26/08/11

LEITURAS - 170




Um dia, já eu era velha, um homem dirigiu-se-me à entra­da de um lugar público. Deu-se a conhecer e disse-me: ­
- «Conheço-a desde sempre. Toda a gente diz que você era bonita quando era nova, vim dizer-lhe que, para mim, acho-a mais bonita agora do que quando era jovem, gostava menos do seu rosto de mulher jovem do que daquele que tem agora, devastado. »
Penso frequentemente nesta imagem que sou a única a ver ainda e de que nunca falei. Está sempre aí no mesmo silêncio, deslumbrante. É, de todas, a que me agrada de mim própria, onde me reconheço, onde me encanto.
Muito cedo na minha vida foi tarde de mais. Aos dezoito anos era já tarde de mais. Entre os' dezoito e os vinte e cinco anos o meu rosto partiu numa direcção imprevista. Aos dezoi­to anos envelheci. Não sei se é assim com toda a gente, nunca perguntei. Parece-me ter ouvido falar dessa aceleração do tempo que nos fere por vezes quando atravessamos as idades mais jovens, mais celebradas da vida. Este envelhecimento foi brutal. Vi-o apoderar-se dos meus traços um a um, alterar a ...
Marguerite Duras - O Amante (1984) - 1ª página
recolhida por JMA em http://terrear.blogspot.com

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