30/06/11

OMNIA VINCIT AMOR - 163

marinhas


"Onde há amor, nunca se faz noite."


(provérbio africano - do Burundi?)
 Colocado por Maria Gomes no FB

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29/06/11

CAMONIANAS - 68

animais;aves


Está o lascivo e doce passarinho

Está o lascivo e doce passarinho
com o biquinho as penas ordenando;
o verso sem medida, alegre e brando,
despedindo no rústico raminho.

O cruel caçador, que do caminho
se vem calado e manso desviando,
com pronta vista a seta endireitando
lhe dá no estígio lago eterno ninho.

Desta arte o coração que livre andava
( posto que já de longe destinado),
onde menos temia, foi ferido.

Porque o frecheiro cego me esperava,
para que me tomasse descuidado,
em vossos claros olhos escondido.

Luís de Camões

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28/06/11

DE NOVO AQUI

27/06/11

PÉROLAS - 227

marinhas


[pelo verão]

Mesmo que não conheças nem o mês
nem o lugar caminha
para o mar pelo Verão

Ruy Belo
Colocado em http://cortenaaldeia.blogspot.com/

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26/06/11

DE AMICITIA - 109

amizade


O amigo

A casa do amigo não tem chave
Com um pequeno sopro abre-se a porta
e o aconchego envolve quem entrou
Tem um sofá em forma de sorriso
um copo de água fresca sobre a mesa
e a calma de um nocturno de Chopin
O amigo fez a casa e em nós pensou
A voz é doce e com palavras poucas
abranda a nossa pressa de falar
Naturalmente deixa-nos chorar
O amigo não tem história para contar
e nunca diz: isso não é verdade
Acha que quem chegou deve partir
a arriscar sentir serenidade

Licínia Quitério
http://sitiopoema.blogspot.com/

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25/06/11

DO FALAR POESIA - 130

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[poesia é zen]

 

Sim, poesia é meditação. Poesia é zen! Zen é arte ! É uma forma de ser e estar no mundo, completo aí com outros verbos de ligação: ficar, permanecer. E o verbo de ligação é o tal "religare". Nos ligarmos a um fator transcendente-imanente, que não está lá longe, mas no aqui e no agora. Fazer poesia é meditação. Ler poesia é meditação. É preciso vivenciar tais experiências poéticas. Há diversos estudos, no exterior, enfocando a natureza poética do zen.

Antônio Carlos Rocha

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24/06/11

No te rindas,amigo



No te rindas, aún estás a tiempo de abrazar la vida y comenzar de nuevo, aceptar tu sombra, liberar el lastre y retomar el vuelo.
No te rindas, que la vida es eso, continuar el viaje, perseguir tus sueños, abrir las esclusas, destrabar el tiempo, correr los escombros y destapar el cielo.
No te rindas, por favor, no cedas, aunque el frío queme, aunque el miedo muerda, aunque el sol se ponga y se acalle el viento, aún hay fuego en tu alma, aún hay vida en tu seno.
Porque la vida es tuya y tuyo también el deseo, porque lo has querido y porque yo te quiero, porque existe el vino y el amor es cierto, porque no hay herida que no cure el tiempo.
Abrir las puertas, quitar los cerrojos, bajar el puente y cruzar el foso, abandonar las murallas que te protegieron, volver a la vida y aceptar el reto.
Recuperar la risa, ensayar un canto, bajar la guardia y extender las manos, desplegar las alas e intentar de nuevo, celebrar la vida, remontar los cielos.
No te rindas, por favor, AMIGO , no cedas, aunque el frío queme, aunque el miedo muerda, aunque el sol se ponga y se acalle el viento, aún hay fuego en tu alma, aún hay vida en tu seno.
Porque cada día es un comienzo nuevo, porque ésta es la hora y el mejor momento, porque tienes alas y puedes hacerlo, porque no estás solo y porque yo te quiero.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=hKFEOkRZqlE

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23/06/11

O CORAÇÃO DAS TREVAS - de Joseph Conrad

ler


«Conrad, no seu melhor, é um dos grandes autores de todos os tempos e O Coração da Trevas um conto (os contos ingleses, na sua época, eram compridíssimos)cheio de portas por onde entrar e nenhuma para sair, onde se caminha, página a página, no interior de um nevoeiro deslumbrante, construído em torno de Kurtz, criatura que quase não aparece e pouco fala e, no entanto, é o eixo em torno do qual toda a narrativa gira.
Denúncia do colonialismo, texto político, parábola da angústia do homem no tempo, relato da humanidade truncada, etc.,pode bordar-se onde indefinidamente por cima do que Conrad fez.
O que fez me parece é mais simples: julgo que se limitou a escrever o que devia (...) O horror. diz Kurtz, o horror: o horror decerto, e também o mistério, a grandeza, a pequenez, a complexa e maravilhosa condição da nossa sina, dados com uma frieza arrepiante.» - do Prefácio de António Lobo Antunes.
ed.Dom Quixote,2009

E eu concordo. Foi, com toda a certeza, o melhor livro que li, pela 1ªvez, este ano. Fi-lo em Maio passado. E, agora, o recomendo vivamente.

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ESCREVER - 98


[a palavra secreta]

Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.

Clarice Lispector

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22/06/11

NOCTURNOS - 98

rena boss forman

Nocturnos De La Ventana

1

Alta va la luna.
Bajo corre el viento.

(Mis largas miradas,
exploran el cielo.)

Luna sobre el agua,
Luna bajo el viento.

(Mis cortas miradas,
exploran el suelo.)

Las voces de dos niñas
venían. Sin el esfuerzo,
de la luna del agua,
me fuí a la del cielo.

2

Un brazo de la noche
entra por mi ventana.

Un gran brazo moreno
con pulseras de agua.

Sobre un cristal azul
jugaba al río mi alma.

Los instantes heridos
por el reloj... pasaban.

3

Asomo la cabeza
por mi ventana, y veo
cómo quiere cortarla
a cuchilla del viento.

En esta guillotina
invisible, yo he puesto
las cabezas sin ojos
e todos mis deseos.

Y un olor de limón
llenó el instante inmenso,
mientras se convertía
en flor de gasa el viento.

4

Al estanque se le ha muerto
hoy una niña de agua.
Está fuera del estanque,
sobre el suelo amortajada.

De la cabeza a sus muslos
un pez la cruza, llamándola.
El viento le dice “niña”
mas no puede despertarla.

El estanque tiene suelta
su cabellera de algas
y al aire sus grises tetas
estremecidas de ranas.

Dios te salve. Rezaremos
a Nuestra Señora de Agua
por la niña del estanque
muerta bajo las manzanas.

Yo luego pondré a su lado
dos pequeñas calabazas
para que se tenga a flote,
¡ay! sobre la mar salada.

Federico García Lorca

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21/06/11

LER OS CLÁSSICOS -147



http://www.youtube.com/watch?v=HXZoPH06d3c&feature=player_embedded

Espero que os amigos entendam o italiano...não consigo encontrar o meu exemplar das Metamorfoses de Ovídio...Para colmatar esta falha, o resumo da lenda, tal como vem na wikipedia:

«Narciso era um belo rapaz, filho do deus do rio Céfiso e da ninfa Liríope. Por acasião de seu nascimento, seus pais consultaram o oráculo Tirésias para saber qual seria o destino do menino. A resposta foi que ele teria uma longa vida, se nunca visse a própria face. Muitas moças e ninfas apaixonaram-se por Narciso, quando ele chegou à idade adulta. Porém, o belo jovem não se interessava por nenhuma delas. A ninfa Eco, uma das mais apaixonadas, não se conformou com a indiferença de Narciso e afastou-se amargurada para um lugar deserto, onde definhou até que somente restaram dela os gemidos. As moças desprezadas pediram aos deuses para vingá-las. Nemesis apiedou-se delas e induziu Narciso, depois de uma caçada num dia muito quente, a debruçar-se numa fonte para beber água. Descuidando-se de tudo o mais, ele permaneceu imóvel na contemplação ininterrupta de sua face refletida e assim morreu. No próprio Hades ele tentava ver nas águas do Estige as feições pelas quais se apaixonara.»

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20/06/11

DA EDUCAÇÃO - 68

ensinar



[Eu não sabia que...]

«Eu não sabia que bem seria este representado por bolos na mão, chineladas e reprimendas, sentada de castigo com a carta de ABC na mão.
O bem que eu entendia era a bolacha que me dava minha bisavó e os biscoitos e brevidade da tia Nhorita.
Estes, entravam no meu entendimento. Do resto não tinha nenhuma noção»


Cora Coralina in Menina mal amada

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19/06/11



uma bela voz para uma canção de luta e afrontamento
https://www.youtube.com/watch?v=sKvdPsnkPC0&feature=related


where have all the flowers gone
words and music by Pete Seeger

Where have all the flowers gone?/Long time passing/Where have all the flowers gone?Long time ago/Where have all the flowers gone?/Girls have picked them every one/When will they ever learn?/When will they ever learn?//Where have all the young girls gone?/Long time passing/Where have all the young girls gone?/Long time ago/Where have all the young girls gone?/Taken husbands every one/When will they ever learn?/When will they ever learn?//Where have all the young men gone?/Long time passing/Where have all the young men gone?/Long time ago/Where have all the young men gone?/Gone for soldiers every one/When will they ever learn?/When will they ever learn?//Where have all the soldiers gone?/Long time passing/Where have all the soldiers gone?/Long time ago/Where have all the soldiers gone?/Gone to graveyards every one/When will they ever learn?/hen will they ever learn?//Where have all the graveyards gone?/Long time passing/Where have all the graveyards gone?/Long time ago/Where have all the graveyards gone?/Covered with flowers every one/When will we ever learn?/When will we ever learn?//

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18/06/11

É TÃO FUNDO O SILÊNCIO ENTRE AS ESTRELAS

rosas vermelhas

É tão fundo o silêncio entre as estrelas.
Nem o som da palavra se propaga,
nem o canto das aves milagrosas.
Mas, lá, entre as estrelas, onde somos
um astro recriado, é que se ouve
o íntimo rubor que abre as rosas.

José Saramago

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LEITURAS - 166

ler

O Ano da Morte de Ricardo Reis

"Aqui o mar acaba e a terra principia. Chove sobre a cidade pálida, as águas do rio correm turvas de barro, há cheia nas lezírias. Um barco escuro sobe o fluxo soturno, é o Highland Brigade que vem atracar ao cais de Alcântara. O vapor é inglês, da Mala Real, usam-no para atravessar o Atlântico, entre Londres e Buenos Aires, como uma lançadeira nos caminhos do mar, para lá, para cá, escalando sempre os mesmos portos, La Plata, Montevideo, Santos, Rio de Janeiro, Pernambuco, Las Palmas, por esta ou inversa ordem, e, se não naufragar na viagem, ainda tocará em Vigo e Boulogne-sur-Mer, enfim entrará o Tamisa como agora vai entrando o Tejo, qual dos rios o maior, qual a aldeia. Não é grande embarcação, desloca catorze mil toneladas, mas aguenta bem o mar, como outra vez se provou nesta travessia, em que, apesar do mau tempo constante, só os aprendizes de viajante oceânico enjoaram, ou os que, mais venerandos, padecem de incurável delicadeza do estômago, e, por ser tão caseiro e confortável nos arranjos interiores, foi-lhe dado, carinhosamente, como ao Highland Monarch, seu irmão gémeo, o íntimo apelativo de vapor de família. Ambos estão providos de tombadilhos espaçosos para sport e banhos de sol, pode-se jogar, por exemplo, o cricket, que, sendo jogo de campo, também é exercitável sobre as ondas do mar, deste modo se demonstrando que ao império britânico nada é impossível, assim seja essa a vontade de quem lá manda. Em dias de amena meteorologia, o Highland Brigade é jardim de crianças e paraíso de velhos, porém não hoje, que está chovendo e não iremos ter outra tarde."

José Saramago - O Ano da Morte de Ricardo Reis (início) 
Obs.: no 1º aniversário da morte de José Saramago

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17/06/11

PÉROLAS - 226

retratos


A velha

Esculpida em silêncio,
sentada e sábia,
fita o horizonte da mágoa.

Ao seu lado,
o mar murmura
as sílabas do ocaso.

Ó beleza antiga e súbita:
sobre o seu ombro
o instante se debruça,
iluminado.

Adriano de Espínola, Beira-sol

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16/06/11

Parlez-moi d'Amour



Parlez-moi d'amour é uma canção escrita por  Jean Lenoir (letra e música) em 1930 et criada por Lucienne Boyer.Depois da sua criação,foi cantada por muitas grandes vozes - procurar no youtube.Letra em :http://www.frmusique.ru/texts/b/boyer_lucienne/parlezmoidamour.htm

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15/06/11

LER OS CLÁSSICOS - 146

bâteau 4

Ai quantas vezes,
ai quantas, quantas
no turvo mar,
o mar penteado
pelas rajadas
como a desordem
da cabeleira
de uma mulher,
eu suspirei,
morto em saudade
pela doçura
de regressar.


Arquíloco,séc.VII a.c
in «Poesia de 26 Séculos - De Arquíloco a Nietzsche», tradução de Jorge de Sena, Edições ASA

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14/06/11

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 96

FLORES DO CAMPO

O belo se transforma

Quem atravessa uma campina outonal, em toda parte,
Encontra as rendas da rainha Ana: - lírios
Sobre a água: magia e arte
Que ao caminhante fazem transformar
A relva seca em lago, como tua sombra mínima
Aplaina minha alma de azul lucerna.

O belo se transforma como a floresta
Que um camaleão altera a ela adaptando a pele;
Como o louva-a-deus que se assesta
Numa folha verde e nela se invagina
Tanto que mais enfolhece a folha e prova
Que o verdor é maior do que se imagina.

Tuas mãos seguram rosas como dizendo, eloqüentes,
Que as rosas não são só tuas; o belo se transforma
Tão delicadamente
Procurando a partilha
Das coisas, da alma das coisas ( para achá-las de novo )
Que, por momentos, aquilo que se toca, foge – de volta à Maravilha.

Richard Wilbur
Tradução de Jorge Wanderley

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13/06/11

Horizonte - Fernando Pessoa

NO 123º ANIVERSÁRIO DE FERNANDO PESSOA



Todos os dias descubro…
Segundo um poema de Fernando Pessoa


Todos os dias descubro
A espantosa realidade das coisas:
Cada coisa é o que é.
Que difícil é dizer isto e dizer
Quanto me alegra e como me basta
Para ser completo existir é suficiente.

Tenho escrito muitos poemas.
Claro, hei de escrever outros mais.
Cada poema meu diz o mesmo,
Cada poema meu é diferente,
Cada coisa é uma maneira distinta de dizer o mesmo.

Às vezes olho uma pedra.
Não penso que ela sente
Não me empenho em chamá-la irmã.
Gosto porque não sente,
Gosto porque não tem parentesco comigo.

Outras vezes ouço passar o vento:
Vale a pena haver nascido
Só por ouvir passar o vento.
Não sei que pensarão os outros ao lerem isto
Creio que há de ser bom porque o penso sem esforço;
O penso sem pensar que outros me ouvem pensar,
O penso sem pensamento,
O digo como o dizem minhas palavras.

Uma vez me chamaram poeta materialista.
E eu me surpreendi: nunca havia pensado
Que pudessem me dar este ou aquele nome.
Nem sequer sou poeta: vejo.
Se vale o que escrevo, não é valor meu.
O valor está aí, em meus versos.
Tudo isto é absolutamente independente de minha vontade.

Octavio Paz  
Tradução de Maria Teresa Almeida Pina
http://blogs.utopia.org.br/poesialatina/

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12/06/11

ESCREVER - 97




Não escrevas nada...

Não escrevas nada. Deixa os outros falarem,
e mesmo que eles nunca usem palavras como:
revolução, liberdade, dignidade, humilhação,
mesmo que as suas línguas sejam apenas carne
e não cítaras, ou frescos, ou espadas, permite-lhes
que falem. Deixa o sangue correr
e o fogo propagar-se, deixa o tronco da limeira engrossar,
deixa a água e o fruto extraviarem-se.
Não retenhas o teu coração,
deixa-o beber e escutar.

Jan Polkowski
(versão de Luís Parrado - em do trapézio sem rede- http://arspoetica-lp.blogspot.com/)

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11/06/11

Le temps des cerises



Cerejas, brancas,vermelhas
espalhadas pelos caminhos
sois os brincos das orelhas
das filhas dos pobrezinhos


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DE AMICITIA - 108

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Cuando un amigo se va

 Cuando un amigo se va
 queda un espacio vacío,
 que no lo puede llenar
la llegada de otro amigo.

 Cuando un amigo se va,
 queda un tizón encendido
 que no se puede apagar
 ni con las aguas de un río.

 Cuando un amigo se va,
 una estrella se ha perdido,
 la que ilumina el lugar
 donde hay un niño dormido.

 Cuando un amigo se va
 se detienen los caminos
 y se empieza a rebelar,
 el duende manso del vino.

  Cuando un amigo se va
 galopando su destino,
 empieza el alma a vibrar
 porque se llena de frío.

 
 Cuando un amigo se va,
 queda un terreno baldío
 que quiere el tiempo llenar
 con las piedras del hastío.

 Cuando un amigo se va,
 se queda un árbol caído
 que ya no vuelve a brotar
 porque el viento lo ha vencido.

 Cuando un amigo se va,
 queda un espacio vacío,
 que no lo puede llenar
 la llegada de otro amigo.

 Alberto Cortez
pode ouvir em http://www.youtube.com/watch?v=hjfH2oNsa34

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10/06/11

NO DIA DE CAMÕES QUE É TAMBÉM O DIA DE PORTUGAL


Poetas inspiram-se em Camões, homenageando-o:

 
Biblioteca Camoniana ou glosa a mote próprio

Quando meus olhos teus olhos olharam
E o meu rosto no teu rosto pousou
Todo o sonho que os sonhos sonharam
Logo se desvaneceram no que sonhou

Nada nesta vida assento merece
Tudo nesta vida é ousio fugaz
Nada fica e tudo esmorece
Tudo passa e não satisfaz

Nada é certo e tudo é incerto
Assim gira o que da vida pensamos
Querendo segurar o que segurar não podemos
Que tudo é incerto é o que de certo temos

E mais não é e para pouco serve
O que de certo temos no incerto
Desta vida o incerto leve como certo

Do desconcerto deste mundo

É já desacerto no meu lembrar
No concerto incerto de sonhar
O que por certo tomei no teu olhar

Fernando Martinho Guimarães
foto da casa onde Camões terá morrido,supostamente em 10 de junho de 1580;Rua Nova do Almada em Lisboa

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09/06/11

DA EDUCAÇÃO - 67


faça zoom para ver melhor

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08/06/11

LEITURAS - 165

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...

Acima de tudo, salta à vista a luminosidade. Luz por toda a parte. Claridade por toda a parte. Sol por toda a parte. Ainda ontem Londres outonal e chuvosa. O avião ensopado. Vento frio e escuridão. E aqui, desde manhã, todo o aeroporto banhado pelo sol, nós todos – ao sol.

Antigamente, quando os homens ainda percorriam o mundo a pé, ou a cavalo ou de barco à vela, a própria viagem preparava-os para a mudança. As paisagens desfilavam lentamente diante dos seus olhos, o cenário do mundo rodava devagar, muito devagar. A viagem durava semanas, meses. Os homens tinham tempo suficiente para se ir adaptando ao novo ambiente, à nova paisagem. Até o clima se alterava por etapas, gradualmente. Antes de chegar ao Equador escaldante, o viajante que partira da Europa fria tinha já deixado para trás o calor ameno de Las Palmas, o calor tolerável El-Mahary e o calor abrasador de cabo Verde.

Hoje, já nada resta dessas gradações. O avião arranca-nos ao gelo e à neve sem pré-aviso e lança-nos ainda no mesmo dia no abismo incandescente dos trópicos. Mal temos tempo de esfregar os olhos e já estamos em pleno inferno húmido. Começamos imediatamente a transpirar. Se chegarmos da Europa em pleno Inverno – tiramos o casaco e despimos a camisola. É este o primeiro gesto de um ritual de iniciação, quando um homem do Norte como nós chega a África.
Ryszard Kapuscinski - Ébano
 Tradução de Maria Joana Guimarães
encontrado em http://locainfecta.blogspot.com/

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07/06/11

MARLENE DIETRICH



Il a mis le café/Dans la tasse/Il a mis le lait/Dans la tasse de café/ Il a mis le sucre/Dans le café au lait/Avec la petite cuiller/Il a tourné/Il a bu le café au lait/Et il a reposé la tasse/Sans me parler//Il a allumé/Une cigarette/Il a fait des ronds/Avec la fumée/Il a mis les cendres/Dans le cendrier/Sans me parler/Sans me regarder//Il s'est levé/Il a mis/Son chapeau sur sa tête/Il a mis son manteau de pluie/Parce qu'il pleuvait/Et il est parti/Sous la pluie/Sans une parole/Sans me regarder//Et moi j'ai pris/Ma tête dans ma main/Et j'ai pleuré//

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06/06/11

DESASSOSSEGOS - 119



Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível;
com ele se entretém
e se julga intangível.

 
Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

 
Sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.
 
António Gedeão

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05/06/11

DO FALAR POESIA - 129

poesia

Bom e expressivo

Acaba mal o teu verso,
mas fá-lo com um desígnio:
é um mal que não é mal,
é lutar contra o bonito.

Vai-me a essas rimas que
tão bem desfecham e que
são o pão de ló dos tolos
e torce-lhes o pescoço,

tal como o outro pedia
se fizesse à eloquência,
e se houver um vossa excelência
que grite: — Não é poesia!,

diz-lhe que não, que não é,
que é topada, lixa três,
serração, vidro moído,
papel que se rasga ou pe-

dra que rola na pedra...
Mas também da rima «em cheio»
poderás tirar partido,
que a regra é não haver regra,

a não ser a de cada um,
com sua rima, seu ritmo,
não fazer bom e bonito,
mas fazer bom e expressivo...

Alexandre O'Neill

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04/06/11

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PENSAR - 127

filosofia


Tenho de ser eu mesmo


Tenho de ser eu mesmo. Não posso mais violentar-me por vossa causa. Se podeis amar-me pelo que sou, seremos tanto mais felizes. Se não o podeis, ainda assim procurarei fazer por merecer que o pudésseis. Não ocultarei meus gostos ou aversões. Tanto confiarei que o profundo equivale ao sagrado, que farei energicamente, perante o sol e a lua, o que me rejubile intimamente e o que o meu coração manda. Se sois nobre, eu vos amarei; se não o sois, não vos magoarei, nem a vós nem a mim mesmo com atenções hipócritas. Se sois verdadeiro, mas não compartilhais da mesma verdade que a minha, aderi aos vossos companheiros; mas eu buscarei os meus. Faço isso não por egoísmo, mas humilde e sinceramente. São os mesmos o vosso e o meu interesse, e o de todos os homens - embora de longa data vivam na mentira -, de viver na verdade. Isso vos soa ríspido hoje? Não tardareis em amar o que é ditado pela vossa natureza, assim como pela minha, e, se seguirmos a verdade, ela nos colocará finalmente a salvo. "Mas, assim infligireis sofrimentos a esses vossos amigos". Possivelmente sim, mas não posso vender minha liberdade para salvar-lhes a sensibilidade. Além do mais, todas as pessoas têm seus momentos de razão quando se voltam para a região da verdade absoluta; então, elas me justificarão e farão o mesmo.

Ralph Emerson

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03/06/11

O QUE É PRECISO

acordai trabalhadores

O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente

Gente que seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente

 
Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente

 
Gente que enterre o dente
que fira de unhas e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente

O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente

 
Ana Hatherly

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02/06/11

OS MEUS POETAS - 212

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Três ou quatro sílabas


Neste país
onde se morre de coração inacabado
deixarei apenas três ou quatro sílabas
de cal viva junto à água.

É só o que me resta
e o bosque inocente do teu peito
meu tresloucado e doce e frágil
pássaro das areias apagadas.

Que estranho ofício o meu
procurar rente ao chão
uma folha entre a poeira e o sono
húmida ainda do primeiro sol.

Eugénio de Andrade
De Véspera da Água (1973)

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01/06/11

No Dia Mundial das Crianças - 2011



http://www.youtube.com/watch?v=A_fRemms0uY&feature=related


É destes meninos de todos os bairros negros do mundo que opto por falar neste Dia Mundial das crianças .Pela voz do Zeca.

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