31/10/10

OMNIA VINCIT AMOR - 152

quarto de j.keas em roma

A vida responsável

Conduzir mas sem ter um acidente,
comprar massas e desodorizante
se cortar as unhas às minhas filhas.
Madrugar outra vez e ter cuidado
Em não dizer inconveniências,
Esmerar-me na prosa de umas folhas
E estou-me nas tintas para elas,
Retocar de vermelho cada face.
Lembrar-me da consulta ao pediatra,
Responder ao correio, estender roupa,
Declarar rendimentos, ler uns livros,
Fazer umas chamadas telefónicas.
Bem gostaria de me dar ao luxo
De ter o tempo todo que quisesse
Para fazer só coisas esquisitas,
Coisas desnecessárias, prescindíveis
E, sobretudo, inúteis e patetas.
Por exemplo, amar-te com loucura.

Amalia Bautista

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30/10/10

PENSAR - 119

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"A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos. A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro. A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos...TUDO BEM! O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum...é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos. Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos..."

atribuido a Chico Xavier
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29/10/10





http://www.youtube.com/watch?v=xNqmYDJkGKo

Falecido neste dia em 1981, pediu, nesta canção, para ser enterrado na praia de Sète, onde tinha nascido em 22 de outubro de 1921.Fizeram-lhe a vontade.Como escrevera Mário de Sá-Carneiro, « a um morto nada se recusa». Foi um dos grandes 'cantautores' franceses.Um daqueles que alguém designou de 4 mosqueteiros da canção francesa:os outros foram Jacques Brel,Léo Ferré,Jean Ferrat.

Supplique pour être enterré à la plage de Sète

La Camarde qui ne m'a jamais pardonné,/D'avoir semé des fleurs dans les trous de son nez,/Me poursuit d'un zèle imbécile./Alors cerné de près par les enterrements,/J'ai cru bon de remettre à jour mon testament,/De me payer un codicille.//

Trempe dans l'encre bleue du Golfe du Lion,/Trempe, trempe ta plume, ô mon vieux tabellion,/Et de ta plus belle écriture,/Note ce qu'il faudra qu'il advint de mon corps,/Lorsque mon âme et lui ne seront plus d'accord,/Que sur un seul point : la rupture.//

Quand mon âme aura pris son vol à l'horizon,/Vers celle de Gavroche et de Mimi Pinson,/Celles des titis, des grisettes./Que vers le sol natal mon corps soit ramené,/Dans un sleeping du Paris-Méditerranée,/Terminus en gare de Sète.//

Mon caveau de famille, hélas ! n'est pas tout neuf,/Vulgairement parlant, il est plein comme un œuf,/Et d'ici que quelqu'un n'en sorte,/Il risque de se faire tard et je ne peux,/Dire à ces braves gens : poussez-vous donc un peu,/Place aux jeunes en quelque sorte.//

Juste au bord de la mer à deux pas des flots bleus,/Creusez si c'est possible un petit trou moelleux,/Une bonne petite niche./Auprès de mes amis d'enfance, les dauphins,/Le long de cette grève où le sable est si fin,/Sur la plage de la corniche.//

C'est une plage où même à ses moments furieux,/Neptune ne se prend jamais trop au sérieux,/Où quand un bateau fait naufrage,/Le capitaine crie : "Je suis le maître à bord !/Sauve qui peut, le vin et le pastis d'abord,/Chacun sa bonbonne et courage".//

Et c'est là que jadis à quinze ans révolus,/A l'âge où s'amuser tout seul ne suffit plus,/Je connu la prime amourette./Auprès d'une sirène, une femme-poisson,/Je reçu de l'amour la première leçon,/Avalai la première arête.//

Déférence gardée envers Paul Valéry,/Moi l'humble troubadour sur lui je renchéris,/Le bon maître me le pardonne./Et qu'au moins si ses vers valent mieux que les miens,/Mon cimetière soit plus marin que le sien,/Et n'en déplaise aux autochtones.//

Cette tombe en sandwich entre le ciel et l'eau,/Ne donnera pas une ombre triste au tableau,/Mais un charme indéfinissable./Les baigneuses s'en serviront de paravent,/Pour changer de tenue et les petits enfants,/Diront : chouette, un château de sable !//

Est-ce trop demander : sur mon petit lopin,/Planter, je vous en prie une espèce de pin,/Pin parasol de préférence./Qui saura prémunir contre l'insolation,/Les bons amis venus faire sur ma concession,/D'affectueuses révérences.//

Tantôt venant d'Espagne et tantôt d'Italie,/Tous chargés de parfums, de musiques jolies,/Le Mistral et la Tramontane,/Sur mon dernier sommeil verseront les échos,/De villanelle, un jour, un jour de fandango,/De tarentelle, de sardane.//

Et quand prenant ma butte en guise d'oreiller,/Une ondine viendra gentiment sommeiller,/Avec rien que moins de costume,/J'en demande pardon par avance à Jésus,/Si l'ombre de sa croix s'y couche un peu dessus,/Pour un petit bonheur posthume.//

Pauvres rois pharaons, pauvre Napoléon,/Pauvres grands disparus gisant au Panthéon,/Pauvres cendres de conséquence,/Vous envierez un peu l'éternel estivant,/Qui fait du pédalo sur la vague en rêvant,/Qui passe sa mort en vacances.//

Vous envierez un peu l'éternel estivant,/Qui fait du pédalo sur la plage en rêvant,/Qui passe sa mort en vacances,//

http://www.youtube.com/watch?v=xNqmYDJkGKo

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28/10/10

DESASSOSSEGOS - 109

o dia deu em chuvoso


tradução

traduzo a chuva pelas pálpebras do dia
para não dizer a desistência do amanhã

releio as vozes de ontem rasgo momentos
choro em remoinho verdades esquecidas

descabelam-se os fios dos meus anos
no verso de prata madrugados
quando as luzes adormecem ante a aurora

que parte do meu texto é descabida - vida minha
de olhos desatentos - que agora? que depois?

Lilia Silvestre Chaves

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27/10/10

LER OS CLÁSSICOS - 132

ler

LXXV

Ao que, por culpa tua, chegou a minha alma,
Lésbia! Até que ponto, pela sua fidelidade,
ela se perdeu! Já te não pode
querer bem, ainda que te tornes
a melhor das mulheres, mas também não pode
deixar de te amar, mesmo que para isso tudo faças

Catulo – 25 Carmesedição bilingue
Trad. e notas de Albano Martins
Editoralicorne.blogspot.com

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26/10/10

ESCREVER - 88

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Escrevo muito simples e muito nu. Por isso fere.
Clarice Lispector

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25/10/10

PÉROLAS - 204

olhos azuis

os teus olhos infinitos

Hoje roubei todas as estrelas do céu
e quando pensei em colá-las nos teus olhos
faltava-me ainda o universo todo...

Eusébio Sanjane

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24/10/10

DE AMICITIA - 98



http://www.youtube.com/watch?v=EtGF2m102Wg&feature=related

That's What Friends Are For

(de e com Stevie Wonder, Dionne Warwick, Luther Vandross & Whitney Houston)

And i never thought i'd feel this way
And as far as i'm concerned
I'm glad i got the chance to say
That i do believe i love you
And if i should ever go away
Well, then close your eyes and try
To feel the way we do today,
And then if you can remember,
Keep smiling, keep shining,
Knowing you can always count on me
For sure
That's what friends are for
For good times and bad times
I'll be on your side forever more.
That's what friends are for
I never thought i'd feel this way
Well you came and opened me
And now there's so much more i see
And so, by the way, i thank you.
And then for the times when we're apart
Well, then close your eyes and know
These words are coming from my heart
And then if you can remember
Keep smiling, keep shining
Knowing you can always count on me
For sure
That's what friends are for
In good times and bad times
I'll be on your side forevermore
That's what friends are for

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23/10/10

DO FALAR POESIA - 90


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DESASSOSSEGOS - 108

desassossegos

Dentro da Vida

Não estamos preparados para nada:
certamente que não para viver
Dentro da vida vamos escolher
o erro certo ou a certeza errada

Que nos redime dessa magoada
agitação do amor em que prazer
nem sempre é o que fica de querer
ser o amador e ser a coisa amada?

Porque ninguém nos salva de não ser
também de ser já nada nos resgata
Não estamos preparados para o nada:
certamente que não para morrer

Gastão Cruz

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22/10/10

OS MEUS POETAS - 191

autores,ler


Na noite da minha morte
Tudo voltará silenciosamente ao encanto antigo...
E os campos libertos enfim da sua mágoa
Serão tão surdos como o menino acabado de esquecer.

Na noite da minha morte
Ninguém sentirá o encanto antigo
Que voltou e anda no ar como um perfume...
Há-de haver velas pela casa
E xales negros e um silêncio que eu
Poderia entender.

Mãe: talvez os teus olhos cansados de chorar
Vejam subitamente...
Talvez os teus ouvidos, só eles ouçam, no silêncio da casa velando,
E mesmo que não saibas de onde vem nem porque vem
Talvez só tu a não esqueças.

Cristovam Pavia,35 Poemas

- reeditados.com outros, em Poesia (completa) - D.Quixote,2010

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21/10/10

LEITURAS - 150

autores

Raissa


«Não é feliz, a vida em Raissa. Pelas ruas a gente caminha torcendo as mãos, ralha com as crianças que choram, apoia-se aos parapeitos sobre o rio de cabeça nas mãos, de manhã acorda de um mau sonho e começa logo outro. Entre as bigornas onde a toda a hora se esmaga os dedos com o martelo ou se pica com a agulha, ou nas colunas de números todos tortos dos registos dos negociantes e dos banqueiros, ou diante das filas de copos sobre o zinco dos balcões das tabernas, ainda bem que as cabeças baixas nos poupam a olhares turvos. Dentro das casas é pior, e nem é preciso entrar lá para sabê-lo: de Verão as janelas ressoam de brigas e de pratos quebrados.E no entanto, em Raissa, a cada momento há uma criança que de uma janela ri a um cão que saltou sobre um alpendre para morder um bocado de massa que caiu a um pedreiro que do alto do andaime exclamou: — Alegria minha, deixa-me pintar-te! — a uma jovem taberneira que atravessa a pérgula com um prato de carne nas mãos, contente por servi-lo ao fabricante de chapéus de chuva que festeja um bom negócio, uma sombrinha de renda branca comprada por uma grande dama para se pavonear nas corridas, enamorada de um oficial que lhe sorriu ao saltar a última barreira, feliz ele mas mais feliz ainda o seu cavalo que voava sobre os obstáculos vendo voar no céu um francolim, feliz ave liberta da gaiola por um pintor feliz por tê-la pintado pena a pena com manchinhas vermelhas e amarelas na miniatura daquela página do livro em que diz o filósofo: «Mesmo em Raissa, cidade triste, corre um fio invisível que liga um ser vivo a outro por um instante e a seguir se desfaz, e depois torna a estender-se entre pontos em movimento desenhando novas rápidas figuras de modo que a cada segundo a cidade infeliz contém uma cidade feliz que nem sequer sabe que existe».

italo calvino ,as cidades invisíveis
trad. josé colaço barreiros - ed. Teorema

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20/10/10

POETAS MEUS AMIGOS - 138

frutos

Perfumo-me de bergamota
quando o sumo penetra em minhas mãos
e passo a sentir-me parte da terra,
dos campos arados,
do pomar da infância distante.

Cheiro a bergamota,
a me entranhar lembranças,
sentimentos e a voz do padre
nas procissões das crianças
para coroar Nossa Senhora.

Andores ornados de lírios, rosas.
Mãos levando ramos do jardim
e o perfume mesclado dos quintais.

Tudo me traz de volta
esse perfume de bergamota em mim.

Mary Castilho

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19/10/10

CONVITE


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PENSAR - 118

autores

Algumas citações de Aristóteles

. O belo é o esplendor da ordem

. O começo de todas as ciências é o espanto de as coisas
serem o que são

. A música é celeste, de natureza divina e de tal beleza
que encanta
..a alma e a eleva acima da sua condição

Aristóteles.s.V a.C..

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18/10/10

NOCTURNOS - 89

estrelas

segundo soneto nocturno

Dizias: a poesia não nos protege
nem salva, é só um consolo inútil.
As folhas rasgadas ardiam melhor,
o fogo contorcia as estrofes, brilho

negro o destas cinzas. Dizias: foi
ontem que o anjo me veio arrancar
os olhos, amanhã virá à procura do
coração. Na tua voz, restos de vidro

moído, metal gasto, ferrugem. Lá
em cima as estrelas continuavam
a cintilar, indiferentes. Nenhuma

catástrofe que nos aconteça ficará
registada nos sismógrafos. Dizias:
afinal não há anjo, são só palavras.

José Mário Silva, Luz Indecisa

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17/10/10

Na data da entrada de Chopin na eternidade



Frédéric Chopin - nascido em 1810 na sua Polónia ocupada e falecido,no seu exílio em Paris, em 17 de Outubro de 1849.Lembremo-lo uma vez mais.

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DA EDUCAÇÃO - 63

ensinar


Do Ensino

Então um Professor disse:

- Fala-nos do Ensino.

E ele respondeu:

- Nenhum homem vos pode revelar nada que não repouse já meio adormecido na manhã do vosso conhecimento.

O mestre que caminha à sombra do templo, entre os discípulos, não reparte a sua sabedoria mas antes da sua fé e do seu amor.

Se for verdadeiramente sábio, não vos convidará a entrar na casa da sabedoria, mas levar-vos-á aos umbrais do vosso próprio espírito.

O astrónomo pode falar-vos da sua compreensão do espaço, mas não pode dar-vos a sua compreensão.

O músico pode cantar para vós a melodia que enche todo o espaço, mas não pode dar-vos o ouvido que aprende o ritmo nem a voz que lhe devolve o eco.

E o que é versado na ciência dos números, pode falar nas relações dos pesos e medidas, mas não pode levar-vos até lá.

Porque a visão de um homem não pode emprestar as suas asas a outro homem.

E assim como cada um de vós se aguenta sozinho no conhecimento de Deus, assim deve estar sozinho no seu conhecimento de Deus e na compreensão da terra.
.autores Kahlil Gibran

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16/10/10







Sempre gostei desta canção, que data de 1784,e era muito ouvida na corte inglesa da época.Aqui, cantada por Nana Mouskouri.

Plaisir d'amour ne dure qu'un moment,
Chagrin d'amour dure toute la vie.

J'ai tout quitté pour l'ingrate Sylvie.
Elle me quitte et prend un autre amant.
Plaisir d'amour ne dure qu'un moment,
Chagrin d'amour dure toute la vie.
Tant que cette eau coulera doucement
Vers ce ruisseau qui borde la prairie,
Je t'aimerai, me répétait Sylvie,
L'eau coule encore, elle a changé pourtant.
Plaisir d'amour ne dure qu'un moment,
Chagrin d'amour dure toute la vie.

http://www.youtube.com/watch?v=-WvXpgLtTwY&feature=related

Nota suplementar:~Canção de Jean-Pierre Claris de Florian musicada por Jean Paul Égide Martini. Foi escrita em 1784 .

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15/10/10

«ENSINOU A PENSAR EM RITMO» - 7

antero de quebtal

Beber-te! como bebo o ar da vida...

E como bebo a luz do sol doirado...
E a poesia do templo consagrado...
E o consolo no olhar da mãe querida...


Como bebo nos livros do saber
A palavra dos Deuses, e o segredo
Da existência nas folhas do arvoredo...
E em longas noites de cruel sofrer...

Como bebe no cálix o Deus-vivo
Quem o não sente andar dentro de si...
Como eu nesses teus olhos já bebi
A água que hei-de beber enquanto vivo!

Antero de Quental - Primaveras Românticas

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14/10/10


VISITAS...E COMPANHEIROS/AS DE VIAGENS FLORIDAS.OBRIGADA, REMADORES...

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O PRAZER DE LER - 116

leituras 2

O grande problema da minha relação com os livros é o da vertigem de tudo o que nunca li. Não o de tudo o que nunca chegarei a ler, hélas! Mas o daquilo que sei que ainda hei-de ler e continua a ser uma compulsão, talvez a verdadeira utopia dos amanhãs que cantam na palavra escrita e mediada pela famosa arte da imprimissão.

Vasco Graça Moura, in Alfreda ou a Quimera

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13/10/10

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 88

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Natureza morta

E se eu te oferecesse uma rosa vermelha,
da cor do sangue, para que o dia se alegrasse?
Há dias assim, penso nas rosas vermelhas
como se elas tivessem a magia
de tudo transformar.
Talvez me olhasses de outro modo
talvez me oferecesses
plantas do teu jardim
e os frutos maduros do teu pomar.
Talvez o chilrear dos pássaros
nos seduzisse
e eu deixasse de ser uma natureza morta!...


Alexandre de Castro

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12/10/10

LEITURAS - 149

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O Nascimento do Prazer
(trecho)

O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer. A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida - e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir-se total é insuportavelmente bom - como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar inundar pela alegria aos poucos - pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protectora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protector, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele. Ele é nós.

Clarice Lispector

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11/10/10

LER OS CLÁSSICOS - 131

amor
Foto:maria cano

Não sei se a raiva é coisa dura,
nem tenho intento de o saber;
mas sei que amor, que pouco dura,
é bem difícil de sofrer.
Nome de amor nem deve ter:
antes de flor, ou de verdura,
visto passar tão a correr...

Nome de flor, ou de verdura,
no coração do meu amante:
dentro do meu, por desventura,
chamei-lhe Rocha, ou Diamante
- pois é tão forte e tão brilhante
que nem a própria sepultura
me há-de tornar menos constante.


Clément Marot

Encontrado em http://aldinaduarte.blogspot.com/

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10/10/10

OMNIA VINCIT AMOR - 151

diego rivera


"Se a luz é o primeiro amor da vida, não será o amor a luz da vida?"

Honoré de Balzac

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09/10/10




Gracias a la vida
(versão original de Violeta Parra-http://www.youtube.com/watch?v=UW3IgDs-NnA)

Gracias a la vida que me ha dado tanto.

Me dio dos luceros que, cuando los abro,

perfecto distingo lo negro del blanco,

y en el alto cielo su fondo estrellado

y en las multitudes el hombre que yo amo.//

Gracias a la vida que me ha dado tanto.

Me ha dado el oído que, en todo su ancho,

graba noche y día grillos y canarios;

martillos, turbinas, ladridos, chubascos,

y la voz tan tierna de mi bien amado.//

Gracias a la vida que me ha dado tanto.

Me ha dado el sonido y el abecedario,

con él las palabras que pienso y declaro:

madre, amigo, hermano, y luz alumbrando

la ruta del alma del que estoy amando.//

Gracias a la vida que me ha dado tanto.

Me ha dado la marcha de mis pies cansados;

con ellos anduve ciudades y charcos,

playas y desiertos, montañas y llanos,

y la casa tuya, tu calle y tu patio.//

Gracias a la vida que me ha dado tanto.

Me dio el corazón que agita su marco

cuando miro el fruto del cerebro humano;

cuando miro el bueno tan lejos del malo,

cuando miro el fondo de tus ojos claros.//

Gracias a la vida que me ha dado tanto.

Me ha dado la risa y me ha dado el llanto.

Así yo distingo dicha de quebranto,

los dos materiales que forman mi canto,

y el canto de ustedes que es el mismo canto

y el canto de todos, que es mi propio canto.//

Gracias a la vida que me ha dado tanto.

(1964-1965)

Da autoria de Violetta Parra, teve, depois, muitos intérpretes - a mais conhecida de todas Mercedes Sosa. Basta procurar no youtube em Gracias a la vida.

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08/10/10

POETAS MEUS AMIGOS - 137

um nome

Impressões sobre um verso de drummond

"ouço teu nome, única parte de ti que não se dissolve"

O que temos de imortal, irmã,
de verdadeiramente imortal em nós,
não é essa ilusão de alma,
mas apenas o nome.

Toda a Força reside no Nome,
é ele que sempre acenderá na memória
a lembrança daquela aquem amei
- Márcia, Cristina, Soraya, Rosa -
com aquela idade e naquele tempo.

Toda aparência é falsa, só o nome
- que é imortal - importa.

Nem corpo nem alma,
só o nome é a Musa,
só o nome da Rosa.


Antônio Adriano de Medeiros

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07/10/10

PENSAR - 117

pessoa por carmen cynira
foto de carmen cinira

[A opinião pública ]


Recentemente, entre a poeira de algumas campanhas políticas, tomou de novo relevo aquele grosseiro hábito de polemista que consiste em levar a mal a uma criatura que ela mude de partido, uma ou mais vezes, ou que se contradiga, frequentemente. A gente inferior que usa opiniões continua a empregar esse argumento como se ele fosse depreciativo. talvez não seja tarde para estabelecer, sobre tão delicado assunto do trato intelectual, a verdadeira atitude científica.
Se há facto estranho e inexplicável é que uma criatura de inteligência e sensibilidade se mantenha sempre sentada sobre a mesma opinião, sempre coerente consigo própria. A contínua transformação de tudo dá-se também no nosso corpo, e dá-se no nosso cérebro consequentemente. Como então, senão por doença, cair e reincidir na anormalidade de querer pensar hoje a mesma coisa que se pensou ontem, quando só o cérebro de hoje já não é o de ontem, mas nem sequer o dia de hoje é o de ontem? Ser coerente é uma doença, um atavismo, talvez; data de antepassados animais em cujo estádio de evolução tal desgraça seria natural.
A coerência , a convicção, a certeza são, além disso, demonstrações evidentes - quantas vezes escusadas - de falta de educação. É uma falta de cortesia com os outros ser sempre o mesmo à vista deles; é maçá-los, apoquentá-los com a nossa falta de variedade.
Uma criatura de nervos modernos de inteligência sem cortinas, de sensibilidade acordada, tem a obrigação cerebral de mudar de opinião e de certeza várias vezes no mesmo dia. Deve ter, não crenças religiosas, opiniões políticas, predilecções literárias, mas sensações reigiosas, impressões políticas, impulsos de admiração literária.
Certos estados de alma da luz, certas atitudes da paisagem têm sobretudo, quando excessivos, o direito de exigir a quem está diante deles determinadas opiniões políticas, religiosas e artísticas, aqueles que eles insinuem, e que variãrão, como é de entender, consonte esse exterior varie. O homem disciplinado e culto faz da sua sensibilidade e da sua inteligência espelhos do ambiente transitório: é republicano de manhã, é monarquico ao crepúsculo; ateu sob um sol descoberto, e católico ultramontano a certas horas de sombra e de silêncio; e não podendo admitir senão Mallarmé àqueles momentos de anoitecer citadino em que desabrocham as luzes, ele deve sentir todo o simbolismo, uma invenção de louco quando, ante uma solidão do mar, ele não souber de mais do que da “Odisseia”.
Convições profundas, só as têm as criaturas superficiais. Os que não reparam para as coisas quase que as vêem apenas para não esbarrar com elas, esses são sempre da mesma opinião, são os íntegros e os coerentes. A política e a religião gastam dessa lenha, e é por isso que ardem tão mal ante a Verdade e a Vida.
Quando é que despertaremos para a justa noção de que a política, a religião e vida social são apenas graus inferiores e plebeus da estética - a estética dos que ainda não a podem ter? Só quando uma humanidade livre dos preconceitos de sinceridade e coerência tiver acostumada às suas sensações a viverem independentemente, se poderá conseguir qualquer coisa de beleza, elegância e serenidade na vida.


Fernando Pessoa - in Os Portugueses - A opinião pública (1915)
encontrado em http://www.pessoa.art.br/ - site que recomendo

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06/10/10

NOVIDADE

autores

É,naturalmente, um gosto, saber que este meu livro se encontra já editado no Brasil pela Companhia das Letras e que, assim, os jovens brasileiros terão mais fácil acesso aà obra do mais importante dos luso-brasileiros de sempre.Edição Companhia das Letras,2010

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OS MEUS POETAS - 190

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Por favor,
respeita o meu silêncio,
o silêncio é a minha melhor arma.
Escutaste as minhas palavras
quando fiquei silencioso?
Sentiste a beleza do que disse
quando não disse nada?

Nizar Kabanni,poeta sírio (1923-1998)
trad. de Jorge de Sousa Braga

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05/10/10

NO CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

liberdade
5 out.1910 5 out.2010

O nosso drama de portugueses,
O nosso maior drama entre os maiores
Dos dramas portugueses,
É este apego hereditário à Forma:
Ao modo de dizer, aos pontinhos nos ii,
Às vírgulas certas, às quadras perfeitas,
À estilística, à estética, à bombástica,
À chave de ouro do soneto vazio,
- Que põe molezas de escravatura
Por dentro do que pensamos
Do que sentimos,
Do que escrevemos,
Do que fazemos,
Do que sentimos.

Carlos Queirós, Anti-Soneto – in Cadernos de Poesia, 1940
Encontrado no supl.Economia do jormal Expresso de 2.10.010

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04/10/10

DE AMICITIA - 97

flores


Perguntou se uso os amigos e disse, logo, sim.
Uso os amigos como fazem as flores e as cores.

Quando uma vai embora, morrem as duas.

Zef ( http://vozromazeira.blogspot.com/)

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03/10/10

OS MEUS POETAS - 189













http://www.youtube.com/watch?v=QqVBGv2hpQ4

Um poema vindo dos lados por onde andei - Médio Oriente - , mais propriamente de um poeta sufi -RUMI - este, da antiga Pérsia (1207-1273).

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02/10/10

ESCREVER - 87

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os fios de uma história entrelaçam-se de vez em quando e formam uma imagem na teia; de vez em quando, as personagens adoptam uma atitude entre si ou em relação à natureza, que deixa a história gravada como uma ilustração. crusoe retro-cedendo perante uma pegada, aquiles gritando contra ostroianos, ulisses dobrando um grande arco, christian a correr com os dedos nos ouvidos: todos estes são momentos culminantes na lenda, e todos ficaram impressos para sempre no olho da mente. podemos esquecer outras coisas; podemos esquecer as palavras, mesmo que sejam belas; podemos esquecer os comentários do autor, mesmo que sejam engenhosos e verdadeiros; mas estas cenas capitais, que põem a marca definitiva da verdade numa história e, de um só golpe, preenchem a nossa capacidade de prazer, adoptamo-las de tal modo no íntimo do nosso espírito que nem o tempo nem a maré podem apagar ou enfraquecer a sua impressão.
robert louis stevenson,a gossip on romance, memories an portraits

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