continuar iludidos. Imprime-se qualquer coisa hoje em dia. Época idiota. Qualquer coisa que o homem faça, mete-o num livro para explicar aos outros como se faz. Qualquer coisa que sinta, mete-o num livro para que os outros o sintam. Qualquer coisa que pense e, sobretudo, qualquer coisa que não pense, pois os livros estão repletos de não-pensamentos, de uma ausência de razões e de reflexão, estão ausentes de ócio, de tempo. O tempo que os homens deviam ocupar a pensar num mundo melhor, ocupam-no a escreverem livros. Livros de todos os feitios e de todas as cores, com capas rijas, moles, impermeáveis. Livros que são vendidos como alpista. Livros. Árvores mortas.

Henrique Fialho
- episódio de uma novela intitulada "A Cidade a Tossir" que pode ser encontrado em Em antologia do esquecimento - http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/

Etiquetas: ,

22/07/10

OS MEUS POETAS - 184





Etiquetas:

21/07/10

DE AMICITIA - 96



Recado aos Amigos Distantes

Meus companheiros amados,
não vos espero nem chamo:
porque vou para outros lados.
Mas é certo que vos amo.

Nem sempre os que estão mais perto
fazem melhor companhia.
Mesmo com sol encoberto,
todos sabem quando é dia.

Pelo vosso campo imenso,
vou cortando meus atalhos.
Por vosso amor é que penso
e me dou tantos trabalhos.

Não condeneis, por enquanto,
minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
fico vossa prisioneira.

Por mais que longe pareça,
ides na minha lembrança,
ides na minha cabeça,
valeis a minha Esperança.

Cecília Meireles

Etiquetas:

20/07/10

LER OS CLÁSSICOS - 129

estados de alma

A uma ausência

Sinto-me, sem sentir, todo abrasado
No rigoroso fogo que me alenta;
O mal, que me consome, me sustenta;
O bem, que me entretém, me dá cuidado.

Ando sem me mover, falo calado;
O que mais perto vejo, se me ausenta,
E o que estou sem ver, mais me atormenta;
Alegro-me de ver-me atormentado.

Choro no mesmo ponto em que me rio;
No mor risco me anima a confiança;
Do que menos se espera estou mais certo.

Mas se de confiado desconfio,
É porque, entre os receios da mudança,
Ando perdido em mim como em deserto.

António Barbosa Bacelar (1610-1663)

Etiquetas:

19/07/10

OMNIA VINCIT AMOR - 148



Só ela compreendia o som dos meus silêncios. Temia às vezes que o tempo hostil fugisse enquanto conversávamos. Depois disso esvaiu-se-me a memória e vejo-me agora a falar dela contigo, entre espirais de fumo que anuviam a nossa comoção. Esta é a parte de mim que encontro mudada: o sentimento, em si, informe, neste agora que é apenas saudade.

Eugénio Montale
encontrado em http://cortenaaldeia.blogspot.com/

Etiquetas:

18/07/10

UM HOMEM BOM...



...e de que hoje, por feliz e justa decisão da ONU se celebra o Dia (Mandela's day).
Ele merece - faz hoje 92 anos e tem feito tudo pelo seu país, dando -nos alguma esperança num mundo mais justo e melhor,sem ódios nem vinganças.


Escreveu um dia: « Je ne suis pas vraiment libre si je prive quelqu'un d'autre de sa liberté » - e assim tem feito.
veja nos comentários a esta entrada uma canção para o mandela's day de há 2 anos-pelos simple minds

Etiquetas:

«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE» - 40

marinhas

SAN GABRIEL

I

Inútil! Calmaria. Já colheram
As velas. As bandeiras sossegaram,
Que tão altas nos topes tremularam,
– Gaivotas que a voar desfaleceram.

Pararam de remar! Emudeceram!
(Velhos ritmos que as ondas embalaram)
Que cilada que os ventos nos armaram!
A que foi que tão longe nos trouxeram?

San Gabriel, arcanjo tutelar,
Vem outra vez abençoar o mar,
Vem-nos guiar sobre a planície azul.

Vem-nos levar à conquista final
Da luz, do Bem, doce clarão irreal
Olhai! Parece o Cruzeiro do Sul!

II

Vem conduzir as naus, as caravelas,
Outra vez, pela noite, na ardentia,
Avivada das quilhas. Dir-se-ia
Irmos arando em um montão de estrelas.

Outra vez vamos! Côncavas as velas,
Cuja brancura, rútila de dia,
O luar dulcifica ... Feeria
Do luar não mais deixes de envolvê-las!

Vem guiar-nos, Arcanjo, à nebulosa
Que do além vapora, luminosa,
E à noite lactescendo, onde, quietas,

Fulgem as velhas almas namoradas
– Almas tristes, severas, resignadas,
De guerreiros, de santos, de poetas.


Camilo Pessanha,Clepsydra

Etiquetas:

17/07/10

QUINO

Hoje é o aniversário de Quino (n.1932), o criador desta querida Mafaldinha e seus amigos.
obs.: clique sobre a imagem para ver melhor

Etiquetas:

OS MEUS POETAS - 183

autores

[amo mais a natureza]

Há uma glória nos bosques inexplorados, um êxtase na praia solitária, vida onde ninguém chega perto do mar profundo, e música no seu rumor. Não amo menos o homem, mas amo mais a natureza.

Lord Byron

Etiquetas:

16/07/10

UMA ATITUDE SE IMPÕE: AFRONTAMENTO - 32


Picasso, Guernica - pormenor

Grito claro

De escadas insubmissas
de fechaduras alerta
de chaves submersas
e roucos subterrâneos
onde a esperança enlouqueceu
de notas dissonantes
um grito de loucura
de toda a matéria escura
sufocada e contraída
nasce o grito claro

António Ramos Rosa

Etiquetas:

15/07/10

PÉROLAS - 200



El horizonte es tu cuerpo,
el horizonte es mi alma.
Llego a tu fin: más arena.
Llegas a mi fin: más agua.

Juan Ramón Jiménez

Etiquetas:

14/07/10

POETAS MEUS AMIGOS - 131




As tristes terças

Quero os ventos
que agitam pássaros, cabelos, tecidos rústicos
. e trapos [ meigos

Quero, derretidas, dos gelos, gotas choradas
e, de poetas, nem flâmulas nem rendas,
.
só as mágoas.
Das partituras, quero as notas que não são tocadas
e aquelas que, feito minha tristeza, bemolizadas,
só parecem que enfeitam, que flutuam,
que descansam
.
Quero, dos blues, as tristes terças.


José P. Di Cavalcanti,jr.

Etiquetas:

13/07/10

CONVITE


faça zoom para ver melhor
Dia 16 de Julho, pelas 21 horas, na Sociedade Guilherme Cassoul
-Av D.Carlos I,nº61 - Lisboa

Etiquetas:

DO FALAR POESIA -117




O poeta beija tudo, graças a Deus... E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade... E diz assim: "É preciso saber olhar..."
E pode ser, em qualquer idade, ingénuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos...
E levanta uma pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás... E perde tempo (ganha tempo...) a namorar uma ovelha... E comove-se com cousas de nada: um pássaro que canta, uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino, um bocadinho de Sol depois de um dia chuvoso...
E acha que tudo é importante... E pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim...
E reparou que os homens estavam tristes...
E escreveu uns versos que começam desta maneira: "O segredo é amar..."


Sebastião da Gama in Diário

Etiquetas: ,

12/07/10


Que querem? Hoje sinto-me mais hispânica!

Etiquetas:

LER OS CLÁSSICOS - 129

noite

[Noites de verão]

Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão.
Mas no fundo isso não tem muita importância.
O que interessa mesmo não são as noites em si são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre.
Em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.


William Shakespeare
Encontrado em modus vivendi - http://amata.anaroque.com/

Etiquetas:

11/07/10

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 84



A Rosa

Suave Irmã!
Onde irei buscar, quando for Inverno,
As Flores, para tecer coroas aos Deuses?
Então será, como se eu já não soubera do Divino,
Pois de mim terá partido o Espírito da Vida;
Quando eu buscar Prendas de Amor aos Deuses,
As Flores no Campo escalvado,
E te não achar.

Hölderlin-Poemas
trad.Paulo Quintela

Etiquetas: ,

10/07/10

PENSAR - 114

autores

[sobre a Arte]


Desde muito tempo penso que a Arte não é uma categoria, um domínio que abrangeria uma infinidade de noções e de fenômenos com todas as suas ramificações; pelo contrário, é qualquer coisa de restrito, de concentrado; é preciso entender por isso um princípio fundamental, um elemento da obra de arte, o nome da força que encontra em si sua aplicação, da verdade que põe em ação. A Arte jamais me pareceu ser um objeto ou um aspecto da forma, mas antes um elemento misterioso e oculto do conteúdo. Para mim, é claro como o dia, sinto-a por todas as fibras de meu ser, mas como exprimir e formular esse pensamento? As obras falam de maneiras bem diversas: pelos temas, pelas situações, pelos enredos, pelos heróis. Mas falam sobretudo pelo que ocultam de arte. A arte das páginas de "Crime e Castigo" transtorna mais que o crime de Raskolnikov.A arte primitiva, a arte egípcia, a arte grega, nossa arte, seguramente, através dos milênios, são uma e mesma coisa, a Arte, sempre no singular. É um certo pensamento, uma certa afirmação, sobre a vida, demasiado universal para que seja possível decompô-la em palavras separadas; e quando um átomo dessa força se insere numa mistura mais complicada, essa parcela de arte pesa mais que o resto e torna-se a essência, a alma e o fundamento do conjunto representado.

Boris Pasternak

Etiquetas:

09/07/10

DA EDUCAÇÃO - 59



[Na contra-corrente]

Março, 23
- Tens muito que fazer?
- Não. Tenho muito que amar. Não entendo ser professor de outra maneira. E não me venham dizer que isso assim cansa e mata; morrer-se, sempre se morre: e à minha maneira tem-se a consolação de não ser em vão que se morre de cansaço.

Sebastião da Gama - num dos mais belos livros de pedagogia que conheço - o seu DIÁRIO

Etiquetas:

08/07/10

NOCTURNOS - 84



De palavra em palavra
a noite sobe
aos ramos mais altos
e canta
o êxtase do dia.

Eugénio de Andrade

Etiquetas: ,

07/07/10

LEITURAS - 144

bolo de fubá

O seu bolo pode não ter saído bem, mas ela é amada, de qualquer modo. É amada, pensa, mais ou menos da mesma maneira que as suas prendas serão apreciadas: porque foram dadas com boa intenção, porque existem, porque fazem parte de um mundo em que uma pessoa quer o que recebe.

Michael Cunningham - em As Horas

Etiquetas:

06/07/10

DO FALAR POESIA - 116


chagall

Será o poema porventura uma passagem
Que desafia o rumor?

Ou
Uma certa claridade
Que circundará cristal e abismo?

Será porventura abismo ou um cristal?

Será porventura também a ausência de abismo
E uma ausência do cristal?

Yves Namur

Etiquetas:

05/07/10

UMBERTO D





Acabei de rever em DVD, e após tantos anos, este genial filme - de 1972-do grande Vittorio de Sica;esta é a sequência final.Se puderem, revejam-no numa cinemateca ou, como eu fiz, em DVD.

http://www.youtube.com/watch?v=erornDbrlkk&feature=related

Há mais vídeos do filme no youtube.

Etiquetas:

04/07/10

É VERÃO



[No entardecer dos dias de Verão]

No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...
Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão ...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos ...
Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir ...

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos", XLI
previamente publicado no efémero barcosflores.blogs.sapo.pt

Etiquetas:

03/07/10

SAINT- EXUPÉRY



No passado dia 29 de junho o 'Dr'.Google comemorou assim o aniversário de Saint-Exupéry (1900 - 1944) . Foi bonito, não foi?

Etiquetas:

LER OS CLÁSSICOS - 128

ler


[Ai eu! tanto cuidava saber de amor
e tão pouco sei!]


Quando vejo a cotovia mover
de alegria as asas contra o raio
que se esquece e se deixa cair
com a doçura que no coração lhe vai
ai! tão grande inveja me vem
daqueles que vejo andar contentes!
E maravilho-me eu como de repente
de desejo o meu coração não se funde.

Ai eu! tanto cuidava saberde amor
e tão pouco sei!
Pois eu de amar não me posso conter
aquela cujo favor nunca terei;
tem o meu coração e tem-me todo a mim,
tem-se a si própria e ao mundo inteiro!
E quando me tomou nada mais me deixou
senão desejo e coração voraz.

Perdi já eu sobre mim o poder
e deixei de ser meu desde o instante
em que me deixou nos seus olhos ver,
num espelho que me agrada tanto.
Espelho, pois me mirei em ti,
mataram-me os suspiros mais profundos,
que assim me perdi, como se perdeu
o belo Narciso na fonte.

Das donas me desespero,
não mais nelas me fiarei!
Que assim como as usava defender
assim as desabonarei
pois vejo que nenhuma me auxilia
junto daquela que me destrói sem razão,
de todas duvido, de todas desconfio,
pois sei bem que todas iguais são.

Nisso faz bem o papel de mulher
a minha dona, que condeno assaz:
pois não quer o que se deve querer
e o que lhe é vedado faz.
Caído sou em sua impiedade
e agi pois como o louco na ponte!
e não sei porque me vou curvado
se não por querer subir alto monte.

Piedade está perdida a valer,
e eu não o soube jamais,
pois aquela que mais a deveria ter
não a tem; e onde a irei buscar?
Ah! como pouco parece, a quem a vê,
que este cativo amador,
que já sem ela não encontrará bem,
deixe morrer, sem socorro lhe dar!

Pois com minha dama não me podem valer
preces, nem piedade, nem meu bom direito,
nem a ela não lhe causa prazer
que eu a ame, jamais lho direi.
E assim dela me afasto e me rendo!
Pois me matou, como morto lhe respondo,
e vou-me daqui, pois ela não me retém,
cativo, em exílio, não sei onde.

Tristão, nada mais tereis de mim,
pois me vou, cativo, não sei onde;
ao cantar volto costas e me rendo assim,
e da alegria e do amor me escondo.

Bernart de Ventadorn,trovador provençal (c.1130 – c.1200)
trad. Graça Videira Lopes
Publ.antes em modus vivendi .
http://amata.anaroque.com/

Etiquetas: ,

02/07/10

ESCREVER -83

Escrever Pictures, Images and Photos


Escrever não provoca tormento, mas nasce do tormento.


Michel de Montaigne

Etiquetas:

01/07/10

«ENSINOU A PENSAR EM RITMO» - 6



Génio da noite

Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo, triste e lento
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração, que tumultua,
Tu vertes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!

Antero de Quental

Etiquetas: ,

Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com Licença Creative Commons